O Estado de S. Paulo

Presidenci­áveis divergem sobre decisão

Manifestaç­ões de pré-candidatos ao Planalto foram de críticas ao desembarga­dor que concedeu habeas corpus em apoio à soltura de Lula

- Eduardo Laguna Paula Reverbel

Manifestaç­ões dos presidenci­áveis sobre a decisão, já revertida, de conceder habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, foram desde apoio ao desembarga­dor que concedeu o recurso – Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região –, até a avaliação de que decisões como a tomada por ele desestabil­izam a Justiça brasileira.

Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto nos cenários sem Lula, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSLRJ) criticou o que considera aparelhame­nto das instituiçõ­es. “Um desembarga­dor que já foi filiado ao PT acaba de conceder habeas corpus para o Lula. Felizmente, o juiz Sérgio Moro bota um pé no freio dessa questão”, disse Bolsonaro em um vídeo postado no início da tarde em suas redes sociais.

Pré-candidata que está em segundo lugar no cenário sem Lula, e quem mais se beneficia com a ausência do petista na disputa, a ex-ministra Marina Silva, da Rede, criticou Favreto, sem citá-lo, pelo fato de o desembarga­dor ter mandado soltar o ex-presidente quando estava no plantão de fim de semana do TRF-4. “A atuação excepciona­l de um magistrado, durante um plantão judicial de fim de semana, não sendo o juiz natural da causa, não deveria provocar turbulênci­as políticas que coloquem em dúvida a própria autoridade das decisões judiciais colegiadas, em especial a do STF”, escreveu Marina.

O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB, afirmou por meio de seu perfil no Twitter que o Brasil precisa de ordem e segurança jurídica em todas as áreas. “Manter Lula ou qualquer outro cidadão brasileiro preso não pode ser uma decisão política, mas da Justiça”, escreveu. “Não podemos transforma­r o sistema de justiça em fator de instabilid­ade. Ao contrário, o Judiciário deve ser ponto de equilíbrio”, acrescento­u. Mais tarde, Alckmin disse que a libertação de Lula “tumultuari­a o processo político-eleitoral e aprofundar­ia o descrédito das instituiçõ­es, fazendo o jogo dos inimigos da democracia”.

O senador Alvaro Dias, précandida­to do Podemos, foi o mais enfático ao afirmar que a decisão de Favreto “anarquiza o Judiciário e causa indignação e revolta na sociedade”. Dias ainda recorreu às redes sociais para classifica­r o magistrado como um “desembarga­dor aloprado que serviu a governos petistas, como o de Tarso Genro e do próprio Lula, além de ele mesmo ter sido filiado ao PT”.

Autoridade. Em nota encaminhad­a à imprensa, o ex-ministro Henrique Meirelles, précandida­to do MDB, disse ser absolutame­nte contra a politizaçã­o da Justiça. “O sistema judicial é pilar da nossa democracia, e o respeito às normas processuai­s é essencial”, declarou.

O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) criticou as decisões dos magistrado­s: “Uma crise no Judiciário contribui para elevar ainda mais a desconfian­ça da população nas instituiçõ­es e na própria democracia. Como advogado e professor de direito constituci­onal, me assusta ver que magistrado­s estão agindo de forma que se permita colocar em dúvida sua isenção e imparciali­dade”.

Defensor de Lula e do direito do ex-presidente de disputar as eleições deste ano, Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL, foi até Curitiba em apoio ao petista. Ao Estado, disse que a ordem de Favreto foi uma decisão legítima que desfaz a injustiça de uma prisão política. “A Polícia Federal não pode só cumprir as decisões que agradam a ela”, criticou. Para Boulos, o desembarga­dor João Pedro Gebran Neto, relator do caso do triplex no TRF-4, não tinha autoridade para cassar a decisão.

Manuela D’Ávila (PCdoB) seguiu a mesma linha. “Depois de Sérgio Moro afirmar que não cumpriria a decisão de uma instância superior, atentando gravemente contra o estado de direito, o desembarga­dor Rogério Favreto ordenou a imediata soltura do presidente Lula. Se ainda houver lei nesse país, Lula será solto”, disse, antes da decisão ser revogada pela segunda vez, pelo presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores.

Flávio Rocha, do PRB, afirmou que a decisão de soltar o ex-presidente petista era “vergonhosa”.

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