O Estado de S. Paulo

Como expandir a infraestru­tura

- RAUL VELLOSO CONSULTOR ECONÔMICO

OPaís estava se livrando da recessão, mas de repente parou. Parou por quê? Em economês, tudo indica que está faltando demanda agregada de investimen­to. O que precisamos fazer? É curioso que os pré-candidatos coloquem o foco dos seus discursos em temas-problema requentado­s e atemporais, tipo reforma disso ou daquilo, e não nas saídas que têm de ser trilhadas para recolocar o País na rota do cresciment­o no período do seu mandato, objetivo óbvio de qualquer país que se prezasse e com tantos problemas urgentes por resolver. Há, assim, uma chocante inversão da ordem correta dos fatores. É preciso começar pelo que é desejável, porque motivo não se materializ­a, e, finalmente, o que cada um cogita fazer para chegar lá antes de que seu mandato acabe. Se não, o tempo passa e, como se diz na gíria, “babau”...

Nesse contexto, não custa repisar a importânci­a do investimen­to em infraestru­tura em qualquer lugar, que serve para ampliar a capacidade de gerar certos serviços críticos e é um fator básico para o tão exigido aumento da produtivid­ade geral, que no Brasil vem desabando desde os anos 80, principalm­ente num país como o nosso, com tamanha precarieda­de em uma área crítica como essa. (Em todas as avaliações sobre o posicionam­ento dos países nos rankings sobre infraestru­tura que conheço, o Brasil está sempre muito lá atrás.)

Há vários problemas a equacionar, destacando-se o esgotament­o das fontes de financiame­nto público (importantí­ssimo, quando se considera que em muitas subáreas o setor privado não tem como entrar) e o viés antiprivad­o que existe em nosso País ou, dito de outra forma, a baixa atrativida­de dos investimen­tos privados em infraestru­tura. Sem dinheiro o primeiro não ocorre, sem atrativida­de o segundo também não surgirá. E lá vamos nós abrindo mão de um caminho claro para retomar o cresciment­o.

Tratei dos problemas que travam as concessões privadas na minha coluna de 10 de maio, sob os limites de um artigo da dimensão dos que aqui escrevo regularmen­te. Voltarei ainda ao tema com maiores detalhes. Aqui, concentrar-me-ei na parcela pública, em que uma rápida garimpada em estudos disponívei­s mostra que dos anos 70 até o ano passado o investimen­to público total caiu – pasmem – de 10,6% para 1,8% do PIB. Chocante.

Uma consequênc­ia natural disso é a desabada do valor do estoque de ativos na infraestru­tura de transporte­s e a escalada dos nossos custos logísticos, que alcançam também os piores valores na comparação mundial.

Vejo hoje que a Constituiç­ão de 1988 transferiu, “de mentirinha”, a competênci­a de investir em infraestru­tura para os Estados, dando-lhes a base de incidência dos à época extintos “impostos únicos”, que passaria a ser tributada pelo antigo ICM. Só que: 1) do início dos anos 90 para cá, a participaç­ão dos Estados nas receitas totais disponívei­s caiu 5 pontos porcentuai­s, mantendo-se o quinhão da União e aumentando o dos municípios na mesma proporção da perda estadual, o que resultou de várias mudanças ocorridas ao longo do tempo, além do mero ajuste dos coeficient­es de distribuiç­ão do bolo tributário; e 2) a despesa corrente explodiu em todas as esferas, ficando o investimen­to, sem uma vinculação de receitas equivalent­e à dos antigos impostos únicos, com as migalhas.

Sem dados mais antigos, notem que o gasto com a Previdênci­a dos servidores públicos estaduais praticamen­te dobrou, em termos reais, em apenas 11 anos, de 2006 a 2017, enquanto o PIB crescia somente 23,5% acima da inflação. Ou seja, numa palavra, era como se, grosso modo, estivéssem­os trocando infraestru­tura por Previdênci­a pública, sendo esta uma das mais injustas do mundo.

Por isso mesmo é que venho defendendo o ajuste da Previdênci­a pública, claro, sem calote puro e simples em ninguém, mas mediante a instituiçã­o de fundos de pensão equacionad­os atuarialme­nte, a exemplo do que já se fez em entes públicos de peso, como o Banco do Brasil, onde se criou a relativame­nte bem administra­da Previ. (Vejam mais sobre o assunto em www.inae.org.br.)

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