O Estado de S. Paulo

Debênture isenta de IR passa de R$ 10 bilhões no 1º semestre

Incentivo do BNDES e melhora no apetite do investidor fizeram as emissões superarem todo o ano de 2017

- Jéssica Alves

As debêntures incentivad­as foram destaque entre as emissões de títulos de renda fixa corporativ­os no primeiro semestre deste ano e chegaram a R$ 10,8 bilhões, o maior valor desde o lançamento em 2012. Entre os motivos para a onda de oferta está o incentivo do BNDES e maior atrativida­de dos investimen­tos de longo prazo, que já oferecem rentabilid­ades melhores com possível alta da inflação e da taxa básica de juros, a Selic.

Com as aplicações de renda fixa recuperand­o o brilho na prateleira de investimen­tos, este produto é uma das apostas para quem quer diversific­ar e não está olhando tanto para o prazo da aplicação e o risco. Esses títulos de longo prazo têm isenção de Imposto de Renda. Em contrapart­ida, o governo exige que as companhias usem o dinheiro para projetos de infraestru­tura.

A emissão recorde das debêntures com este fim chegou a superar em seis meses todo o ano de 2017, quando somaram R$ 9 bilhões, segundo a B3. Elas também lideram em número de captações e respondem por 57% do que foi arrematado pelo mercado de capitais em 2018. O total captado foi de R$ 9,6 bilhões, contra R$ 2,1 bilhões do mesmo período de 2017. A alta foi de 353%, segundo a Anbima, Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais.

Como catalisado­res desse avanço, José Eduardo Laloni, diretor da associação, cita a queda da Selic, que levou os investidor­es

a olharem para outros produtos menos conservado­res, não só o Tesouro, por exemplo. Outro passo favorável foi a ação do BNDES de frear os desembolso­s para as empresas, forçandoas a buscarem outros meios de arrecadar recursos. Em maio, o

BNDES anunciou que vai destinar R$ 5 bilhões para fundos de infraestru­tura, o que cresce os olhos dos gestores institucio­nais, detentores de 57,9% das debêntures incentivad­as. “Com esse fomento, a lógica é que democratiz­e o acesso a essa aplicação, melhore o arcabouço legal, a concentraç­ão e flexibiliz­e mais o prazo de alocação.” Os fundos minimizam o risco dessa aplicação, explica Rafael Zlot, sócio e gestor de crédito do Brasil Plural, pois une em um lugar só diversas empresas e deixa a escolha a cargo de um profission­al. Por não contar com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito, de até R$ 250 mil, o investidor precisa escolher com cautela a empresa na qual vai investir, para não correr o risco de levar um calote.

Zlot diz que o pior para as empresas de infraestru­tura já passou. “Elas são sobreviven­tes do cenário horrível de 2015 e 2016, estão em um novo momento e melhor”, diz.

A rentabilid­ade das debêntures incentivad­as segue, em geral, uma taxa prefixada mais a inflação pelo IPCA. O retorno real médio foi de 6,2% no primeiro semestre de 2018. Já o Tesouro IPCA está com taxa de 5,77%.

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