As idas e vindas dos EUA
Presidente dos EUA critica aliados da Otan, mas acaba assinando duro comunicado contra Rússia
Olatido de Donald Trump pode ser pior do que a mordida, mas seu ladrar é muito desagradável. Os aliados dos EUA na Otan ficaram com esse sentimento após a cúpula em que o presidente americano mostrou uma grosseria chocante, mas no final não levantou objeções a um forte compromisso de defesa comum contra a Rússia.
Diplomatas emitiram cuidadosas advertências sobre a probabilidade de sólidos intercâmbios no encontro em Bruxelas, mas ninguém estava preparado para o discurso que Trump proferiu na sua chegada, liberando sua fúria à frente de Jens Stoltenberg, o secretário-geral da Otan.
Trump acusou os alemães de serem “controlados pela Rússia”. Ele reclamou que bilhões de dólares estavam fluindo de Berlim para Moscou sob um novo acordo de gasoduto, enquanto a Alemanha tinha a coragem de esperar ajuda americana para afastar a ameaça russa. Angela Merkel, chanceler da Alemanha, deu uma resposta digna, dizendo que ela havia experimentado a dominação soviética na Alemanha Oriental e estava feliz por seu país estar livre para tomar as próprias decisões.
Stoltenberg fez um grande esforço para ser positivo. Ele ressaltou que todos os aliados estavam no caminho certo para atingir a meta de gastar 2% do PIB em Defesa. Enquanto falava, soube-se que Trump exigiu que seus aliados adotassem uma meta de 4% (à qual nem os EUA atendem).
Antes, enquanto os 29 líderes da Otan estavam incomunicáveis, um tuíte veio do presidente alegando que ele estava protegendo os agricultores americanos dos efeitos desastrosos das políticas comerciais europeias.
Atordoados pelas palhaçadas de Trump, os europeus saíram com a declaração comum aprovada no fim, que confirmou o
O surto de Trump não ajuda a conquistar corações, mentes ou as carteiras dos europeus
princípio fundamental da Otan: “O ataque contra um é um ataque contra todos”. Trump havia sugerido que países poderiam perder essa proteção se não gastassem mais com Defesa.
A declaração repreendeu a Rússia por uma longa lista de delitos que incluíam a “anexação da Crimeia, a desestabilização da Ucrânia” e o uso de um agente nervoso para cometer assassinatos na Inglaterra.
A Rússia também foi censurada por atividades provocativas, como violações do espaço aéreo e exercícios realizados sem aviso prévio. Os aliados insistiram, no entanto, que permaneciam abertos a um diálogo com Moscou.
Tudo isso era uma garantia aos europeus de que Trump não estava disposto a fazer um acordo unilateral com Putin. Mas, como ele foi primeiro à Grã-Bretanha antes de se encontrar com o russo, em Helsinque, na segunda-feira, tudo pode acabar sendo desfeito com um tuíte presidencial, talvez desencadeado por protestos britânicos. E a reunião em Helsinque poderia resultar em qualquer coisa.
Stoltenberg resumiu o novo estado de espírito na Otan dizendo: “Por um quarto de século, muitos de nossos países têm reduzido bilhões de seus orçamentos de Defesa. Agora, eles estão adicionando bilhões. Considerando que a Otan é um clube de democracias, os eleitores também terão de ser persuadidos de que esse é o uso correto do dinheiro.” E as explosões de Trump não serão de grande ajuda para conquistar corações, mentes ou carteiras dos europeus. ✽
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