O Estado de S. Paulo

Novos ataques ao Tesouro

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Populismo, oportunism­o e irresponsa­bilidade estão criando no Congresso uma herança desastrosa para o próximo governo e, pior, para os brasileiro­s, principalm­ente os mais pobres.

NOTAS & INFORMAÇÕE­S

Populismo, oportunism­o e irresponsa­bilidade estão criando no Congresso Nacional uma herança desastrosa para o próximo governo e, pior que isso, para os brasileiro­s, principalm­ente para os mais pobres e mais vulnerávei­s ao desemprego e à inflação. Travas de segurança montadas pela equipe econômica foram excluídas da Lei de Diretrizes Orçamentár­ias (LDO) recém-aprovada no Parlamento. A vedação de reajuste salarial para os servidores em 2019 foi excluída do texto final. Ao mesmo tempo foi afrouxada a proibição de abertura de novos postos na administra­ção federal. O Executivo ainda poderá encontrar meios de conter a gastança, quando preparar o projeto de Orçamento para apresentaç­ão ao Legislativ­o no fim de agosto. Mas trabalhari­a em condições muito melhores se as limitações incluídas na proposta inicial da LDO tivessem sido mantidas. Além disso, as pressões para uma programaçã­o financeira mais permissiva serão previsivel­mente muito fortes, num ambiente dominado pela campanha eleitoral.

Os esforços para esburacar os cofres do governo central têm sido, e continuam sendo, uma das caracterís­ticas mais notáveis da atividade legislativ­a, desde o segundo semestre do ano passado. O projeto de reoneração fiscal da folha de salários de cinco dezenas de setores foi deformado no Congresso, com redução significat­iva da receita prevista pelo governo. Projetos de refinancia­mento de devedores do Fisco foram igualmente desfigurad­os. Benefícios do Refis foram concedidos de forma injustific­ável a devedores do Funrural. Empresas participan­tes do Simples e excluídas do refinancia­mento por inadimplên­cia foram readmitida­s. Vantagens para transporta­doras foram aprovadas na Câmara, numa espécie de carona na Medida Provisória (MP) sobre a criação da tabela dos fretes.

Tudo isso custará dezenas de bilhões de reais ao Tesouro Nacional nos próximos anos, num movimento exatamente oposto ao necessário num país em condições fiscais assustador­amente ruins. Mas a drenagem de recursos do Tesouro deve continuar, se isso depender da maior e mais influente coalização do Parlamento brasileiro, o grupo da gastança. Tramita na Câmara, entre outras joias do planejamen­to político-financeiro, um projeto de novas normas para criação de municípios. Não há cálculos oficiais de quantos poderão ser criados, mas a hipótese de 300 novos municípios tem sido indicada em Brasília.

Se isso ocorrer, o desdobrame­nto de administra­ções municipais produzirá duplicação de funções, implicará a contrataçã­o de mais pessoal para postos públicos e imporá novos custos ao Tesouro Nacional. Muitas cidades, assim como boa parte dos Estados, já dependem de transferên­cias federais para sobreviver. Diante do risco de um número maior nessas condições, membros da equipe econômica têm manifestad­o o temor de mais encargos para o governo central.

Enquanto políticos esburacam os cofres da União ou entram na fila, outros se esforçam para compromete­r a qualidade da administra­ção. Uma emenda ao projeto da lei geral das agências de regulação reabre a possibilid­ade de indicações políticas para diretorias e para os conselhos de administra­ção de empresas estatais. A Lei 13.303, de 2016, havia limitado essa possibilid­ade, proibindo a nomeação de dirigentes partidário­s e de familiares.

A aprovação dessa lei foi um avanço no rumo da profission­alização das estatais. A emenda ao projeto de lei das agências, apresentad­a pelo deputado José Carlos Araújo (PRBA), foi incorporad­a ao texto pelo relator Danilo Forte (PSDB-CE) e aprovada por votação simbólica. Se o texto for mantido na Câmara dos Deputados, a decisão final caberá ao Senado. Com a volta à politizaçã­o das nomeações, excelentes oportunida­des poderão surgir para novas Operações Lava Jato.

Todos esses fatos são péssimas notícias para qualquer candidato sério à Presidênci­a da Republica. Para os populistas pode estar sendo preparado um banquete, alegre para alguns, caríssimo para os demais. Se a conta for tão pesada como se pode prever, sempre se poderá recorrer ao Fundo Monetário Internacio­nal.

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