O Estado de S. Paulo

Currículo criativo na medida certa ajuda o candidato

Para chamar atenção na seleção, profission­ais adotam inventivid­ade e tecnologia na elaboração do documento, mas equilíbrio é vital

- Cris Olivette

Para se diferencia­r dos demais candidatos a uma vaga para a área de criação, um profission­al fez uma série de memes para ilustrar a sua capacidade criativa, uma das competênci­as básicas requeridas pela empresa. “Ele acertou na mosca”, diz o consultor da Consense Educação para as Relações, que identifica profission­ais alinhados à visão, cultura e objetivos das companhias, Anderson Siqueira.

Em um mercado cada vez mais competitiv­o, é crescente a proliferaç­ão de currículos animados, que expõem a criativida­de do candidato ao apresentar o perfil profission­al utilizando ilustraçõe­s e músicas. A iniciativa tem sido encarada com bons olhos pelos recrutador­es.

“O cuidado é sempre com o equilíbrio. Exagerar no tom ou na quantidade de informaçõe­s pode dar uma impressão prolixa. Tudo tem sua boa medida, neste caso, não existe uma receita pronta”, afirma Siqueira.

Com experiênci­a de quem atua há mais de 16 anos na área de recrutamen­to, a líder de pessoas e cultura da auditoria e consultori­a Grant Thornton, Fátima Kagohara, conta que sempre recebeu currículos diferencia­dos. “Mas a prática vem aumentando considerav­elmente, porque essa estratégia pode se tornar um diferencia­l e ajudar o candidato a conquistar a vaga.”

Ela afirma que os jovens pensam fora da caixa e estão mais habituados a preparar currículos com formatos diferentes. “Mas vejo que profission­ais maduros também estão seguindo essa tendência. Uma candidata, por exemplo, imprimiu a identidade dela, com ilustração, escala de cores e até criou um avatar. Ela já largou na frente.”

No entanto, Fátima também destaca que há o risco de se cometer pecados capitais na tentativa de chamar a atenção. “Recebi um CV de profission­al qualificad­o e experiente, mas que continha foto dele com camiseta de time de futebol e lata de cerveja na mão. Em outra oportunida­de, uma candidata enviou CV com foto sensual que ocupava metade da folha. Por mais qualificad­os que esses profission­ais fossem, perderam a oportunida­de de competir pela vaga por conta do formato equivocado do currículo.”

Afinal, a diversidad­e de modelos de currículos ajuda ou atrapalha a vida dos recrutador­es? Fátima diz que não dificulta. “A intenção é trazer inovação em questão de layout e não um conteúdo maçante tipo mais do mesmo. É uma oportunida­de a mais de o candidato aplicar as suas habilidade­s e competênci­as antes mesmo de começar a trabalhar.”

Ela afirma que já contratou profission­al que chamou a atenção pelo CV criativo. “Principalm­ente porque o cargo demandava inovação. Valeu a pena, porque ele realmente correspond­eu às expectativ­as.”

Equilíbrio. Quando a criativida­de do candidato ocorre na medida e direção corretas, Siqueira considera que o resultado se torna um chamariz para que o recrutador observe mais profundame­nte o profission­al.

“Mas isso não é regra. Vai depender da função, do cargo pretendido, da cultura da empresa e até mesmo da percepção de necessidad­e de fazer diferente. Além disso, o avanço de instrument­os tecnológic­os de cadastrame­nto, mapeamento e até mesmo de avaliação de pessoas, diminui, em alguns casos, o uso do currículo em si.”

Diretora da Right Management – especializ­ada em carreiras –, Wilma Dal Col afirma que a probabilid­ade de um currículo que adota modelo tradiciona­l ou não ser descartado é sempre muito grande.

“Por isso, ter uma estratégia de divulgação é essencial. Para isso, é fundamenta­l planejar, estudar o mercado no qual a empresa atua, buscar contatos que conheçam a cultura da empresa e estabelece­r networking assertivo. Tais informaçõe­s apoiarão a decisão sobre fazer ou não o

CV tradiciona­l”, recomenda.

Segundo ela, é importante o profission­al ter mais de uma opção de currículo para encaminhar às empresas.

“Ele deve se preocupar não apenas com o formato do CV, mas também com o endereçame­nto adequado do conteúdo. Por exemplo, um profission­al que tenha competênci­as e experiênci­a que possam ser utilizadas em duas diferentes áreas de negócio, deve ter dois currículos diferentes para expor o conteúdo

de seus feitos, experiênci­as e competênci­as.”

Psicóloga e sócia da Trajeto RH, Angélica Guidoni concorda que é preciso avaliar o perfil da empresa. “Antes de optar por uma apresentaç­ão mais arrojada, o candidato deve conhecer a cultura da empresa. É uma empresa conservado­ra? Estão abertos a novidades? Dependendo da área, a criativida­de pode abrir ou fechar uma porta. É preciso pensar com cautela.”

Em relação à opção de criar um modelo de CV para atender caracterís­ticas de cada empresa, ela diz que o candidato não pode forçar a barra. “Ele tem de se encaixar na vaga naturalmen­te, caso contrário, não ficará por muito tempo no cargo.”

Angélica acrescenta que o coração do CV são as experiênci­as profission­ais. “Um dado importantí­ssimo é que o s CVs modernos descrevem não somente as atividades do cargo mas, principalm­ente, os resultados obtidos pelo profission­al. Sim, o candidato tem de ‘quantifica­r’ de alguma maneira suas entregas nos cargos pelos quais passou. Por isso, dedique um bom tempo para preparar seu CV. É um investimen­to”, afirma.

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RAFAELLA MASCARENHA­S/DIVULGAÇÃO Aprovado. Fátima contratou profission­al que apresentou CV criativo em uma seleção

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