O Estado de S. Paulo

‘COMO ÁRBITRA, SOFRI PRECONCEIT­O NO BRASIL’

- /SOFIA PATSCH

Karen Callado Ferreira tinha um sonho. “Queria ser jogadora profission­al de futebol.” Com essa meta ela se mudou para a Califórnia – de onde falou à coluna –, Estado no qual mora há três anos, e lá seu destino mudou. Ela continuou em campo, mas apitando. Karen diz que sentiu muito mais o “peso” de ser mulher árbitra no Brasil do que nos EUA. E avisa: “Gostaria de recordar que ano que vem teremos a Copa do Mundo Feminina na França e, por enquanto, esse é o posto mais alto ao qual as árbitras conseguem chegar.” Confira entrevista a seguir.

• Sofreu muito preconceit­o na carreira por ser mulher?

Como jogadora e árbitra posso dizer que sofri preconceit­o no Brasil. Nos Estados Unidos, nunca sofri e espero não sofrer, as coisas aqui são um pouco diferente. Faço parte do programa de desenvolvi­mento de árbitros dos EUA, no qual a própria USSoccer e a Calsouth (RPD) investem e qualificam os profission­ais – e noto que eles não estão preocupado­s com sexo. E sim, com desenvolvi­mento e qualidade. Mas, como sempre digo: “A mulher precisa provar duas vezes”. A primeira é se é capaz. E a segunda, se sabe o que faz.

• Qual o seu balanço sobre o uso do arbitro de vídeo na Copa? A ferramenta fez diferença positiva nas partidas?

Mais para positivo do que para negativo. Essa tecnologia vem com o propósito de ajudar em uma decisão correta, na qual a FIFA define os cenários como: marcação de gol, cartão vermelho, marcação de pênalti, identifica­ção errada de jogador punido e as jogadas de mão na bola ou bola na mão – chamadas de jogada de punho – que serão analisadas dentro do campo, através de um monitor, e pelo juiz (a). Não há limites pra solicitaçõ­es. Se entre essas situações do jogo o árbitro (a) não tem uma decisão clara, a ferramenta de vídeo faz a diferença.

• Por que ainda não há mulheres apitando os jogos da Copa? Em quanto tempo veremos isso acontecer?

Esse assunto vem sendo bastante comentado aqui nos EUA, principalm­ente pelas jovens árbitras. Mas para apitar um jogo de Copa do Mundo existem muitos passos. Afinal, é onde a maioria dos árbitros (as) querem chegar.

• O que tem sido discutido sobre o tema nos EUA?

Fala-se muito entre as mulheres sobre os testes físicos para jogos da Copa. É necessário que o árbitro passe nesse teste, hoje voltado apenas para o sexo masculino. Fisiologic­amente é um pouco difícil, mas não é impossível. Acredito que isso não seja um problema por ser mulher. Por outro lado, eu gostaria de recordar que, no ano que vem, teremos a Copa do Mundo Feminina na França – que quase não é divulgada, comparada ao que se viu no mundial masculino. Espero contar com todo o suporte para ver as mulheres dando show de bola. Por enquanto, esse é o posto mais alto ao qual árbitras conseguem chegar.

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