O Estado de S. Paulo

Trump critica May e é vaiado em Londres

Ingerência. Presidente diz que proposta de saída da UE apresentad­a pela premiê pode ‘matar’ possível acordo de livre-comércio com os EUA; americano canta ‘vitória’ em reunião de cúpula da Otan e garante que países-membros aumentarão gastos militares

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

O presidente Donald Trump chegou a Londres, sob protestos, para uma visita de quatro dias. Antes da viagem, ele questionou o plano da primeira-ministra Theresa May para o Brexit – a saída do Reino Unido da UE.

O presidente americano, Donald Trump, chegou ontem a Londres em meio a protestos para uma visita de quatro dias, após questionar o plano para o Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia. Horas antes, a primeira-ministra britânica, Theresa May, havia apresentad­o seu projeto para as futuras relações com a UE, com a qual prevê manter estreitos laços comerciais.

“Não sei se (os britânicos) votaram nisso”, disse Trump em Bruxelas, onde participou de uma cúpula da Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte (Otan). “As pessoas votaram pela separação, então imagino que é isso que farão, mas talvez tomem um caminho diferente.”

Em entrevista ao jornal The Sun, que será publicada hoje, Trump afirmou que o plano de May “provavelme­nte pode matar” a possibilid­ade de um acordo de livre-comércio com os EUA. “Se aprovarem um acordo como esse, estaríamos tratando com a União Europeia no lugar de com o Reino Unido, e isso provavelme­nte pode matar o acordo”, disse.

O plano levou à demissão de conhecidos eurocético­s do governo, como o ex-ministro de Relações Exteriores Boris Johnson e o encarregad­o de negociar o Brexit, David Davis.

Uma porta-voz do governo britânico disse que a primeirami­nistra explicará pessoalmen­te as negociaçõe­s sobre o Brexit ao presidente americano e assegurou que o plano representa o que pediram os eleitores. “Recuperare­mos o controle de nosso dinheiro, de nossas leis e fronteiras e poderemos estabelece­r relações comerciais livremente ao redor do mundo”, destacou.

O governo britânico está ansioso em demonstrar que há oportunida­des fora da UE e a famosa “relação especial” com os EUA poderá se traduzir em ambiciosos acordos comerciais. “Quando deixarmos a União Europeia (em março de 2019), começaremo­s a traçar um novo rumo para o Reino Unido no mundo e nossas alianças mundiais serão mais fortes do que nunca”, disse May.

O líder americano e May se reunirão hoje na residência campestre de Chequers em um encontro no qual a premiê espera abordar futuros acordos comerciais com os EUA. Ele também se reunirá hoje com a rainha Elizabeth, no Castelo de Windsor, e no domingo segue para Helsinque, onde se reunirá com o presidente russo, Vladimir Putin, na segunda-feira.

Ontem, Trump e sua mulher, Melania, participar­am de um jantar com empresário­s no Palácio de Blenheim, uma casa de campo onde nasceu Winston Churchill, em 1874.

Otan. Depois de dois dias de críticas ásperas aos aliados europeus, principalm­ente à chanceler alemã, Angela Merkel, Trump, cantou “vitória” ontem, no último dia da cúpula da Otan. Sem fornecer detalhes, afirmou ter convencido seus aliados a investir mais em despesas militares, a fim de alcançar o patamar de 2% do PIB de cada membro antes da data prevista, 2024. Mas a versão de que haveria um aumento dos investimen­tos bélicos foi desmentida por líderes de França e Itália.

A participaç­ão de Trump na cúpula foi estridente, como se esperava. Um mês e meio após a cúpula do G-7 no Canadá, quando entrou em atrito com os parceiros históricos dos EUA, o americano voltou a usar palavras duras para tentar obter os avanços que desejava. Sobre a Europa, afirmou que sua defesa contra a Rússia depende totalmente de Washington, e sobre a Alemanha, disse que é “refém” de Moscou em razão de sua dependênci­a de energia importada.

Em meio às hostilidad­es, afirmou que os EUA gastam 4% do PIB em Defesa – na verdade são 3,57% do PIB –, e a Europa também deveria se engajar à mesma altura. A “proposta” foi acolhida com frieza pelos líderes europeus, que nem cogitaram a iniciativa. Ainda assim, menos de 24 horas depois, foi em tom de triunfalis­mo que Trump concedeu entrevista.

“Eu disse que ficaria muito insatisfei­to se eles não aumentasse­m seus engajament­os de forma substancia­l”, explicou, dando a entender que teria arrancado um compromiss­o.

“Conseguimo­s US$ 33 bilhões a mais”, disse, referindos­e ao valor extra investido pelos europeus em 2017 em relação ao ano anterior. Mas Trump não explicou de que países o valor procede, nem se faz parte de um novo compromiss­o. Em 2014, os 29 membros da Otan aceitaram o prazo de até 2024 para chegar ao patamar de 2% do PIB em investimen­tos militares.

Opinião • “Não sei se (os britânicos) votaram nisso. As pessoas votaram pela separação, então imagino que é isso que farão, mas talvez tomem um caminho diferente”

Donald Trump

PRESIDENTE AMERICANO

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HANNAH MCKAY/REUTERS Diplomacia. Melania (E), Trump e May participam de festa de gala no Palácio de Blenheim, perto de Oxford, no Reino Unido

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