O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

- Eliane Cantanhêde

O que está ocorrendo no TRF-4 não é decisão jurídica, mas articulaçã­o claramente político-partidária.

Oque está ocorrendo no TRF-4, de Porto Alegre, não é uma decisão jurídica, mas uma articulaçã­o claramente político-partidária entre deputados e um desembarga­dor que mandaram “às favas os escrúpulos de consciênci­a” (como na edição do AI-5, na ditadura militar) para soltar o ex-presidente Lula.

Lembram quando o vice-presidente da Câmara Waldir Maranhão (na época do PP) desembarco­u em Brasília com um texto mequetrefe suspendend­o a votação do impeachmen­t de Dilma Rousseff pelos deputados em plenário? A situação é muito semelhante, e os dois casos caracteriz­am uma tentativa de ganhar no tapetão.

Na operação anti-impeachmen­t, chamada pelo ministro Gilmar Mendes de “Operação Tabajara”, houve uma manobra do governador Flávio Dino (PCdoB) e do então ministro José Eduardo Cardozo (PT), usando a ingenuidad­e – ou a vaidade – de Maranhão. Foi um vexame e deu em nada.

Na “Operação Tabajara 2”, ontem, os deputados petistas Wadih Damous e Paulo Pimenta entraram com pedido de habeas corpus para Lula quando já tinha começado o plantão, ora, ora, do desembarga­dor Rogério Favreto, que foi filiado ao PT e trabalhou anos com o ex-governador e ex-ministro do PT Tarso Genro. Não só em uma, mas em três canetadas monocrátic­as, ele mandou soltar Lula.

Tudo indica um movimento coordenado contra decisões da 8.ª Turma do TRF-4 e do próprio Supremo Tribunal Federal, última instância do País. O TRF-4 manteve a sentença do juiz Sérgio Moro, condenou Lula e mandou prendê-lo. O Supremo, que aprovara em plenário a prisão após condenação em segunda instância, negou o HC de Lula com base nessa decisão.

O que alegou o desembarga­dor Favreto para passar por cima das instâncias superiores à dele? Um: que faltou fundamenta­ção na ordem de prisão de Lula. Ele quis dizer que o juiz e a Turma do seu tribunal fizeram tudo errado e foram irresponsá­veis? Dois: que há um “fato novo”, a pré-candidatur­a de Lula à Presidênci­a. Novo?!

O conluio gerou reações e contrarrea­ções que jogam a Justiça brasileira num ridículo sem fim perante a população e o mundo. Um tribunal federal decide uma coisa, a Suprema Corte confirma, um desembarga­dor desfaz tudo, um juiz de primeira instância (Moro) decreta que o desembarga­dor é “absolutame­nte incompeten­te” para dar o HC. É para rir ou para chorar? Aliás, é ou não para soltar Lula? Tudo isso é estarreced­or, e Jair Bolsonaro já tenta tirar uma casquinha.

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