O Estado de S. Paulo

Operação Lava Jato

Hypera ganha ajuda de ex-Camargo em acordo de leniência

- Mônica Scaramuzzo

O executivo Vitor Hallack, que deixou a Camargo Corrêa em agosto de 2016 após dez anos à frente do conselho do conglomera­do, foi contratado pela Hypera, antiga Hypermarca­s, para assessorar a companhia após o grupo ter seu nome envolvido na Operação Tira-Teima. A investigaç­ão, desdobrame­nto da Lava Jato, apura pagamentos de vantagens indevidas a políticos.

Hallack, que também é advogado, foi contratado no fim de abril, quando a companhia começou as conversas com a Procurador­ia-Geral da República (PGR) para tentar fechar acordo de leniência, conforme antecipou o Estado. Hallack não exerce um cargo executivo na empresa. Ele faz consultori­a jurídica para a gigante de medicament­os, e traz como bagagem sua experiênci­a na empreiteir­a que, sob sua gestão, passou por um dos períodos mais críticos de sua história.

A Camargo Corrêa foi a primeira empreiteir­a do País a admitir participaç­ão nos esquemas de cartel e propina na Petrobrás e a fechar acordo de leniência com o Ministério Público e com o Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade), no qual pagou R$ 804 milhões, por causa de seu envolvimen­to na Lava Jato.

A contrataçã­o de Hallack pela Hypera é a tentativa da companhia de tentar virar a página. Além da leniência, João Alves Queiroz Filho, fundador da Hypermarca­s, e seu principal executivo, Claudio Bergamo, estão em negociaçõe­s para fazer delação premiada. As conversas, tanto para leniência quanto para delação, contudo, ainda não estão fechadas. A PGR está confrontan­do as informaçõe­s dos dois antes de tomar uma decisão.

Queiroz e Bergamo se afastaram da empresa no fim de abril. Os dois foram alvos de busca e apreensão na operação Tira-Teima, deflagrada no dia 10 de abril.

Criada para ser a Unilever brasileira, a Hypera teve seu nome envolvido pela primeira vez na Lava Jato em junho de 2015, após o Estado revelar trechos do acordo de colaboraçã­o do ex-diretor de relações institucio­nais do grupo Nelson Mello. Segundo depoimento do exexecutiv­o,

a empresa teria repassado cerca de R$ 30 milhões para os parlamenta­res do MDB por meio dos operadores Lúcio Bolonha Funaro e Milton Lyra. Os repasses teriam como finalidade garantir a atuação desses políticos em temas de interesse da empresa no Congresso.

Anulação. A delação de Mello, no entanto, corre o risco de ser anulada porque o ex-executivo teria omitido informaçõe­s. Fontes a par do assunto afirmam que Júnior estaria disposto a detalhar os pagamentos feitos aos parlamenta­res que ajudaram a abrir as portas da Hypera em Brasília. Entre as vantagens, estariam concessão de benefícios fiscais em Goiás e facilidade­s na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Fontes próximas à Hypera afirmaram ao Estado que Júnior e Bergamo estariam se desentende­ndo sobre o conteúdo das delações.

Em abril, o advogado Celso Vilardi foi contratado para defender a Hypera. O criminalis­ta já conduziu acordos de importante­s empreiteir­as, como a Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. O advogado José Luís Oliveira Lima, do escritório Oliveira Lima, Hungria, Dall’Acqua & Furrier Advogados, representa o fundador da companhia. Bergamo é defendido por Sérgio Rosenthal, da Rosenthal Advogados Associados.

Procurados, a Hypera e Vilardi não comentam o assunto. Hallack confirma que assessora a Hypera desde abril, mas não deu detalhes.

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VALOR ECONÔMICO Experiênci­a. Hallack não tem cargo executivo e faz consultori­a jurídica da Hypera

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