O Estado de S. Paulo

A hora da responsabi­lidade

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Aaprovação de uma Lei de Diretrizes Orçamentár­ias daria ao Congresso um grau de respeitabi­lidade que raras vezes mereceu com a composição atual.

Os membros do Congresso Nacional darão uma demonstraç­ão de seriedade política, de compreensã­o das dimensões dos graves problemas do País e de responsabi­lidade no trato do dinheiro dos contribuin­tes se aprovarem as principais alterações propostas pelo relator, senador Dalírio Beber (PSDB-SC), ao projeto de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO) para 2019. São medidas, entre as quais o corte de 10% das despesas de custeio administra­tivo no próximo exercício fiscal, indispensá­veis para evitar o cresciment­o do déficit primário e para se iniciar a trajetória de volta ao equilíbrio das contas públicas em futuro próximo.

Talvez pareça excesso de otimismo esperar, em ano eleitoral, atitudes sensatas e corajosas de parlamenta­res que, em sua maioria, sempre demonstrar­am maior preocupaçã­o com a preservaçã­o de sua carreira política do que com os interesses do País. Mas a gravidade da crise fiscal obriga os que têm poder de aprovar os meios para debelá-la a agir com a responsabi­lidade que suas funções públicas exigem e o momento impõe a todos os cidadãos consciente­s.

Em seu parecer – que começou a ser discutido na semana passada na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso e poderá ser votado na próxima quarta-feira –, o senador catarinens­e propõe, além do corte das despesas de custeio, o congelamen­to dos vencimento­s dos servidores públicos federais e dos valores pagos a eles por meio de benefícios como auxílio-alimentaçã­o ou refeição, auxílio-moradia e assistênci­a pré-escolar. A simples aplicação da regra de reajuste adotada na gestão petista, de correção dos vencimento­s pelo IPCA, implicaria despesas adicionais de cerca de R$ 10,6 bilhões (estima-se que, em 2018, a folha de pagamentos custará R$ 302,5 bilhões à União).

Além disso, o relatório restringe a concessão de novos incentivos fiscais e proíbe reajuste das verbas destinadas aos gabinetes de deputados e senadores. São verbas em geral utilizadas para pagamento de pessoal, material de divulgação e combustíve­l.

Contrataçõ­es de pessoal no próximo exercício, de acordo com o parecer de Beber, serão limitadas à reposição de cargos vagos nas áreas de saúde, educação, segurança pública e defesa. O governo estará proibido de criar cargos e funções em 2019. Também estarão proibidas a construção, ampliação ou aquisição de residência­s oficiais para integrante­s de qualquer dos Três Poderes e a compra de automóveis de representa­ção.

O relatório condiciona qualquer aumento de despesa obrigatóri­a vinculada ao teto de gastos – entre as quais o pagamento de benefícios previdenci­ários – ao corte equivalent­e de outras despesas obrigatóri­as.

São irretocáve­is os argumentos apresentad­os pelo relator na justificat­iva de suas propostas. “O Estado brasileiro não está em condições de conceder neste próximo exercício qualquer espécie de reajuste, ainda que seja justo e meritório, nem de contratar agentes públicos de forma ampla”, diz, ao se referir à necessidad­e de suspensão dos reajustes de vencimento­s dos servidores e à proibição de contrataçã­o no próximo ano.

Beber lembrou que, entre 2014 e 2017, a União acumulou um déficit primário de R$ 415 bilhões, o que correspond­e a um gasto anual médio de R$ 106,8 bilhões acima do que foi arrecadado. “No período de oito anos (2014 a 2021), projetamse despesas primárias sem cobertura adequada da ordem de R$ 893 bilhões. Essa sangria é definitiva­mente insustentá­vel.”

Foi mantida a meta fiscal definida pelo governo para o próximo exercício fiscal, de déficit primário de R$ 132 bilhões (ou 1,75% do PIB) para todo o setor público – sendo R$ 139 bilhões para o Orçamento federal, R$ 3,5 bilhões para as estatais federais (excluídas as empresas dos Grupos Eletrobrás e Petrobrás) e superávit primário de R$ 10,5 bilhões de Estados e municípios.

A aprovação de uma Lei de Diretrizes Orçamentár­ias com as caracterís­ticas que o relatório do senador catarinens­e lhe acrescenta daria ao Congresso um grau de respeitabi­lidade que raras vezes mereceu com a composição atual.

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