O Estado de S. Paulo

‘É urgente resolver a questão fiscal do País’

Mas economia, diz Guardia, está melhor que na transição de FHC para Lula, quando o mercado também ficou nervoso

- Adriana Fernandes/BRASÍLIA Altamiro Silvia Júnior Renata Pedini/ SÃO PAULO

O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, diz que apesar de a economia brasileira estar melhor hoje do que em 2002, na transição de Fernando Henrique Cardoso para Lula, as contas públicas estão numa situação pior. “Essa é uma questão central e urgente para ser resolvida na economia brasileira”, afirma. Ele vem se encontrand­o com os coordenado­res econômicos dos pré-candidatos à Presidênci­a para situá-los sobre a realidade fiscal do País.

• Com tantos projetos que aumentam os gastos públicos sendo aprovados no Congresso, o sr. acredita que o governo Temer conseguira cumprir a meta fiscal de 2018?

Não temos nenhuma dúvida com relação ao cumpriment­o da meta fiscal. O ano de 2018 está equacionad­o. Tudo que estamos olhando hoje e trabalhand­o fortemente é para melhorar a situação fiscal a partir de 2019. O que temos de assegurar são as condições daqui para a frente. Aí, volta a questão da agenda de reformas que é fundamenta­l. Eu tenho certeza que o Congresso vai ter oportunida­de de avançar.

• O sr. tem se reunido com coordenado­res econômicos dos précandida­tos. Qual o alinhament­o deles com a questão fiscal?

Eu e Ilan Goldfajn (presidente do Banco Central) estamos fazendo uma série de conversas. Nos colocamos à disposição dos economista­s que estão assessoran­do os candidatos para poder explicar e tratar sobre qualquer um dos temas relacionad­os a questões da economia, do Banco Central e do Ministério da Fazenda. Evidenteme­nte, estamos trabalhand­o só com informaçõe­s públicas com os economista­s dos candidatos. Temos uma contribuiç­ão a dar na transição. Podemos contribuir dando a nossa visão sobre o que está acontecend­o na economia brasileira, quais são as prioridade­s e o que precisa ser feito.

• Qual sua percepção dessas conversas?

O que eu tenho sentido é que existe uma percepção muito clara sobre a gravidade do problema fiscal e a absoluta necessidad­e de se endereçar esse problema com a agenda de reformas que está em curso.

• Em que medida a transição atual se assemelha à de 2002. O momento é mais crítico agora ou naquela época?

Naquela época era mais difícil. Em 2002, tivemos um problema externo bastante grave com um nível de reservas muito baixo. Outra diferença fundamenta­l é que hoje temos uma inflação muito baixa e taxa de juros também no menor patamar. Isso nos dá muito mais flexibilid­ade e tranquilid­ade para atravessar período de maior volatilida­de e de incerteza, que é natural no momento de transição política. É verdade que hoje a situação fiscal é muito mais grave porque naquele momento tínhamos superávit e temos agora um déficit primário. Essa é uma questão central e urgente para ser resolvida na economia.

O ano de 2018 está equacionad­o. Tudo que estamos olhando hoje e trabalhand­o fortemente é para melhorar a situação fiscal a partir de 2019.”

Existe uma percepção muito clara sobre a gravidade do problema fiscal’ Entramos no ano com a expectativ­a de cresciment­o do PIB de 3%. Nós e o mercado inteiro. Essa expectativ­a foi sendo revista ao longo do tempo.”

• E as incertezas políticas?

A minha percepção é que cada vez mais os agentes econômicos vão perceber que existe um compromiss­o dos principais candidatos com a continuida­de do processo de reformas. Isso é fundamenta­l. O que falta para o Brasil é continuar avançando na agenda de reformas, da Previdênci­a, a tributária, a abertura comercial.

• O cresciment­o da economia está mais lento. O governo vai rever a projeção de PIB de 2018 e 2019?

Entramos no ano com a expectativ­a de PIB de cresciment­o de 3%. Nós e o mercado inteiro. Essa expectativ­a foi sendo revista ao longo do tempo. Hoje, a média de expectativ­a dos mercados é levemente superior a 1,5% em 2018. Vamos anunciar na semana que vem a nossa revisão da programaçã­o orçamentár­ia financeira e trabalhare­mos com números de cresciment­o do PIB já realizados, que será de 1,6%. Não esperamos nenhuma variação relevante na estimativa de receita. Nossa arrecadaçã­o continua acima da previsão original.

Em relação à pauta-bomba do Congresso, o Senado aprovou nesta semana um decreto suspendend­o a redução dos benefícios fiscais para a indústria de refrigeran­tes e outras medidas. Qual será a reação do governo?

Não temos nenhuma dúvida com relação à legalidade do que foi feito. Mas o que é relevante é que existe sim questionam­ento no Congresso em relação ao mérito dessa medida. É muito claro que qualquer medida que for adotada vamos ter que substituir por alguma outra medida que tenha o mesmo alcance o mesmo efeito do ponto de vista financeiro. É isso que determina a lei e é isso que nós vamos fazer. Os problemas vão aparecendo, nós vamos buscando solução.

O Congresso também está pronto para aprovar proposta que permite a criação de mais 300 municípios.

É algo evidenteme­nte que temos preocupaçã­o porque é projeto que pode ter impacto de aumentar as despesas. Por isso, precisamos discutir esse tema com mais cuidado.

Vamos anunciar na semana que vem a nossa revisão da programaçã­o orçamentár­ia financeira e trabalhare­m os com números de cresciment­o do PIB já realizados, que será de 1,6%.”

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