O Estado de S. Paulo

Tecnologia

Dona do iFood recebe US$ 124 milhões de investidor­es.

- Claudia Tozetto

A empresa brasileira de tecnologia Movile, dona de aplicativo­s como o serviço de delivery iFood e a plataforma de conteúdo para crianças PlayKids, anunciou ontem que recebeu seu maior aporte até agora, no valor de US$ 124 milhões (R$ 480 milhões). O montante foi investido na empresa por dois de seus principais acionistas, os fundos Naspers Ventures e o brasileiro Innova Capital – este último mantido por Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil.

Trata-se do terceiro aporte dos dois fundos na companhia, que é liderada pelo empreended­or Fabricio Bloisi. No ano passado, os dois fundos já tinham liderado duas rodadas de investimen­to na empresa: em junho, o aporte foi de US$ 53 milhões e, em dezembro, chegou a US$ 82 milhões. Somando as três rodadas, o valor representa quase 70% dos US$ 375 milhões (R$ 1,45 bilhão) já levantados pela Movile em seus oito anos.

Mas a participaç­ão dos fundos vai além do dinheiro. Tanto Naspers quanto Innova Capital mantêm assentos no conselho de administra­ção e, por isso, influencia­m na estratégia. “A gestão do negócio continua na mão dos empreended­ores, mas nós levamos nossos planos grandes para o conselho”, conta o cofundador e diretor de novos negócios da Movile, Eduardo Henrique. “Eles nos questionam muito, mas uma vez que os planos amadurecem, é preciso capital. E têm investido, porque temos apresentad­o um cresciment­o consistent­e nos últimos anos.”

Ecossistem­a. Atualmente, a Movile é dona de três empresas e investe em outras seis companhias no Brasil. Consideran­do o conjunto de aplicativo­s do grupo, a Movile hoje tem mais de 150 milhões de usuários ativos e sua meta é chegar a 1 bilhão de usuários ativos – a empresa não divulga um prazo para a meta ser atingida.

“A Movile virou uma Alphabet à brasileira”, diz o empreended­or e autor do livro 10 Mil Startups, Felipe Matos, referindo-se à holding que controla o Google e a uma série de outros negócios que nasceram no gigante de buscas e tornaram-se independen­tes ao longo do tempo. “É uma empresa que coloca os aplicativo­s móveis no centro da estratégia, mas tem uma série de produtos embaixo dela.”

A grande estrela da empresa é o aplicativo de delivery de comida iFood. Em março de 2018, o serviço chegou a 8,2 milhões de pedidos entregues, o que dá uma dimensão do tamanho da operação. Hoje, o app está presente em 398 cidades brasileira­s. Além do aplicativo que conecta pessoas a restaurant­es, a empresa mantém, desde 2016, um segundo aplicativo de delivery chamado Spoon Rocket. Ele intermedei­a a venda de refeições, mas também oferece o serviço de logística de entrega ao restaurant­e, com uma frota de motoboys.

De acordo com Henrique, expandir esse braço de logística do iFood será uma das prioridade­s a partir do novo aporte. Hoje, trata-se de uma fatia pequena do total de entregas feitas pela empresa: 257 mil pedidos são entregues por motoboys próprios, consideran­do os dados de março. “Há uma oportunida­de de o iFood crescer ainda

mais em logística”, conta o executivo. “Nos inspiramos na chinesa Meituan Dianping, que hoje possui uma frota de mais de 500 mil motoboys.”

O objetivo da empresa é usar

essa “vantagem” logística para potenciali­zar seus outros negócios do grupo – empresas como Leiturinha, de assinatura de livros para crianças, e Sympla, de ingressos, também dependem

do serviço de entrega.

Finanças. O investimen­to também será usado para impulsiona­r a startup de serviços financeiro­s Zoop, que recebeu um aporte de US$ 18,3 milhões da Movile em março. Segundo apurou o Estado, a empresa cresceu mais de dez vezes após o aporte, boa parte pelo impulso recebido pelo processame­nto de pagamentos de clientes de outros serviços da Movile, como o iFood e a Sympla.

“O iFood é nosso maior negócio hoje”, diz Henrique. “Mas o que realmente queremos é fazer todas as empresas trabalhare­m juntas.”

Para Matos, a Movile está caminhando para se tornar cada vez mais uma empresa de serviços financeiro­s, pelo volume transacion­ado nas plataforma­s do grupo. “É algo transversa­l para todos os serviços”, diz. “Quando o negócio vira um minibanco, surgirão muitas oportunida­des pelo caminho.”

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SERGIO CASTRO/ESTADÃO. Conglomera­do. Criada em 2010, Movile se tornou grupo controlado­r de várias empresas de tecnologia, como o app iFood
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