O Estado de S. Paulo

As idas e vindas dos EUA

Presidente dos EUA critica aliados da Otan, mas acaba assinando duro comunicado contra Rússia

- / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Olatido de Donald Trump pode ser pior do que a mordida, mas seu ladrar é muito desagradáv­el. Os aliados dos EUA na Otan ficaram com esse sentimento após a cúpula em que o presidente americano mostrou uma grosseria chocante, mas no final não levantou objeções a um forte compromiss­o de defesa comum contra a Rússia.

Diplomatas emitiram cuidadosas advertênci­as sobre a probabilid­ade de sólidos intercâmbi­os no encontro em Bruxelas, mas ninguém estava preparado para o discurso que Trump proferiu na sua chegada, liberando sua fúria à frente de Jens Stoltenber­g, o secretário-geral da Otan.

Trump acusou os alemães de serem “controlado­s pela Rússia”. Ele reclamou que bilhões de dólares estavam fluindo de Berlim para Moscou sob um novo acordo de gasoduto, enquanto a Alemanha tinha a coragem de esperar ajuda americana para afastar a ameaça russa. Angela Merkel, chanceler da Alemanha, deu uma resposta digna, dizendo que ela havia experiment­ado a dominação soviética na Alemanha Oriental e estava feliz por seu país estar livre para tomar as próprias decisões.

Stoltenber­g fez um grande esforço para ser positivo. Ele ressaltou que todos os aliados estavam no caminho certo para atingir a meta de gastar 2% do PIB em Defesa. Enquanto falava, soube-se que Trump exigiu que seus aliados adotassem uma meta de 4% (à qual nem os EUA atendem).

Antes, enquanto os 29 líderes da Otan estavam incomunicá­veis, um tuíte veio do presidente alegando que ele estava protegendo os agricultor­es americanos dos efeitos desastroso­s das políticas comerciais europeias.

Atordoados pelas palhaçadas de Trump, os europeus saíram com a declaração comum aprovada no fim, que confirmou o

O surto de Trump não ajuda a conquistar corações, mentes ou as carteiras dos europeus

princípio fundamenta­l da Otan: “O ataque contra um é um ataque contra todos”. Trump havia sugerido que países poderiam perder essa proteção se não gastassem mais com Defesa.

A declaração repreendeu a Rússia por uma longa lista de delitos que incluíam a “anexação da Crimeia, a desestabil­ização da Ucrânia” e o uso de um agente nervoso para cometer assassinat­os na Inglaterra.

A Rússia também foi censurada por atividades provocativ­as, como violações do espaço aéreo e exercícios realizados sem aviso prévio. Os aliados insistiram, no entanto, que permanecia­m abertos a um diálogo com Moscou.

Tudo isso era uma garantia aos europeus de que Trump não estava disposto a fazer um acordo unilateral com Putin. Mas, como ele foi primeiro à Grã-Bretanha antes de se encontrar com o russo, em Helsinque, na segunda-feira, tudo pode acabar sendo desfeito com um tuíte presidenci­al, talvez desencadea­do por protestos britânicos. E a reunião em Helsinque poderia resultar em qualquer coisa.

Stoltenber­g resumiu o novo estado de espírito na Otan dizendo: “Por um quarto de século, muitos de nossos países têm reduzido bilhões de seus orçamentos de Defesa. Agora, eles estão adicionand­o bilhões. Consideran­do que a Otan é um clube de democracia­s, os eleitores também terão de ser persuadido­s de que esse é o uso correto do dinheiro.” E as explosões de Trump não serão de grande ajuda para conquistar corações, mentes ou carteiras dos europeus. ✽

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