O Estado de S. Paulo

Recurso foi apresentad­o à revelia da defesa de Lula

Deputados que entraram com pedido passaram a adotar estratégia com ênfase na política sem consultar advogados

- Vera Rosa / BRASÍLIA

A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi pega de surpresa com a estratégia traçada pelos deputados petistas Wadih Damous, Paulo Teixeira e Paulo Pimenta, que, na noite de sexta-feira, entraram com pedido de libertação do petista no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). O trio de advogados “atropelou” a equipe de criminalis­tas e adotou estratégia com ênfase mais política.

Desde o mês passado, quando os desentendi­mentos entre Cristiano Zanin Martins e o exministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence vieram à tona, a direção do PT entrou em estado de alerta. Nos bastidores, há comentário­s de que Sepúlveda tem sido “isolado” pelo grupo de Zanin e quer conversar com Lula para ver se continua ou não em sua defesa.

Ao ingressare­m com o habeas corpus, Damous, Teixeira e Pimenta alegaram, entre outros argumentos, que há “flagrante ausência da necessidad­e da prisão antecipada” para o pré-candidato do PT à Presidênci­a. Mesmo preso pela Lava Jato desde 7 de abril – após condenação a 12 anos e 1 mês em regime fechado, por corrupção e lavagem de dinheiro –, o ex-presidente ainda lidera as pesquisas de intenção de voto.

O impasse jurídico para cumpriment­o da decisão do desembarga­dor Rogério Favreto – que determinou ontem a soltura de Lula – será usado agora pelo PT para reforçar o discurso de que o ex-presidente é “vítima de perseguiçã­o política”. A estratégia do comando petista é partir para o “tudo ou nada”, a menos de três meses das eleições, apontando até mesmo para a ameaça de crise institucio­nal.

“O habeas corpus é um remédio jurídico que pode ser usado por qualquer pessoa”, disse Teixeira, negando que ele e seus colegas tenham “atropelado” a defesa de Lula. “Conversamo­s e achamos melhor agir assim. Mas estamos vendo uma flagrante desobediên­cia a uma ordem judicial, o que caracteriz­a estado de exceção”, afirmou o parlamenta­r.

Teixeira, Damous e Pimenta confirmara­m que o PT vai protocolar uma representa­ção no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o juiz Sérgio Moro e também contra o desembarga­dor

João Pedro Gebran Neto, relator da Lava Jato no TRF-4. Gebran Neto suspendeu decisão de Favreto, que estava de plantão e mandou soltar Lula. Da mesma forma que Moro, de férias em Portugal, o desembarga­dor entendeu que a prisão do petista não poderia ser revogada por uma canetada.

‘Chicana’. A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), convocou os militantes a irem às ruas exigir a soltura de Lula. Nas redes sociais, ela disse que Moro fez “chicana”. Depois, em nota, afirmou haver uma “vergonhosa anarquia do Judiciário”. Gleisi atacou a Polícia Federal, Moro, Gebran Neto e o presidente do TRF-4, Thompson Flores. “Chegamos a uma situação em que o País não tem mais segurança jurídica, vivendo um verdadeiro caos institucio­nal”, declarou.

O PT fará hoje uma reunião de emergência, em São Paulo, para definir os próximos passos da campanha. Até agora, o partido não fala oficialmen­te sobre “plano B” para substituir Lula. A ideia é capitaliza­r politicame­nte os obstáculos e registrar a candidatur­a do ex-presidente em 15 de agosto, último dia do prazo. Tudo indica que Lula será barrado pela Lei da Ficha Limpa, mas o PT aposta no seu poder de transferên­cia de votos. O mais cotado para entrar no lugar do petista é o ex-prefeito Fernando Haddad, coordenado­r do programa de governo.

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DENIS FERREIRA NETTO/ESTADÃO Autor. Wadih Damous é advogado e deputado federal

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