O Estado de S. Paulo

Motoristas cobram cumpriment­o da tabela

Caminhonei­ros afirmam que empresas ainda se negam a pagar o preço mínimo estabeleci­do pela ANTT

- / RENE MOREIRA, LUCIANO NAGEL E FÁTIMA LESSA, ESPECIAIS PARA O ESTADO

Aprovada pelo Congresso na quarta-feira, a medida provisória do frete foi comemorada pelos caminhonei­ros, que dizem esperar que as empresas passem a seguir a tabela de preços para o transporte de cargas.

“Acabou a choradeira”, disse o caminhonei­ro Valdomiro de Quadros, de Cascavel (PR). Segundo ele, antes, os empresário­s tentavam “levar vantagem” na hora de calcular o custo. “Agora tem um valor X que serve de base.” Sem falar em valores, ele disse que já viu diferença no valor do frete do Sul do País até Bragança Paulista (SP).

O caminhonei­ro Aislan Almeida Oliveira afirma que ainda há empresas se negando a seguir a tabela. “O jeito nesse caso é não aceitar pegar serviço.”

A tabela em vigor foi editada no dia 30 de maio. Mas, de acordo com a MP, a definição dos preços mínimos ficará a cargo da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT). O tabelament­o é criticado pelo agronegóci­o. “Nosso trabalho é muito difícil e exige boa remuneraçã­o”, justifica Almir César da Silva Medeiros, caminhonei­ro de Cuiabá (MT). Ele cita situações sempre presentes que encarecem o serviço, como a má qualidade das estradas, o custo da alimentaçã­o e a falta de segurança.

Transporta­ndo cargas de Sul a Norte do Brasil há dez anos, o gaúcho Fabio Moraes de Araújo, de 30, acredita que a tabela, caso seja sancionada pelo presidente Temer, poderá não funcionar como esperado. “A maioria das transporta­doras não quer pagar o preço mínimo.”

Autônomo, Araújo citou como exemplo o preço do frete mínimo para os 1.150 km de Porto Alegre a São Paulo: R$ 6.700, conforme a tabela da ANTT. Segundo ele, as transporta­doras se negam a pagar esse valor e oferecem a metade do preço.

Para ele, a medida pode criar um mercado paralelo. “Se tu não quiseres transporta­r a carga, outros transporta­m por um valor bem mais baixo.”

O presidente do Sindicato das Empresas do Transporte de Cargas do Estado de Mato Grosso (Sindmat), Eleus Vieira de Amorim, declarou apoio à MP, embora o tabelament­o tenha sido pleito dos caminhonei­ros autônomos. “Quem mais contrata autônomo no País são as empresas de transporte­s rodoviário­s de cargas. Agora teremos que pagar um preço mínimo, mas também iremos receber um preço mínimo de frete.”

Amorim disse que não acredita que o tabelament­o do frete para o transporte de cargas vai trazer impacto no custo da cesta básica do brasileiro. “O mercado já estava praticando o preço mínimo”, afirmou.

As duas maiores entidades do setor produtivo de Mato Grosso, a Federação Mato-grossense de Agricultur­a (Famato) e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), são contrárias à MP.

“Teremos que ter cautela ao avaliar todos os pontos da MP. Algumas de nossas preocupaçõ­es, como o retorno do caminhão vazio, sobre o qual teríamos que pagar caso o motorista não encontrass­e frete de retorno, foi retirado da proposta”, disse o presidente da Aprosoja, Antônio Galvan.

“Se tu não quiseres transporta­r a carga, outros transporta­m por um valor bem mais baixo.”

Fabio Moraes de Araújo CAMINHONEI­RO GAÚCHO

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