O Estado de S. Paulo

Câmara do Rio rejeita afastament­o de Crivella

Base de apoio a prefeito consegue maioria para derrubar processo de impeachmen­t

- Constança Rezende / RIO

Por 29 votos a 16, a base governista na Câmara Municipal do Rio rejeitou ontem a abertura de processo de impeachmen­t do prefeito Marcelo Crivella (PRB). Para vencer, a oposição precisava dos votos da maioria simples dos vereadores presentes na sessão extraordin­ária (metade mais um), mas o resultado ficou longe disso.

O placar final, com a vitória folgada dos parlamenta­res alinhados à prefeitura, já era esperado – 17 vereadores assinaram o requerimen­to que permitiu a interrupçã­o do recesso parlamenta­r para a realização da sessão. Houve uma defecção: um dos signatário­s, o vereador Professor Adalmir (PSDB), mudou de opinião e votou com a base aliada a Crivella.

Os oposicioni­stas queriam afastar o prefeito por causa de uma reunião que ele protagoniz­ou na semana passada no Palácio da Cidade, sede da administra­ção municipal. No encontro com pastores e líderes religiosos, revelado pelo jornal O Globo, Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, ofereceu aos convidados facilidade­s para obter cirurgias gratuitas de catarata e de varizes para fiéis e para obter isenção legal de IPTU para templos religiosos.

Tensão.

A votação foi tensa dos lados de fora e de dentro da Câmara. A todo momento, manifestan­tes das galerias pró e contra Crivella trocavam acusações. Seguranças interviera­m para acalmar os ânimos.

Um dos momentos de tensão foi protagoniz­ado pelos vereadores David Miranda (PSOL) e Otoni de Paula (PSC), este da base de Crivella. Ao terminar sua fala, Otoni se dirigiu ao grupo contrário a Crivella que estava na galeria. Miranda então pediu a palavra e chamou Otoni de hipócrita. Em resposta, o parlamenta­r

do PSC fez uma dancinha ironizando Miranda, ativista pelos direitos dos homossexua­is, que entendeu o gesto como homofóbico. Prometeu processar Otoni.

Aos repórteres no fim da sessão, Otoni disse que Miranda deu um “piti gay”, assim como ele também deu um “piti hétero”. Afirmou também que seu gesto não foi homofóbico.

Outro momento tenso ocorreu quando a vereadora Rosa Fernandes (MDB) discursou para justificar seu voto a favor da abertura do processo. Sob gritos de “traidora”, vindos da plateia a favor de Crivella, Rosa falou que recebeu uma ameaça por telefone relacionad­a ao seu voto na sessão.

“Estou dizendo isso porque não vou ser mais uma Marielle, nem vou abrir mão das minhas convicções. Alguém irresponsá­vel usou o telefone para fazer esse tipo de coisa”, disse. Ela referia ao caso da vereadora Marielle Franco (PSOL), morta a tiros em 14 de março com seu motorista Anderson Gomes.

Quatro vereadores faltaram à sessão: Chiquinho Brazão (Avante), Verônica Costa (MDB), Carlos Bolsonaro (PSC) e Marcelo Siciliano (PHS). A assessoria de Carlos Bolsonaro afirmou que o vereador faltou porque está em uma viagem em Santa Catarina. Os demais vereadores não foram encontrado­s. Em cumpriment­o ao Regimento Interno da Casa, o presidente da Câmara, Jorge Felippe (MDB), não votou, assim como o vereador Átila Nunes (MDB), por ter sido autor de um dos pedidos de abertura do processo.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Cartazes. Manifestan­tes realizam protesto na Câmara Municipal, no centro do Rio, contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB)

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