Só pensar nas crianças não basta, é preciso protegê-las
Na manhã de terça-feira, os quatro últimos membros da equipe dos Javalis Selvagens foram resgatados da caverna na Tailândia com seu treinador. O final triunfante da história foi transmitido rapidamente para o mundo pelas TVs. E o mundo respirou com alívio.
Nas últimas semanas, os americanos têm mantido sua atenção fixada nos problemas vividos por crianças. Algumas separadas dos pais na fronteira dos EUA com o México ou envolvidas nas maquinações dos EUA contra o aleitamento materno na assembleia da Organização Mundial da Saúde.
Crianças que poderão nem mesmo existir, pois os jovens da geração do milênio estão protelando cada vez mais a paternidade e aquelas que nascerão se o caso Roe versus Wade (sobre direito de aborto) for revertido por uma nova maioria conservadora criada pelo presidente Donald Trump na Suprema Corte. O que significa o fato de as crianças ficarem no centro do noticiário?
No caso dos meninos na Tailândia, sempre amamos uma história de resgate positiva. Relatos de sobrevivência em circunstâncias adversas nos dão uma possibilidade de esperança e redenção, independentemente do que possa estar ocorrendo no mundo.
Sabemos, no fundo, que a maneira como tratamos os mais jovens e mais vulneráveis entre nós é reflexo do que somos como sociedade e o mais claro sinal de onde chegamos. Infelizmente, apesar de toda a comemoração pelo fim da agonia dos meninos na Tailândia, são poucas as boas notícias.
Nosso persistente drama na fronteira – bebês de meses separados de seus país, alguns com mais sorte foram reunidos com os pais, mas voltaram sujos e com piolhos – mostra a brutalidade alarmante por parte das agências de controle da imigração e dos setores da direita que as aplaudem. A indignação com essas políticas prova que essa crueldade não é universal. Mas como chegamos a esse ponto?
O ataque desconcertante da delegação de Trump contra o aleitamento materno na OMS – supostamente em nome dos fabricantes de leite em pó infantil – é um exemplo claro do que o governo valoriza: as corporações, não as crianças, e Trump intimida e ameaça para impor seu ponto de vista.
O fato de um potencial desgaste do direito de abortar ser visto como uma calamidade diz muito sobre o fracasso dos EUA em oferecer uma assistência médica universal, licença-paternidade e políticas que favoreçam as famílias como também no que se refere às opções individuais e aos valores morais. Embora se fale tanto em “valores familiares”, na verdade, ter uma família nos EUA parece mais difícil do que em qualquer outro lugar do mundo desenvolvido.
Mas é bom que as crianças se tornem o grande destaque, abrindo nossos olhos para os problemas cada vez mais profundos com que nos defrontamos. Temos de pensar nas crianças ainda mais.