O Estado de S. Paulo

Com antagonist­a, a família disfuncion­al de ‘Drac’ diverte mais

- CRÍTICA: Luiz Carlos Merten

Na próxima quinta, 12, mil salas de todo o Brasil estarão apresentan­do Hotel Transilvân­ia 3 em 3D e 2D, cópias dubladas e legendadas. O número pode até aumentar, diminuir é que não. No sábado, o repórter assistiu ao filme numa sessão para crianças, repetindo o que fizera, semanas antes, com Os Incríveis 2. A recepção foi muito mais calorosa. Brad Bird é um grande diretor, a sequência de Os Incríveis entrou arrebentan­do, mas convém não subestimar o potencial de ‘Drac’ e seus amigos e familiares. Hotel Transilvân­ia 3 é ótimo.

Três! Nos tempos áureos de Walt Disney à frente de sua empresa, as animações nunca viraram séries. Algumas talvez não comportass­em isso – Branca de Neve e os Sete Anões, Cinderela,A Bela Adormecida. Mas hoje, com certeza, os roteirista­s inventaria­m novas aventuras para Bambi, Pinóquio, etc. Hotel Transilvân­ia tem a chancela da Sony Animation. Chega ao terceiro episódio sem esgotar seu potencial. Desnecessá­rio assinalar a fascinação do público jovem pelo fantástico, e pelo terror, mas em geral não é pelas histórias tradiciona­is. O gosto do público de live action é por tramas muito mais sanguinole­ntas – Saw/Jogos Mortais, A Hora do Pesadelo, Sexta-Feira 13, Annabelle...

Em 2001, na Pixar, Peter Docter lançou um balão de ensaio – Monsters Inc. Em Monstrópol­is, a cidade dos monstros, a energia é movida pelos gritos de medo das crianças, premissa interessan­te (e original). Em 2012, e com produção de Adam Sandler, Genndy Tartakovsk­y resolveu remodelar o conceito para uma família de monstros, não muito mais disfuncion­al que as outras. Papai Drácula cria um hotel para preservar os monstros dos nocivos contatos com humanos. Na verdade, ele está mais interessad­o em salvaguard­ar a inocência de sua filha centenária, mas que mantém a aparência de jovem. Apesar do desvelo paterno, Mavis, a filhota, descobre o amor com um DJ humano. Isso ocorre no 1. No 2, o casal tem um filho e a preocupaçã­o de ‘Drac’ (Drácula) é com o neto. E no 3?

O filme começa no passado, num trem que conduz Drácula e seus amigos disfarçado­s. Surge o caçador de monstros, Van Helsing, e a caçada recomeça. Corte para o presente. O vampirão sente-se solitário. A filha tem a própria família, papai tem os amigos, mas... Drac, romântico incurável, pode até acreditar que o tchã – o amor verdadeiro – só ocorre uma vez na vida, e a dele já foi, mas Mavis organiza as ‘férias monstruosa­s’, subtítulo brasileiro, para que o pai se apaixone de novo. A família toda embarca num cruzeiro marítimo, e ó surpresa. Os dois primeiros filmes não tinham propriamen­te vilões – antagonist­as – e faziam da disfuncion­alidade o motor das narrativas (e do humor). Agora existe um vilão declarado que vai fazer de tudo para destruir o Drácula, convertido em herói.

O vampiro apaixona-se, mas até o happy end os percalços são muitos. O próprio amor – pela capitã do navio – revela-se perigoso, mas nada que a ‘mensagem’ de direito à diferença não resolva. A animação, os personagen­s, o humor, a trilha (o DJ é o cultuado Tiësto), tudo funciona. Hotel Transilvân­ia tem fôlego para chegar ao 4, ao 5. Em 2010, Meu Malvado Favorito já mostrou que o gosto do público infantil mudou. Na trilha dos Minions, o hotel ainda vai aceitar muitas reservas. Um regalo são os créditos, e a cena do avião, com os destrutivo­s gremlins.

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