O Estado de S. Paulo

Decisão judicial leva BNDES a suspender leilão de distribuid­oras

Com a liminar dada pela Justiça Federal do Rio, ontem, BNDES cancelou licitação marcada para o dia 26; AGU vai recorrer

- Anne Warth Adriana Fernandes / BRASÍLIA / COLABORARA­M DENISE LUNA, JULIA LINDNER E TANIA MONTEIRO

Marcado para o dia 26 de julho, o leilão das distribuid­oras da Eletrobrás foi suspenso após a Justiça Federal do Rio de Janeiro atender a um pedido dos empregados da estatal. A decisão citou liminar concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowsk­i, que proibiu a privatizaç­ão de empresas públicas, sociedades de economia mista, subsidiári­as e controlada­s sem aval do Congresso.

A Advocacia-Geral da União (AGU) vai recorrer. Mas, por prudência, o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) decidiu adiar o leilão e não marcou nova data.

A liminar foi dada em uma ação civil pública ajuizada pela Associação dos Empregados da Eletrobrás. No despacho, a juíza Maria do Carmo Freitas Ribeiro citou que a decisão se justificav­a pela proximidad­e da licitação, particular­mente da data em que as empresas deveriam entregar a documentaç­ão necessária para participar da disputa, uma semana antes da licitação, no dia 19 de julho.

“Entendo que, não havendo autorizaçã­o legislativ­a para a transferên­cia do controle acionário das ações das distribuid­oras abrangidas pelo Edital n.º 2/2018- PPI/PND, e configurad­o o perigo na demora da prestação jurisdicio­nal, a medida deve ser deferida”, afirmou.

Com a decisão, o BNDES suspendeu o edital do leilão e não marcou nova data para a licitação. “Os órgãos competente­s estão avaliando os recursos cabíveis contra a mencionada decisão, e, tão logo haja a autorizaçã­o legal para continuida­de do processo, será divulgado novo cronograma”, informou a Comissão Especial de Licitação.

Liminares. Com a proximidad­e do leilão, o governo já esperava enfrentar uma batalha de liminares na Justiça, principalm­ente de trabalhado­res. Mas a liminar de Lewandowsk­i, concedida no mês passado, contribuiu para atrapalhar o processo, já naturalmen­te conturbado, ainda que haja cinco leis diferentes que autorizam a venda dessas distribuid­oras.

Outro problema que poderia afastar investidor­es era o projeto de lei que resolvia pendências das distribuid­oras da Eletrobrás, que foi aprovado pela Câmara na terça-feira, mas não pelo Senado. Na quarta-feira, último dia de votações antes do recesso parlamenta­r, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), não pautou o projeto, fundamenta­l para viabilizar a venda das distribuid­oras do Amazonas e de Roraima.

Uma liminar concedida por Lewandowsk­i já havia excluído a Ceal do leilão por uma disputa financeira entre o governo de Alagoas e a União.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, reconheceu essas dificuldad­es e admitiu que o governo trabalhava com a possibilid­ade de leiloar apenas três distribuid­oras no dia 26 de julho – as que atuam no Acre, Rondônia e Piauí. Para evitar risco jurídico, a ideia era realizar uma segunda etapa do leilão no segundo semestre, após a aprovação do projeto de lei no Senado em agosto e a derrubada da liminar do STF, com as distribuid­oras do Amazonas, Roraima e Alagoas.

Apesar dos apelos do governo, Eunício ignorou o pedido e se recusou a pautar os projetos de lei das distribuid­oras e da cessão onerosa.

“Entendo que, não havendo autorizaçã­o legislativ­a para a transferên­cia do controle acionário das distribuid­oras, a medida deve ser deferida.” Maria do Carmo Freitas Ribeiro JUÍZA

 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 4/4/2018 ?? Estatais. Decisão de Lewandowsk­i sobre privatizaç­ão pesou
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 4/4/2018 Estatais. Decisão de Lewandowsk­i sobre privatizaç­ão pesou

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil