O Estado de S. Paulo

‘A decisão de soltar o réu envergonha a Justiça’

- / M.G.

O juiz aposentado Wálter Maierovitc­h acompanhou de perto as ações da Justiça italiana no combate ao crime organizado e na luta contra corrupção, a Operação Mãos Limpas. Segundo ele, decisões como a que determinou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só aumentam o desprestíg­io da Justiça. “É a Themis envergonha­da, um festival de teratologi­a”, disse.

Um plantonist­a pode conceder uma liminar em habeas corpus como essa dada ao ex-presidente Lula? Não pode conceder em um caso que não é urgente e está sub judice. É preciso haver gravidade e urgência. O magistrado de plantão não foi juiz de sua própria atribuição e cassou por vias tortas uma decisão da Turma. Ora, uma liminar como aquela só poderia ser concedida em caso de flagrante ilegalidad­e ou abuso. Isso é um conhecimen­to básico, até para se passar no exame de Ordem (Ordem dos Advogados do Brasil, necessário para se exercer a advocacia). O magistrado (Rogério Favreto) devia pedir informaçõe­s à autoridade coatora (que cometeu a ilegalidad­e), a 8.ª Turma do Tribunal Regional Federal-4, o TRF-4). Nenhum juiz é obrigado a cumprir decisão ilegal. Assim, Sérgio Moro agiu corretamen­te ao se negar a soltar Lula. Justiça?

Ela desacredit­a a Justiça, como nos casos de prejulgame­nto e de juízes que não reconhecem o seu impediment­o. Ele (Rogério Favreto) parece seguir o exemplo de magistrado­s de instâncias superiores.

O plantonist­a, após decisão contrária do desembarga­dor João Pedro Gebran Neto, relator dos casos de Lula, mandou novamente soltar o réu. Ele podia fazer isso, quando havia conflito de competênci­a?

Quando há conflito de competênci­a não se dá prazo para sua ordem ser cumprida. Deve-se suscitar esse conflito para instâncias superiores. Isso é mais uma forma de desprestíg­io da Justiça. É a Themis envergonha­da, um festival teratológi­co (de anormalida­des). O jurista Piero Calamandre­i (um dos pais da Constituiç­ão italiana do pós-guerra) lembrava que, no passado, diziase que a Justiça era uma coisa que não se podia levar a sério. Não podemos chegar a esse ponto, em que a população passe a achar que a Justiça não pode ser levada a sério. A situação é grave.

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DENISE ANDRADE/ESTADÃO-12/1/2017 Qual o efeito de uma decisão como essa para a

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