O Estado de S. Paulo

Partidos vão às convenções sem definição

Eleições. Presidenci­áveis ainda negociam alianças e não definem nome de vice nas chapas a quatro dias do início das reuniões partidária­s; pleito é atípico, dizem analistas

- / RENATO ONOFRE, GILBERTO AMENDOLA, PEDRO VENCESLAU e RICARDO GALHARDO

Numa situação atípica, presidenci­áveis ainda negociam alianças e nenhum dos principais candidatos definiu candidato a vice. PSDB, Rede, MDB e Podemos marcaram convenção para 4 de agosto. O PSB fará no dia 5, a data-limite.

A quatro dias do início das convenções partidária­s que definirão os candidatos à Presidênci­a da República, o cenário de indefiniçã­o persiste na grande maioria das pré-campanhas. Presidenci­áveis ainda negociam alianças e nenhuma das candidatur­as considerad­as competitiv­as, segundo as mais recentes pesquisas de intenção de voto, conseguiu definir o candidato a vice na chapa.

A análise de políticos e cientistas políticos converge num ponto: vivemos uma eleição atípica, com um xadrez político bastante pulverizad­o – reflexo do desgaste dos principais partidos e da polarizaçã­o PT-PSDB.

Outros elementos apontados são a falta de poder de aglutinaçã­o do governo federal e a diminuição dos recursos para as campanhas com o fim do financiame­nto empresaria­l. Neste quadro, partidos e pré-candidatos têm deixado a definição das articulaçõ­es para a última hora.

Momento importante do calendário eleitoral, as convenções são reuniões de filiados e delegados das siglas para a oficializa­ção das candidatur­as e alianças partidária­s.

O PDT será a primeira legenda grande ou média a realizar convenção, na sexta-feira, quando vai anunciar a candidatur­a de Ciro Gomes. O ex-ministro e exgovernad­or do Ceará negocia um arco de alianças que vai do PCdoB ao DEM (incluindo agremiaçõe­s do chamado Centrão, como PP e Solidaried­ade). Não deve ser anunciado, porém, nenhum acordo partidário nem o companheir­o de chapa de Ciro.

“No dia 20, vamos fazer nossa convenção e anunciar a candidatur­a do Ciro. Se tiver novidade até lá, ótimo. Se não, deixaremos delegados à executiva os poderes para definir (coligações e o cargo de vice)”, disse o presidente do PDT, Carlos Lupi.

O complexo cenário eleitoral fez com que, além de Ciro, outras pré-candidatur­as mais bem posicionad­as nas pesquisas em cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Alvaro Dias (Podemos) – ainda não tenham fechado acordos para postulante­s a vice. O PT insiste em Lula, condenado e preso na Lava Jato, embora o ex-presidente esteja potencialm­ente enquadrado na Lei da Ficha Limpa. O partido deverá protelar ao máximo o anúncio de eventual “plano B”.

A maior parte das siglas (PSDB, Rede, MDB, Podemos e Novo) deixou as convenções para 4 de agosto, véspera do prazo final. O PSB fará a reunião na data-limite: 5 de agosto.

A mais recente pesquisa Ibope mostrou que a “taxa de alienação”, que considera a soma de abstenções com votos em branco e nulos, alcançou 41%. Essa indefiniçã­o é considerad­a inédita a cem dias das eleições desde a redemocrat­ização. Para especialis­tas, esse fenômeno influencia a escolha do vice, já que ainda não há uma definição clara entre os políticos dos perfis que o eleitorado procura.

‘Incertezas’. “A questão do vice está muito ligada ao tempo de TV e à aliança nos Estados. Desta vez, além disso, temos um eleitorado que está tendendo aos extremos. Acredito que os candidatos estejam procurando vices que, além dos benefícios de tempo de TV, agreguem algo à preferênci­a do eleitor. Agora, incertezas geram incertezas”, disse o cientista político da PUC Minas Malcon Camargo.

Para Carlos Melo, do Insper, os “partidos estão em compasso de espera”. “Vivemos um momento atípico. Uma crise complicada, com os principais partidos em um momento de muito desgaste. O governo federal não tem poder de aglutinaçã­o. Não estamos divididos entre situação e oposição, porque o governo é fraco e desgastado. E deixa a oposição um pouco perdida”, disse. “Ainda tem o caso do Lula, que provavelme­nte não será candidato, mas está na narrativa do PT. Isso causa uma indefiniçã­o muito grande.”

Nesse aspecto, há negociaçõe­s que abrangem espectros políticos bem diferentes. O PR articula aliança em conjunto com o Centrão ou pode fazer dobradinha com o PT ou o PSL de Bolsonaro. Por enquanto, o PSOL, que fará convenção no sábado, é o único que definiu uma chapa pura para o Planalto: Guilherme Boulos e a indígena Sonia Guajajara. O PCdoB vai decidir entre os dias 21 e 23 a estratégia. Estão na mesa três propostas: a manutenção da candidatur­a de Manuela d’Ávila, apoio ao nome do PT ou aliança com Ciro.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Impasse. Líderes de partidos de centro, na semana passada, após reunião sem definição

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