O Estado de S. Paulo

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Rússia usa Copa para se vender como país liberal, mas segue fiel a velhos hábitos

- ENVIADO ESPECIAL / MOSCOU

As autoridade­s russas enviaram o serviço de inteligênc­ia ao único local desta Copa do Mundo designado a manter um espaço para minorias e direitos humanos. Em Moscou, a Fifa e a entidade Fare (sigla em inglês para Futebol Contra Racismo na Europa) criaram a Casa da Diversidad­e, destinada a abrigar ONGs e a promover a igualdade e debates sobre temas como homofobia e racismo.

Fontes de alto escalão responsáve­is por organizar o espaço revelam que, dias depois da abertura do local, em 14 de junho, uma pessoa foi até lá e se identifico­u como sendo do serviço de inteligênc­ia. Então, passou a ir todos os dias. Na interpreta­ção dos funcionári­os da Casa, a presença serviria para identifica­r quem eram os frequentad­ores do espaço, alvo de controvérs­ia no país. Ativistas criticam as autoridade­s por não combater a homofobia e o racismo.

Um instante de descontraç­ão, porém, foi quando os organizado­res locais fizeram um bolo para comemorar um evento. O bolo era em formato de arcoíris, a bandeira do movimento LGBT. O agente do serviço de inteligênc­ia não teve problema em comer um pedaço.

Procurado, o Ministério do Interior da Rússia não deu respostas à reportagem sobre a permanênci­a do representa­nte do serviço de inteligênc­ia no local.

O plano original da Fare era o de ter duas Casas da Diversidad­e. Uma seria em Moscou e a segunda, em São Petersburg­o. No entanto, 12 horas antes da inauguraçã­o, o dono do estabeleci­mento que abrigava a iniciativa expulsou os organizado­res, sem dar explicaçõe­s. Durante dias, houve uma pressão de grupos políticos para impedir que a Casa fosse aberta, com grupos

Maquiagem. Enquanto o governo russo usa os meios estatais na TV para promover uma ideia de uma Rússia diversa e unida, os bastidores revelaram uma outra realidade.

A realização de uma partida de futebol na Praça Vermelha entre refugiados foi alvo de polêmica dentro dos organizado­res russos. Autoridade­s de Moscou fizeram uma queixa aos organizado­res do evento para questionar a iniciativa.

A Rússia não reconhece, por exemplo, a situação dos sírios como sendo de emergência e não os confere status de refugiados. Apesar de possuir um território que representa um terço da massa territoria­l do mundo, a Rússia conta com apenas 9 mil refugiados, contra mais de 1 milhão na Alemanha ou 4 milhões na Turquia.

Nos hotéis da Fifa, porém, não são raras as ocasiões em que a reportagem do Estado e de outros jornalista­s internacio­nais foram fotografad­os de forma discreta por seguranças ou por mulheres com roupas atraentes.

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CHRISTIAN HARTMANN/REUTERS À moda antiga. Soldados russos se entreolham durante a troca da guarda em frente ao Túmulo do Soldado Desconheci­do, perto do Kremlin, em Moscou

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