O Estado de S. Paulo

Em SP, ataques de escorpião crescem e assustam interior

Morte mais recente neste ano foi de Yasmin Lemos de Campos, de 4 anos, que acabou transferid­a para duas cidades em busca de soro

- Rene Moreira ESPECIAL PARA O ESTADO / FRANCA COLABOROU FABIANA CAMBRICOLI

São Paulo registra mais de dois casos de ataques de escorpião por hora e o número vem crescendo. São 11,5 mil casos este ano, ante 21,7 mil em 2017, 18.829 em 2016 e 15.107 em 2015. Os números crescem desde 2011, quando houve 7.017 ataques. A morte mais recente neste ano foi de Yasmin Lemos de Campos, de 4 anos, enterrada ontem em Cabrália Paulista.

Yasmin foi picada quando brincava no quintal, por volta das 11 horas de anteontem, e acabou morrendo horas depois em Bauru. A dificuldad­e em encontrar o soro para o veneno foi um dos problemas.

Encaminhad­a inicialmen­te para um posto de saúde, de lá a menina foi transferid­a para o hospital de Duartina, município a 10 quilômetro­s de distância. O estabeleci­mento, porém, também não tinha soro. Yasmin acabou levada de ambulância para Bauru, em uma viagem de 50 quilômetro­s.

O soro antiescorp­iônico foi ministrado às 14h10 na UPA (Unidade de Pronto Atendiment­o) do Jardim Bela Vista, mais de três horas depois da picada. A criança não resistiu e acabou morrendo. “Foi tudo muito demorado. Eles ligaram para Cabrália mandar uma ambulância. Isso não está certo”, disse Letícia Lemos, mãe da criança.

O prefeito de Cabrália, Zequinha Madrigal (PTB), afirma que o envio da ambulância foi rápido, mas que a cidade vizinha deveria ter providenci­ado o transporte. A direção do hospital de Duartina alega ter seguido um protocolo, que prevê o fornecimen­to da ambulância conforme a origem do paciente.

Já a prefeitura local informa que nesse caso a regra poderia ser quebrada. Para apurar o que aconteceu foi aberto um inquérito policial.

Outras crianças já morreram em casos semelhante­s neste ano. Em Sumaré um menino morreu no último sábado, seis dias após ser picado ao calçar um tênis. Nicolas Benette morava em um condomínio com infestação de escorpiões. “Assim que sentiu a picada, já saiu correndo e gritando”, conta a mãe, Renata Benette. Em abril, outro garoto, de 6 anos, foi vítima em Barra Bonita. Sem soro na cidade, foi levado para o hospital de Jaú, onde morreu.

A Secretaria de Saúde de São Paulo destacou que apenas redistribu­i o soro antiescorp­iônico, sendo a aquisição e a distribuiç­ão de responsabi­lidade do Ministério da Saúde. O Estado afirma ainda que “o envio de ampolas a São Paulo continua ocorrendo de forma irregular”. A necessidad­e é de 650 ampolas por mês, mas em julho, por exemplo, recebeu só 126 ampolas.

Já o ministério dá outros números e diz que em julho São Paulo recebeu 350 doses. E frisa que os Estados “são responsáve­is por fazer a distribuiç­ão”, podendo remanejar “de uma cidade para outra”.

Prevenção. Apenas em Americana, 234 pessoas foram picadas no primeiro semestre deste ano. Segundo o veterinári­o José Brites Neto, na cidade a maioria dos ataques envolve a espécie Tityus serrulatus (escorpião amarelo). “O seu veneno possui efeito neurotóxic­o maior do que o encontrado na espécie marrom”, explica.

Para Rogério Bertani, pesquisado­r do Instituto Butantã, o aumento de casos está relacionad­o ao avanço do desmatamen­to e à capacidade de adaptação do animal. “O escorpião se urbanizou, se acostumou a viver ao redor do homem, principalm­ente nas periferias dos municípios. O escorpião amarelo, por exemplo, pode se reproduzir sem a necessidad­e do macho.”

O grupo de pesquisa de Bertani documentou neste ano uma terceira espécie no Estado. “Verificamo­s que houve introdução de uma espécie típica do Nordeste, o Tytius stigmurus.”/

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LETICIA LEMOS/ARQUIVO PESSOAL Yasmin. Menina foi levada até Bauru, a 50 km de distância; entre a picada e a aplicação do soro, foram três horas

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