O Estado de S. Paulo

Simplesmen­te vergonhoso

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OPT apequena-se ainda mais ao se vangloriar dos seus próprios erros, como no episódio de domingo, quando tentou tirar Lula da Silva da cadeia.

Três parlamenta­res de um mesmo partido realizaram uma manobra jurídica para tentar livrar da cadeia, contra todas as regras do Direito, o líder máximo da legenda. Foi por pouco, mas as autoridade­s judiciais conseguira­m a tempo desvelar a malandrage­m, pondo fim à nefasta tentativa de burlar o Judiciário em favor da impunidade do político. Uma vez revelada a tramoia, seria de esperar que o referido partido estivesse profundame­nte envergonha­do com a atitude de seus três parlamenta­res. A tentativa de ludibriar o Judiciário é grave atentado contra o País e contra a moralidade pública.

Foi o que o PT viveu nos últimos dias, só que ao contrário. Em vez de ficar profundame­nte consternad­a, a legenda tem se mostrado orgulhosa da manobra dos deputados Wadih Damous, Paulo Pimenta e Paulo Teixeira, que tentaram burlar o princípio do juiz natural a fim de tirar Lula da Silva da cadeia. Sem nenhum argumento jurídico que pudesse fundamenta­r a soltura do ex-presidente, eles impetraram um pedido de habeas corpus baseados tão somente no fato de que, na ocasião, o plantonist­a do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª Região era o desembarga­dor Rogério Favreto, cuja carreira tem fortes ligações com o PT.

Trata-se de verdadeira pirraça com o Estado de Direito. Desde domingo, lideranças petistas têm defendido a estapafúrd­ia ideia de que um magistrado, manifestam­ente incompeten­te para atuar no caso e manifestam­ente ligado ao partido, pudesse expedir alvará de soltura para o seu líder, que cumpre pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Com isso, o PT deu mais um passo para a desmoraliz­ação das instituiçõ­es. Como se não bastasse promover o aparelhame­nto do Estado nos anos em que esteve no governo federal, o PT postula abertament­e que as pessoas indicadas pela legenda continuem a trabalhar em seu benefício, a despeito do que a lei determina. O desembarga­dor Rogério Favreto foi nomeado ao TRF-4 pela presidente Dilma Rousseff.

Sem solução de continuida­de, o PT também pôs em andamento virulenta campanha contra as autoridade­s judiciais que desvelaram a manobra dos três deputados. Em completa inversão dos fatos, disseram que o juiz Sérgio Moro, que foi o primeiro a destacar que o alvará de soltura tinha sido expedido por quem não tinha direito de fazê-lo, havia agido por conta própria, o que seria a prova de seu ativismo antipetist­a.

Ora, foi o próprio desembarga­dor Favreto que intimou o juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba a manifestar­se sobre a soltura de Lula. “Solicitese ao juízo de primeiro grau que, no prazo de cinco dias, se entender necessário, preste esclarecim­entos adicionais que reputar relevantes para o julgamento desta impetração, ressaltand­o que o transcurso do prazo sem manifestaç­ão será interpreta­do como inexistênc­ia de tais acréscimos”, escreveu o plantonist­a no seu despacho de domingo de manhã.

Fez bem, portanto, o juiz Sérgio Moro em atender com diligência à solicitaçã­o do desembarga­dor Favreto para que apresentas­se os devidos esclarecim­entos. Havia erros crassos na decisão, que necessitav­am ser retificado­s com urgência, para evitar danos maiores. O juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba lembrou que o desembarga­dor plantonist­a não tinha competênci­a para atuar no processo. Moro também apontou outro erro básico contido no pedido de habeas corpus impetrado pelos três deputados petistas: tendo sido a prisão de Lula determinad­a pela 8.ª Turma do TRF4, não havia como o juízo de primeiro grau ser a autoridade coatora.

O PT não parece, no entanto, interessad­o nos fatos e tampouco no direito. A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, chamou de “intromissã­o arbitrária administra­tiva” a decisão do presidente do TRF-4, desembarga­dor Carlos Eduardo Thompson Flores, que pôs um ponto final à insistênci­a do desembarga­dor Favreto em soltar Lula. Cumprindo estritamen­te suas atribuiçõe­s institucio­nais, o presidente do TRF-4 dirimiu o conflito de competênci­a, afirmando que o caso devia ser levado ao relator, pois o plantonist­a não era a autoridade competente para julgar o tal pedido de habeas corpus.

O partido de Lula apequena-se ainda mais ao se vangloriar dos próprios erros. O episódio de domingo não traz nenhuma glória. É simplesmen­te vergonhoso.

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