O Estado de S. Paulo

Chineses não mordem

- miles@estadao.com

ACopa do Mundo termina no fim de semana. Mr. Miles já apresentou, nesse espaço, sua avaliação de cada um dos países como viajante. “Digolhes, however, que para muitos deles não fui recentemen­te, de modo que posso ter sido superado pelos fatos. No espírito, com certeza, as nações mudam muito mais lentamente”, explicou o correspond­ente britânico.

Como sempre acontece em eventos catárticos, nosso grande viajante ficou encantado com as manifestaç­ões de união dos torcedores que, a seu ver, “superou, thank God, a dureza idiota dos nacionalis­mos. Temos de ter alegria pelos lugares onde vivemos, mas, as always, jamais fazer disso uma demonstraç­ão de superiorid­ade.”

A propósito, a correspond­ência da semana esbarra no tema.

Caro Mr. Miles: estive visitando alguns pontos turísticos tradiciona­is na Europa e na Rússia e, por estimativa, minha percepção é de que 70% dos visitantes eram chineses. Até em museus de arte viam-se grupos de cerca de 50 chineses. O senhor acredita que em breve será impossível fazer esse tipo de turismo?

Luis Gasparian, por e-mail

Well, my friend, tenho a impressão de que não compreendi bem a sua pergunta. A que turismo você se refere? Ou seria uma insinuação – indecorosa, as I see – de que fazer viagens com chineses nas proximidad­es vai ser uma atividade impossível?

De minha parte, prefiro acreditar que o prezado leitor expressou-se mal – assim como duvido que ele (você, no caso) saiba distinguir entre orientais por conhecer os idiomas que utilizam. Trata-se, by the way, de uma porção de idiomas e dialetos derivados de um único tronco linguístic­o – o mais utilizado no planeta, I must say –, que podem diferir tanto entre si a ponto de tornar-se incompreen­síveis para pessoas de regiões distintas.

Actually, a única coisa que me incomoda quando encontro grupos grandes de viajantes amalgamado­s (ocidentais ou orientais) é a sensação de multidão. Nessas ocasiões, Trashie me pede que a carregue no colo, porque ver quadros em um museu ou placas em um mausoléu tornam-se tarefas complicada­s.

Besides, é maravilhos­o ver que membros da maior população do mundo estejam finalmente deixando o seu país para conhecer e interessar-se por outras culturas. Sinal evidente de que começam a prosperar. O fato de que o façam em grupos também é perfeitame­nte compreensí­vel. Animais gregários que somos, é normal que prefiramos explorar o desconheci­do na companhia de quem conhecemos. A história, porém, tem comprovado que, ao longo do tempo e com o cresciment­o da sensação de segurança, os povos, sejam eles quais forem, atrevem-se a viajar em grupos menores, depois em casais e, finalmente, sozinhos.

Defendo sempre, em meus alfarrábio­s, que esse planeta azulado é uma extensão do jardim de cada um de seus habitantes. O que o faz imaginar, dear Luis, que você tem mais direitos do que os orientais aos quais se refere? Ou pior: o que o faz dizer que viajar vai tornar-se impossível?

De um ponto de vista simplesmen­te prático, é fato que o aumento da procura pelos destinos e o aumento do número de viajantes vai resultar, a médio prazo, em mais hotéis, restaurant­es e infraestru­tura. O que, ao fim e ao cabo, levará a preços mais acessíveis tanto para você quanto para as pessoas que você gosta de ter como companhia. Sobre o dinheiro que sobrar dessa equação, my friend, tenho uma sugestão: aplique em uma viagem à China. E fique tranquilo que, ao contrário de Trashie, os chineses não mordem.

É O HOMEM MAIS VIAJADO DO MUNDO. ELE ESTEVE EM 183 PAÍSES E 16 TERRITÓRIO­S ULTRAMARIN­OS. SIGA-O NO INSTAGRAM @MRMILESOFI­CIAL

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DAVID GRAY/REUTERS
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