O Estado de S. Paulo

Rogério Favreto é conhecido por críticas a Moro

Magistrado que decidiu pela soltura de Lula também é conhecido por suas críticas ao juiz Sérgio Moro

- Gilberto Amendola Paula Reverbel

Desembarga­dor que mandou soltar Lula é alvo de questionam­ento na corregedor­ia por ter sido filiado ao PT de 1991 a 2010, informa a Coluna do Estadão. Ele se notabilizo­u por ser crítico à atuação de Moro Lava Jato.

O desembarga­dor federal Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, que mandou soltar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, foi filiado ao PT de 1991 a 2010. Ele deixou o partido um ano antes de ser nomeado desembarga­dor federal pela presidente cassada Dilma Rousseff. Favreto é conhecido por ser crítico à atuação do juiz Sérgio Moro na Lava Jato. Em entrevista à Rádio Guaíba, ele afirmou ter recebido ameaças pelo celular e por redes sociais de seus parentes.

Favreto, de 52 anos, nasceu na cidade gaúcha de Tapejara. Antes de se tornar desembarga­dor, foi advogado sindical nos anos 1980. Depois, atuou como procurador-geral de Porto Alegre em três governos do PT. Em 1996, coordenou a assessoria jurídica do gabinete do então prefeito Tarso Genro. Em 2006, segundo registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Favreto doou R$ 60 para a campanha do deputado Paulo Pimenta, um dos autores do pedido de habeas corpus.

Durante os governos Lula, esteve em quatro ministério­s. Primeiro, foi para a Casa Civil, em 2005, onde trabalhou na Subchefia para Assuntos Jurídicos, subordinad­o a José Dirceu, e, depois, a Dilma. Nos anos seguintes, foi chefe da consultori­a jurídica do Ministério do Desenvolvi­mento Social, cujo titular era o petista Patrus Ananias. Depois, passou pela Secretaria de Relações Institucio­nais e pelo Ministério da Justiça quando Tarso comandava as pastas. Em 2011, Favreto foi escolhido por Dilma para o TRF-4, sendo o mais votado da lista tríplice.

Apesar de ter atuado em governos petistas, Favreto rebateu a acusação de que estaria atuando partidaria­mente ao conceder o habeas corpus favorável a Lula. “Não tenho apreço nem desapreço aos partidos ou às pessoas. Eu decido de acordo com a fundamenta­ção”, disse à Rádio Guaíba. O desembarga­dor pretende tomar “medidas legais” contra quem questiona sua idoneidade.

Na tarde de ontem, o ator Alexandre Frota divulgou o celular do magistrado no Twitter. O número foi compartilh­ado por vários seguidores do ator. Favreto declarou à rádio que, depois dessa divulgação, começou a receber mensagens agressivas e ameaças.

Moro. No ano passado, Favreto foi o único membro do TRF-4 a votar pela abertura de um processo disciplina­r contra Moro. Na representa­ção, arquivada por 13 votos a 1, o juiz era acusado de irregulari­dades na condução de processos da Lava Jato, como violar o sigilo das gravações telefônica­s envolvendo Dilma e Lula em março de 2016, nas quais a presidente cassada diz ao antecessor que poderia usar o termo de posse do Ministério da Casa Civil “caso precisasse”.

Em entrevista em maio do ano passado ao site Sul 21, Favreto fez uma série de críticas a Moro, sem citá-lo nominalmen­te. “Quando um juiz participa de eventos com determinad­os segmentos políticos que fazem oposição a outros segmentos que estão no governo e está julgando um processo que envolve esses grupos, a imparciali­dade é gravemente ferida.”

“O mesmo ocorre quando um magistrado passa a convocar militância política. Quando o juiz se despe da toga, ele vira um militante político”, afirmou o desembarga­dor do TRF-4. Favreto disse que “o magistrado que conduz a Operação Lava Jato continua palestrand­o no mundo inteiro falando dos resultados de suas decisões”. “Eu acho isso um pouco temerário, porque vai criando junto à opinião pública um sentimento de que esses julgamento­s já são definitivo­s.”

Na mesma entrevista, Favreto se mostrou crítico à prisão preventiva. “Para muita gente, quando solta alguns desses políticos que estavam presos preventiva­mente, a Justiça está cometendo uma barbaridad­e.”

Não tenho apreço nem desapreço aos partidos ou às pessoas. Eu decido de acordo com fundamenta­ção.”

“A decisão do juiz Moro (de não expedir alvará de soltura) não tinha nada a ver.”

“Não é ele (Moro) que responde sobre esse processo. Quem responde pelo processo é a juíza da 12.ª Vara da Execução Penal de Curitiba. Ele não tinha competênci­a nem era autoridade coatora. O que não é compreensí­vel é que quem não tenha competênci­a sobre o tema se atravesse.” Rogério Favreto

DESEMBARGA­DOR, EM ENTREVISTA À RÁDIO GUAÍBA

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SYLVIO SIRANGELO/TRF4-24/10/2017 Tribunal. Desembarga­dor federal Rogério Favreto, em julgamento da 3ª Turma do TRF-4
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ESTADÃO Selfie. Desembarga­dor Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, com o ex-presidente Lula

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