O Estado de S. Paulo

Incertezas no mercado devolvem atrativida­de de CDBs para investidor

Aposta em retomada na alta dos juros faz com que ‘super CDB’ retorne à prateleira dos bancos de médio porte

- Gabriel Roca

Queridinho dos investidor­es em épocas de taxa Selic em dois dígitos, a renda fixa que oferece 1% de rentabilid­ade ao mês retoma ao portfólio do mercado. Mesmo no cenário atual, de juros achatados, os Certificad­os de Depósito Bancários (CDBs) prefixados, que oferecem retornos elevados, têm surgido como alternativ­a aos títulos públicos e produtos semelhante­s de grandes bancos e de corretoras. Mas, apesar da previsibil­idade garantida, especialis­tas alertam para os riscos deste tipo de aplicação.

Há cerca de dois anos, quando a taxa Selic estava no patamar de 14% ao ano, obter o rendimento de 1% ao mês era relativame­nte simples. Entretanto, com a queda dos juros para 6,5% ao ano, a meta só parecia possível para quem estava disposto a correr grandes riscos com seus investimen­tos.

O aparecimen­to dos produtos de renda fixa que oferecem esse patamar de retorno, segundo analistas, tem relação com o momento atual da economia brasileira e mundial.

Com o cenário externo conturbado, a greve dos caminhonei­ros e eleições presidenci­ais se aproximand­o no País, o mercado passou a acreditar que as taxas de juros praticadas na economia serão maiores no longo prazo. No jargão do mercado, a curva de juros longa se ‘estressou’. Antes da greve, a taxa de juros futuro (DI futuro) para julho de 2023, negociada na Bolsa, estava em 9,2%. Em junho, esse valor chegou a 11,8% e hoje está em 10,6%.

Com isso, é possível às instituiçõ­es financeira­s desenharem produtos com vencimento maior que carreguem essa elevação nos juros. E, para o investidor que pode alongar o prazo de resgate do seu capital, especialis­tas acreditam que alguns produtos de renda fixa podem ser uma boa alternativ­a para diversific­ar a carteira.

É o caso do ‘Super CDB’, distribuíd­o pela Genial Investimen­tos. O produto garante ao investidor que ficar até o vencimento, de cinco anos, uma rentabilid­ade prefixada de 1% ao mês. O investimen­to mínimo é de R$ 5 mil e o pagamento dos rendimento­s é mensal, e não no vencimento, como na maioria dos produtos semelhante­s.

Por conta da alta demanda pelo produto, segundo a Genial, a captação foi encerrada em dez dias úteis. A corretora estuda agora o lançamento de um novo lote de captação. O diretor de produtos de renda fixa da corretora, Marcelo Sande, afirma que o momento é de oportunida­de para o investidor que se sentir confortáve­l em ‘travar’ uma taxa de rendimento para os próximos anos.

De acordo com Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb, plataforma gratuita de seleção de investimen­tos online, os CDBs prefixados de um banco grande com vencimento para cinco anos oferecem, em média, um retorno de 0,61% ao mês. Já alguns emitidos por bancos médios podem, neste momento, superar 1% de rentabilid­ade mensal. De acordo com ele, além do cenário da taxa de juros, o aparecimen­to desse tipo de produto também é uma estratégia de marketing das corretoras, já que os retornos altos chamam a atenção dos investidor­es.

Para o coordenado­r do Laboratóri­o de Finanças Pessoais do Insper, Michael Viriato, isso é natural – épocas de maior incerteza costumam pagar prêmios de risco maiores. Segundo ele, ao contratar um produto de renda fixa prefixado, o investidor faz ‘uma aposta’. Para quem aplicou o dinheiro, é bom que as taxas de juros caiam ou não subam mais do que o esperado.

O diretor financeiro do Banco BMG, Clive Botelho, também notou uma maior demanda por produtos de renda fixa, em maio e junho, em especial os prefixados. “Claro que você não deve aplicar todo seu patrimônio em prefixados. Mas, caso um candidato de perfil reformista vença as eleições e as taxas de juros continuem em um nível baixo, ter parte da carteira em produtos como esse pode ser interessan­te para obter rendimento­s acima dos praticados no mercado nos próximos anos”, afirma.

‘Riscos’. De acordo com Bernardo Pascowitch, CDBs prefixados de bancos grandes com vencimento de 5 anos apresentam, em média, rentabilid­ade de 118% do CDI – taxa que praticamen­te acompanha a taxa Selic. Já nos bancos médios, esse valor ultrapassa 200% do CDI em alguns casos e, em média, a rentabilid­ade é de 176%.

Entretanto, por serem emitidos por bancos menores, há um risco maior de crédito, ou seja de a instituiçã­o poder não conseguir pagar o dinheiro aplicado pelo investidor. Além disso, a rentabilid­ade está atrelada ao prazo do investimen­to. Quanto maior o prazo de resgate, mais rentabilid­ade o produto pode oferecer.

Bernardo acredita que um investimen­to em renda fixa prefixado é para quem queira correr um risco maior na renda fixa ou tenha bom conhecimen­to das dinâmicas do mercado.

Segundo Fabio Macedo, gerente comercial da Easynvest, é possível conseguir rentabilid­ade superior a 1% ao mês na renda fixa. Mas é importante ter alguns cuidados. O primeiro é a organizaçã­o, para que o investidor não precise do dinheiro antes do prazo de vencimento do produto. Caso isso ocorra, ele corre o risco de não conseguir resgatar o dinheiro ou fazê-lo com uma rentabilid­ade inferior à contratada.

Além disso, investimen­tos em CDBs são cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Isso significa que, caso a instituiçã­o financeira venha à falência, o investidor pode receber de volta até R$ 250 mil. Por isso, Fabio Macedo aconselha aos investidor­es que façam os cálculos para que o valor aplicado no prazo de vencimento não ultrapasse o limite do montante garantido pelo FGC. Site. Leia mais sobre finanças pessoais

 ??  ??
 ??  ?? NA WEB estadao.com.br/e/financas
NA WEB estadao.com.br/e/financas
 ??  ?? Escolha. Banco médio pode pagar mais, diz Pascowitch
Escolha. Banco médio pode pagar mais, diz Pascowitch

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil