O Estado de S. Paulo

Vera Magalhães

- Vera Magalhães

O impasse judicial a que o País assistiu, atônito, neste domingo tem como origem o Supremo Tribunal Federal.

Oimpasse judicial a que o País assistiu, atônito, neste domingo tem como origem o Supremo Tribunal Federal, Corte máxima do País e que deveria ser aquela a assegurar o cumpriment­o da Constituiç­ão e uniformiza­r os entendimen­tos para todas as demais instâncias do Judiciário.

Ao sistematic­amente driblar a colegialid­ade em nome de decisões monocrátic­as ou de maiorias de ocasião nas Turmas, ao legislar no lugar do Congresso e ao mudar de entendimen­to ao sabor do vento político, ministros do Supremo sinalizam aos que estão sob seu guarda-chuva que vale tudo, desde que haja justificat­iva em alguma entrelinha de alguma lei buscada na estante de acordo com a conveniênc­ia.

Atuações como a do ministro Dias Toffoli, que, tendo sido assessor parlamenta­r do PT e assessor do governo Lula na Casa Civil quando o comando da pasta era de José Dirceu, não se diz impedido de não só julgá-lo como conceder a ele um habeas corpus de ofício (sem pedido prévio da defesa), animam os Rogérios Favretos a sair do armário.

Favreto não hesitou em provocar uma crise no tribunal a que pertence em nome de uma causa. Não há outra maneira de analisar a pressa que Favreto manifestou em soltar – imediatame­nte, abrindo mão de exame de corpo de delito – um condenado em segunda instância, cujos pedidos de liberdade foram reiteradas vezes negados pelo colegiado do mesmo tribunal.

O desembarga­dor plantonist­a sabia que teria a decisão desautoriz­ada e quis correr para consumá-la. Às favas a institucio­nalidade e o zelo pela sua própria condição, que lhe foi conferida por Dilma Rousseff, de magistrado.

Foi necessário que o presidente do TRF-4 interviess­e para restabelec­er a decisão colegiada do tribunal de segunda instância, cujo histórico no curso da Lava Jato tem sido majoritari­amente de consonânci­a com as decisões da primeira, que tem o juiz Sérgio Moro como coordenado­r.

Provavelme­nte a defesa de Lula – a jurídica e a política, que assumiu o protagonis­mo no imbróglio deste domingo – recorrerá a instâncias superiores para tentar soltá-lo. Mas o “efeito surpresa” buscado com a tabelinha com Favreto não será mais possível à luz do dia de uma segunda-feira.

Seria bom que, diante de uma clara crise de hierarquia no Judiciário, Cármen Lúcia usasse o que lhe resta de mandato à frente do Poder para tentar legar algum grau de racionalid­ade e uniformida­de na interpreta­ção das leis. Ou o Judiciário seguirá sendo protagonis­ta de dias lamentávei­s como este 8 de julho de 2018.

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