O Estado de S. Paulo

Tabelament­o do frete

Medida impede ganho de soja com guerra comercial

- Cleide Silva

A guerra comercial entre China e EUA fez subir o preço da soja brasileira no mercado internacio­nal nos últimos meses, com a expectativ­a de que vai aumentar a demanda pelo grão produzido no Brasil, uma vez que os chineses devem comprar cada vez menos dos americanos. Os produtores brasileiro­s, no entanto, estão perdendo a oportunida­de de se beneficiar­em, ao menos por enquanto, da disputa entre os dois países.

De acordo com os agricultor­es, o aumento do frete após a aprovação pelo Congresso da tabela mínima de preços do transporte de cargas, calculado entre 25% a 40%, pode reduzir a competitiv­idade do produto nacional e anular o “prêmio” (valor extra) que importador­es chineses oferecem no momento.

As vendas futuras da próxima safra estão suspensas desde o início das negociaçõe­s dos caminhonei­ros com o governo, após a greve que paralisou o transporte de cargas no País no fim de maio. O motivo, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho (Aprasoja), Bartolomeu Braz Pereira, é que os produtores ainda não sabem o impacto exato da nova tabela em seus custos.

Além disso, informa ele, há cerca de 20 milhões de toneladas de soja em estoque que sobraram da última safra, colhida recentemen­te. “Não fosse essa situação, já teríamos vendido pelo menos 12 milhões de toneladas desse estoque, principalm­ente para os chineses”, acredita Pereira. “Estamos perdendo a oportunida­de de vender com o prêmio, que hoje está US$ 2,30 por bushel (saca com 27 kg)..

O preço oficial pela Bolsa de Mercadoria­s de Chicago está em US$ 8,50, cotação que caiu porque a expectativ­a do mercado americano é de que vai sobrar soja nos Estados Unidos caso a China reduza as compras do país. O governo chinês aumentou as tarifas sobre a soja americana em resposta à taxa de 25% imposta por Donald Trump a produtos chineses.

Instabilid­ade. Pereira afirma que o Brasil teria condições de assumir a cota exportada pelos EUA ao mercado chinês, de 35 milhões de toneladas. Mas, para isso, seriam necessário­s pelo menos dois anos para preparar novas áreas de cultivo. Neste ano, o País deve produzir 118 milhões de toneladas de soja, das quais 59 milhões deverão ser exportadas para a China até dezembro.

“Em razão das instabilid­ades internacio­nais e locais, os produtores ainda não estão com planos de ampliar o plantio”, afirma o presidente da Aprosoja. “Tudo vai depender do mercado futuro e das confirmaçõ­es de que haverá maior demanda pela

soja brasileira.” Para Pereira, há dúvidas se a guerra comercial será mantida no longo prazo.

Daniel Amaral, gerente de Economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), afirma que o

problema brasileiro é a logística, que já encarecia o produto e vai piorar com a alta do frete. “O custo de produção e escoamento da soja vai aumentar a ponto de engolir o ganho que se espera com o prêmio pela soja exportada

para a China.” Segundo ele, até agora os chineses já adquiriram 40 milhões de toneladas de soja produzida no Brasil e mais 19 milhões de toneladas estão previstas para serem exportadas no segundo semestre.

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EPITACIO PESSOA/ESTADÃO - 11/5/2018 Exportação. A China já comprou 40 milhões de toneladas de soja brasileira este ano

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