O Estado de S. Paulo

‘Aposentado­ria compulsóri­a não é prêmio, mas castigo’

Condenada em caso que envolveu venda de sentenças, ex-presidente do TJ de Tocantins fala em ‘decisões políticas’

- BRASÍLIA ex-presidente do Tribunal de Justiça de Tocantins / T.C.

Willamara Leila de Almeida, Um dos casos de condenação após aposentado­ria compulsóri­a é o da desembarga­dora Willamara Leila de Almeida, expresiden­te do Tribunal de Justiça do Tocantins. Ela foi afastada do cargo em 2011, após uma operação da Polícia Federal apontar o envolvimen­to da magistrada em esquema de venda de sentença e fraude em cobrança de precatório­s. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu pela aposentado­ria compulsóri­a em 2012 e, três anos depois, ela foi condenada pela Justiça a 5 anos e 10 meses de prisão em regime semiaberto por peculato e porte ilegal de arma. Em maio deste ano, porém, o Tribunal de Justiça reduziu a pena para 2 anos e 8 meses e declarou extinta a punição.

Em entrevista ao Estado, Willamara afirmou que existe “corporativ­ismo e política infiltrada” nos tribunais. “Gostaria de ter sido julgada logo no primeiro ano, ainda que eu fosse condenada. Gostaria de ter sido julgada para não viver nessa pseudopris­ão que vivo. Isso é um mal muito maior para o réu do que se tivesse sido julgado com celeridade”, afirmou.

A aposentado­ria compulsóri­a foi uma punição justa? Preferiria não receber nada e ter as provas contra mim analisadas e, depois, absolvida, do que receber o que recebo. Não é um prêmio, como muitas pessoas acham. Para mim, é castigo, mesmo recebendo um valor por mês sem trabalhar. Queria trabalhar para fazer jus ao recebiment­o. Tenho plena condição física de trabalhar.

A sra. vê corporativ­ismo no Judiciário?

Corporativ­ismo e política infiltrada nos tribunais. Gostaria de ter sido julgada no primeiro ano, ainda que fosse condenada, para não viver nessa pseudo prisão. Isso é um mal muito maior para o réu do que se tivesse sido julgada com celeridade. Para quem tem o que temer, é bom. Quanto mais tempo melhor. No meu caso, não.

A sra. disse que há política infiltrada nos tribunais. Pode explicar melhor essa declaração? Totalmente. Minha aposentado­ria foi eminenteme­nte política. Se vier aqui em Palmas e conversar com os advogados, servidores… Eu tinha muitas construçõe­s (de fóruns), estava fazendo um trabalho. Em um ano e dez meses, inaugurei dez fóruns. Construí 60 em todas as cidades. Isso para os políticos… Eu fiquei com uma visibilida­de tão grande que acharam que eu era candidata.

Quais prejuízos a indefiniçã­o do caso trouxe para a sra.?

Vivo enclausura­da desde o dia em que fui afastada. Era exposta na mídia por coisas boas, depois comecei a ser exposta por coisas ruins. Fui expulsa do meu cargo, não tive condição de me defender. É um sofrimento que não tem como descrever. Fui afastada há sete anos. Estava no pleno exercício da presidênci­a. Minha condenação foi algo que deixaram prescrever para não absolver.

O que a sra. faz hoje?

Não tenho condição de fazer absolutame­nte nada. Fui aposentada compulsori­amente, recebo menos da metade do salário. Às vezes, pessoas falam que não é punição, mas ninguém iria querer passar por isso. Luto para ter minha OAB (registro na Ordem dos Advogados do Brasil) de volta e entrei com processo para anular a aposentado­ria.

 ?? LIA MARA/O POPULAR-10/4/2015 ?? Punição. Willamara diz que vive ‘enclausura­da’
LIA MARA/O POPULAR-10/4/2015 Punição. Willamara diz que vive ‘enclausura­da’

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