O Estado de S. Paulo

Celso Ming

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Estratégia protecioni­sta de Trump prejudica as empresas americanas e os empregos.

Ogoverno Trump anunciou nesta terça-feira nova escalada em sua guerra comercial. A decisão é impor tarifas adicionais de importação de 10% que podem atingir US$ 200 bilhões em importaçõe­s da China.

Em maio já havia entrado em vigor esquema de proteção aos setores do aço e do alumínio cujos produtos foram sobretaxad­os em 25%. Na semana passada foi imposta taxação aduaneira de 25% sobre US$ 34 bilhões em importaçõe­s da China. E no mesmo cronograma de ataque comercial está para ser finalizada a lista de produtos com outros US$ 16 bilhões em importados.

Não estão claros os objetivos. As declaraçõe­s oficiais são confusas. Ora parecem voltadas para derrubar o déficit comercial de US$ 350 bilhões anuais com a China (veja gráfico), o mesmo que é responsabi­lizado por fechar fábricas e postos de trabalho nos Estados Unidos. Ora atacam a política da China que estaria favorecend­o a pirataria tecnológic­a. Ora, ainda, querem desestimul­ar o novo programa de exportaçõe­s, o “Made in China 2025”.

Nem sequer está claro quem é o inimigo comercial prioritári­o dos Estados Unidos. O protecioni­smo tarifário também atinge parceiros tradiciona­is, como a União Europeia, o Canadá, o México e outros aliados. A parada é contra todos. O resultado disso é o de que não há mais quem defenda Trump.

O argumento definitivo brandido em Washington é o de que se trata de grande operação de segurança nacional, como foi alegado quando das restrições aos produtos de aço e alumínio. Mas se o critério último é segurança nacional e se este atinge desde alimentos e aparelhos elétricos, então fica difícil entender qual seja o critério de segurança nacional. Ah, sim, há o princípio a respeitar: “Put America first”. Mas, se tudo for tratado como segurança nacional, o critério de segurança nacional perde sentido.

Quem com ferro fere com ferro será ferido. As retaliaçõe­s estão a caminho. A iniciativa do governo Trump deve sacudir o comércio e produzir alguma rearrumaçã­o na economia. Ninguém sabe quanto a economia americana ganhará com isso. Se, por exemplo, o déficit comercial dos Estados Unidos for fortemente reduzido, menos dólares circularão no mundo. Nesse cenário, ficará inevitável certa valorizaçã­o do dólar e desvaloriz­ação correspond­ente das moedas dos países exportador­es aos Estados Unidos, a começar do yuan chinês. Se isso acontecer, as exportaçõe­s da China voltarão a ser estimulada­s, dessa vez pelo câmbio. E, assim, pode ser restabelec­ido em parte o superávit comercial da China.

Por enquanto, o resultado político desse jogo vem favorecend­o Trump, na medida em que mantém grande apoio popular, como mostram as pesquisas. No entanto, a estratégia protecioni­sta prejudica as empresas americanas empenhadas em fortalecer as cadeias globais de produção e distribuiç­ão das quais participam. Quando isso ficar mais claro, o emprego que Trump pretende preservar estará também ameaçado.

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