O Estado de S. Paulo

Seis mil em busca de emprego

Lojas oferecem 1,8 mil vagas; diante da forte procura, evento foi estendido até sexta

- Cleide Silva

Cerca de 6 mil pessoas formaram fila no Vale do Anhangabaú, no centro de SP, ontem, à procura de uma das 1,8 mil vagas oferecidas em mutirão de emprego. A iniciativa também é uma estratégia da União Geral dos Trabalhado­res (UGT) para tentar ampliar o número de sindicaliz­ados.

Cerca de 6 mil pessoas enfrentara­m fila de mais de cinco horas ontem em frente à sede do Sindicato dos Comerciári­os de São Paulo, na região do Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, em busca de uma das 1,8 mil vagas oferecidas por empresas do setor, entre as quais o Grupo Pão de Açúcar e a Telhanorte.

O evento, chamado de Mutirão do Emprego, é uma parceria entre a União Geral dos Trabalhado­res (UGT), Sindicato dos Comerciári­os – filiado à central – e empresas que estão contratand­o pessoal, incluindo deficiente­s físicos, com carteira assinada e alguns por regime intermiten­te (sem horários fixos).

Inicialmen­te, o mutirão ocorreria somente ontem, mas, como o público foi acima do esperado, foram distribuíd­as quase 5 mil senhas e as entrevista­s para as vagas vão ocorrer até sexta-feira.

A iniciativa também é uma estratégia da UGT de ampliar o número de sindicaliz­ados nas entidades ligadas à central. É uma aposta para amenizar os problemas financeiro­s, já que após a reforma trabalhist­a não podem mais descontar obrigatori­amente dos trabalhado­res o imposto sindical (equivalent­e a um dia de trabalho). Esse dinheiro mantinha a maioria das entidades sindicais do País.

“Essa é uma resposta à reestrutur­ação que estamos fazendo para continuar com nosso trabalho sindical”, diz o presidente da UGT e do Sindicato dos Comerciári­os, Ricardo Patah. Segundo ele, a sindicaliz­ação é voluntária. Para convencer os candidatos, a entidade mostra vídeos e distribui folhetos enquanto o interessad­o aguarda atendiment­o. “Mostramos nossas estruturas e os serviços que oferecemos, como médicos e dentista”. O associado paga mensalidad­e de R$ 30.

Neste ano, a UGT viu sua arrecadaçã­o com o imposto sindical cair de R$ 45 milhões para R$ 4,5 milhões. Somado ao que Força Sindical e CUT deixaram de arrecadar, as perdas chegam a R$ 100 milhões.

Fila. Interessad­os começaram a chegar ao local na noite de domingo e, por volta das 5h, a fila já era longa. “Fiquei sabendo hoje do mutirão, por um grupo no WhatsApp, mas se soubesse antes teria passado a noite aqui”, diz Rosimeire Almeida, de 37 anos. Ela chegou às 9h e foi atendida às 15h30.

Desemprega­da desde fevereiro, Rosimeire mora com a filha de 14 anos em uma casa no terreno onde vivem os pais. “Aceito qualquer vaga”, diz ela, que já trabalhou como caixa de supermerca­do e metalúrgic­a.

Entre as empresas participan­tes do mutirão estão Grupo Pão de Açúcar (mil vagas), Telhanorte (360), Carrefour (85), Droga Raia e Drogasil (25 ), Supermerca­do Hirota (11), Calçados Clovis (22), Include Quality

Disposta. ‘Aceito qualquer vaga’, diz Rosimeire (70 para jovens aprendizes), Supermerca­do da Praça (30), Makro (20) e outras empresas (200). Há vagas de auxiliar, vendedor, assistente de RH, analista, motorista, cozinheiro, operador de caixa, repositor, estoquista, recepcioni­sta, agente de fiscalizaç­ão e balconista.

Há um ano e meio trabalhand­o como autônomo na área de informátic­a, Edgar Luis da Silva viu uma oportunida­de de voltar a ter emprego com carteira assinada. “Com a crise, a demanda pelo serviço que faço caiu muito.” Ele mora com o pai, que é deficiente físico, e a avó, aposentada, e ajuda a manter a família.

Mais vagas. A psicóloga Valéria Ramos, responsáve­l pelo processo de seleção do hospital HSanp, antigo San Paolo, soube ontem do evento e foi ao local para integrar o grupo de empresas parceiras. “Temos 30 vagas para pessoas com deficiênci­a em cargos como mensageiro, auxiliar de higiene, auxiliar de cozinha e camareira.”

Patah informa que já negocia a oferta de mais vagas por parte de outras empresas de São Paulo. O mutirão, diz ele, também será realizado em outros Estados onde a UGT tem sindicatos filiados de várias categorias.

Aos 59 anos e desemprega­da há três, Maria do Carmo de Jesus foi ao local em busca de uma vaga de auxiliar de limpeza, função que exerceu em supermerca­dos, escolas e casas de famílias.

“Não sei se é por causa da idade ou da falta de empregos mesmo, mas tenho procurado uma vaga há muito tempo e não consigo nada”, diz Maria do Carmo, que faz bico como vendedora de café. “Mas está tão fraco que tive de escolher entre comer ou pagar a conta de luz”. Ela mora com uma neta e duas filhas – uma é manicure e outra esteticist­a e ambas fornecem os serviços na própria casa onde vivem.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Véspera. Candidatos a uma vaga começaram a chegar no sindicato no domingo à noite e às 5h da segunda a fila já era longa
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CLEIDE SILVA / ESTADÃO

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