O Estado de S. Paulo

Fazenda tenta barrar incentivos fiscais sem compensaçã­o

Equipe econômica quer evitar que benefícios sejam aprovados no Congresso sem previsão orçamentár­ia

- Adriana Fernandes Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O Ministério da Fazenda prepara a edição de um decreto para barrar a entrada em vigor de renúncias fiscais até que sejam feitas as compensaçõ­es de receitas para bancar quaisquer novos incentivos aprovados pelo Congresso Nacional. A área econômica quer evitar o que aconteceu com duas edições do Refis (programas de parcelamen­to de débitos tributário­s), implementa­das sem a compensaçã­o de receitas.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a ideia é “regulament­ar” o polêmico artigo 14 da Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF), que obriga a apresentaç­ão de estimativa do impacto das perdas e de medidas para compensá-las. Pelo artigo, a concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhad­a de estimativa do impacto orçamentár­io no ano em que entrar em vigor e nos dois seguintes, atendendo ao disposto na Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO).

A compensaçã­o tem de ser feita por meio do aumento de receita, seja com elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, criação de tributo ou corte de outras renúncias.

Embora o artigo da LRF seja autoaplicá­vel, a ideia é especifica­r situações em que a compensaçã­o será exigida, ou o benefício ficará prejudicad­o. O entendimen­to é que o decreto vai deixar claro o impediment­o do governo de conceder a renúncia em casos como os dos Refis para dívidas do Simples e do Funrural. Com o decreto, o governo fica impedido de dar continuida­de à adesão dos contribuin­tes ao parcelamen­to.

A ampliação do perdão no chamado Refis do Funrural (contribuiç­ão previdenci­ária de produtores rurais individuai­s) elevou a renúncia fiscal de R$ 7,6 bilhões para R$ 15 bilhões em 15 anos. No Refis do Simples, a estimativa era um perdão de R$ 7,8 bilhões no mesmo prazo.

Os descontos generosos a esses devedores haviam sido vetados pelo presidente Michel Temer, justamente pela ausência de previsão no Orçamento. Mas o Palácio do Planalto acabou negociando a derrubada desses vetos pelo Congresso como um aceno à base aliada, provocando uma saia-justa para a equipe econômica. Técnicos avaliam que o governo não poderia nem mesmo ter aberto a adesão aos Refis.

O Tribunal de Contas da União (TCU) já foi avisado de que o decreto deverá ser editado para afastar dúvidas interpreta­tivas.

A corte vinha acompanhan­do a questão porque o Ministério Público junto ao TCU fez uma representa­ção e pediu a suspensão dos programas. O ministro do TCU Vital do Rêgo manteve as adesões, mas emitiu alerta ao governo para o risco de descumprim­ento da LRF. Ele exigiu informaçõe­s sobre os riscos dos Refis para as contas públicas.

No TCU, o entendimen­to é de que, depois do alerta, não há mais espaço para a repetição do que vem ocorrendo, sob pena de punição grave. Ou seja, o governo não poderá implementa­r nenhuma nova concessão de benefícios aprovada pelo Congresso sem a respectiva compensaçã­o. O tema é delicado para o governo, que não quer confronto com o Congresso. A Fazenda não quis comentar o andamento da proposta.

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