Trump critica May e é vaiado em Londres
Ingerência. Presidente diz que proposta de saída da UE apresentada pela premiê pode ‘matar’ possível acordo de livre-comércio com os EUA; americano canta ‘vitória’ em reunião de cúpula da Otan e garante que países-membros aumentarão gastos militares
O presidente Donald Trump chegou a Londres, sob protestos, para uma visita de quatro dias. Antes da viagem, ele questionou o plano da primeira-ministra Theresa May para o Brexit – a saída do Reino Unido da UE.
O presidente americano, Donald Trump, chegou ontem a Londres em meio a protestos para uma visita de quatro dias, após questionar o plano para o Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia. Horas antes, a primeira-ministra britânica, Theresa May, havia apresentado seu projeto para as futuras relações com a UE, com a qual prevê manter estreitos laços comerciais.
“Não sei se (os britânicos) votaram nisso”, disse Trump em Bruxelas, onde participou de uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). “As pessoas votaram pela separação, então imagino que é isso que farão, mas talvez tomem um caminho diferente.”
Em entrevista ao jornal The Sun, que será publicada hoje, Trump afirmou que o plano de May “provavelmente pode matar” a possibilidade de um acordo de livre-comércio com os EUA. “Se aprovarem um acordo como esse, estaríamos tratando com a União Europeia no lugar de com o Reino Unido, e isso provavelmente pode matar o acordo”, disse.
O plano levou à demissão de conhecidos eurocéticos do governo, como o ex-ministro de Relações Exteriores Boris Johnson e o encarregado de negociar o Brexit, David Davis.
Uma porta-voz do governo britânico disse que a primeiraministra explicará pessoalmente as negociações sobre o Brexit ao presidente americano e assegurou que o plano representa o que pediram os eleitores. “Recuperaremos o controle de nosso dinheiro, de nossas leis e fronteiras e poderemos estabelecer relações comerciais livremente ao redor do mundo”, destacou.
O governo britânico está ansioso em demonstrar que há oportunidades fora da UE e a famosa “relação especial” com os EUA poderá se traduzir em ambiciosos acordos comerciais. “Quando deixarmos a União Europeia (em março de 2019), começaremos a traçar um novo rumo para o Reino Unido no mundo e nossas alianças mundiais serão mais fortes do que nunca”, disse May.
O líder americano e May se reunirão hoje na residência campestre de Chequers em um encontro no qual a premiê espera abordar futuros acordos comerciais com os EUA. Ele também se reunirá hoje com a rainha Elizabeth, no Castelo de Windsor, e no domingo segue para Helsinque, onde se reunirá com o presidente russo, Vladimir Putin, na segunda-feira.
Ontem, Trump e sua mulher, Melania, participaram de um jantar com empresários no Palácio de Blenheim, uma casa de campo onde nasceu Winston Churchill, em 1874.
Otan. Depois de dois dias de críticas ásperas aos aliados europeus, principalmente à chanceler alemã, Angela Merkel, Trump, cantou “vitória” ontem, no último dia da cúpula da Otan. Sem fornecer detalhes, afirmou ter convencido seus aliados a investir mais em despesas militares, a fim de alcançar o patamar de 2% do PIB de cada membro antes da data prevista, 2024. Mas a versão de que haveria um aumento dos investimentos bélicos foi desmentida por líderes de França e Itália.
A participação de Trump na cúpula foi estridente, como se esperava. Um mês e meio após a cúpula do G-7 no Canadá, quando entrou em atrito com os parceiros históricos dos EUA, o americano voltou a usar palavras duras para tentar obter os avanços que desejava. Sobre a Europa, afirmou que sua defesa contra a Rússia depende totalmente de Washington, e sobre a Alemanha, disse que é “refém” de Moscou em razão de sua dependência de energia importada.
Em meio às hostilidades, afirmou que os EUA gastam 4% do PIB em Defesa – na verdade são 3,57% do PIB –, e a Europa também deveria se engajar à mesma altura. A “proposta” foi acolhida com frieza pelos líderes europeus, que nem cogitaram a iniciativa. Ainda assim, menos de 24 horas depois, foi em tom de triunfalismo que Trump concedeu entrevista.
“Eu disse que ficaria muito insatisfeito se eles não aumentassem seus engajamentos de forma substancial”, explicou, dando a entender que teria arrancado um compromisso.
“Conseguimos US$ 33 bilhões a mais”, disse, referindose ao valor extra investido pelos europeus em 2017 em relação ao ano anterior. Mas Trump não explicou de que países o valor procede, nem se faz parte de um novo compromisso. Em 2014, os 29 membros da Otan aceitaram o prazo de até 2024 para chegar ao patamar de 2% do PIB em investimentos militares.
Opinião • “Não sei se (os britânicos) votaram nisso. As pessoas votaram pela separação, então imagino que é isso que farão, mas talvez tomem um caminho diferente”
Donald Trump
PRESIDENTE AMERICANO