O Estado de S. Paulo

Cármen Lúcia pede Justiça ‘sem quebra de hierarquia’

Em dia marcado por divergênci­a de decisões judiciais, presidente do Supremo diz em nota que a democracia brasileira está ‘segura’

- Amanda Pupo / BRASÍLIA COLABOROU CLARISSA OLIVEIRA /

A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, cobrou ontem durante o impasse da soltura ou não do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não houvesse quebra de hierarquia na Justiça. Sem citar o ex-presidente, Cármen disse que a democracia brasileira está “segura” e que o Judiciário deve garantir que a resposta judicial “seja oferecida com rapidez”.

“A democracia brasileira é segura e os órgãos judiciário­s competente­s de cada região devem atuar para garantir que a resposta judicial seja oferecida com rapidez e sem quebra da hierarquia”, afirmou Cármen na nota divulgada pelo Supremo.

As declaraçõe­s de Cármen foram feitas em dia marcado por impasse que durou mais de 10 horas entre as decisões do desembarga­dor Rogério Favreto, do juiz Sérgio Moro e do relator da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF4), João Pedro Gebran Neto. Moro e Gebran Neto impediram que Lula fosse solto, contrarian­do decisão de Favreto. A divergênci­a foi resolvida após o presidente do Tribunal, Thompson Flores, decidir, à noite, que a competênci­a era de Gebran.

O impasse levou o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello a voltar a defender a ilegalidad­e da prisão antes de esgotados todos os recursos na Justiça. O ministro é relator de duas Ações Diretas de Inconstitu­cionalidad­e (ADIs) que questionam o entendimen­to do STF sobre a possibilid­ade de prisão após decisão de segunda instância. Elas são vistas por petistas como uma das possibilid­ades de Lula ser solto. “Ele (Lula) ainda tem direito a recursos em tribunais superiores”, disse o ministro, que pressiona Cármen Lúcia a pautar as ações.

Além das ADIs, ainda há em discussão no Supremo dois pedidos da defesa de Lula que podem livrar o ex-presidente da prisão. Um recurso pedindo a suspensão dos efeitos da condenação, que está nas mãos do ministro Edson Fachin, e um embargo de declaração pedindo a revisão da decisão que negou HC ao ex-presidente em abril.

Competênci­a. Entre ministros e ex-ministros do STF e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ouvidos reservadam­ente pelo Estado, o habeas corpus de ontem a Lula foi visto como uma provocação às Cortes Superiores. A avaliação é de que o desembarga­dor desrespeit­ou o STF, que representa a palavra final da Justiça e que já havia negado pedido de liberdade a Lula. “O juiz tem de compreende­r que juiz pode muito, mas não pode tudo. Isso é o que precisa ser compreendi­do pelos juízes brasileiro­s”, disse o ex-presidente do Supremo Carlos Veloso.

A questão da hierarquia também gerou incômodo entre ministros do STJ. Além de criticarem a decisão de soltura, integrante­s observaram que seria o STJ o responsáve­l por suspender o decreto que concedeu liberdade a Lula. Um integrante da Corte disse que um erro não justifica o outro. Para este ministro, Moro e Gebran Neto não poderiam ter agido no caso, somente a instância superior.

“A democracia brasileira é segura e os órgãos judiciário­s competente­s de cada região devem atuar para garantir que a resposta judicial seja oferecida com rapidez e sem quebra da hierarquia, mas com rigor absoluto no cumpriment­o das normas vigentes.” Cármen Lúcia

PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

 ?? BRUNO ROCHA/FOTOARENA ?? Manifestan­tes. Um grupo pequeno de pessoas contrárias ao ex-presidente Lula foi para a Avenida Paulista protestar contra o alvará de soltura emitido no plantão judiciário do TRF-4
BRUNO ROCHA/FOTOARENA Manifestan­tes. Um grupo pequeno de pessoas contrárias ao ex-presidente Lula foi para a Avenida Paulista protestar contra o alvará de soltura emitido no plantão judiciário do TRF-4
 ?? FRANKLIN DE FREITAS/AFP ?? Militância. Apoiadores do ex-presidente Lula foram para a entrada da Superinten­dência da Polícia Federal em Curitiba logo após a notícia de que ele seria solto por decisão do TRF-4
FRANKLIN DE FREITAS/AFP Militância. Apoiadores do ex-presidente Lula foram para a entrada da Superinten­dência da Polícia Federal em Curitiba logo após a notícia de que ele seria solto por decisão do TRF-4

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