Trump defende russos
Tabelinha. Na Finlândia, presidentes dos EUA e da Rússia garantem que Moscou não contribuiu para chegada de magnata à Casa Branca em 2016; líder americano é criticado até por republicanos, por desconsiderar provas de agências de inteligência do país
Em encontro com Putin na Finlândia, Trump negou ação da Rússia na eleição americana e criticou o FBI.
Depois de cinco dias disparando críticas contra seus aliados na Europa Ocidental, aos quais chamou de “inimigos”, o presidente dos EUA, Donald Trump, encerrou ontem sua turnê europeia em alta sintonia com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.
O encontro foi marcado por amabilidades, como quando Trump elogiou a organização da Copa do Mundo e ganhou uma bola oficial de presente. Ao término da reunião bilateral, realizada na Finlândia, os dois líderes negaram que tenha havido manipulação por parte de Moscou nas eleições americanas de 2016, que levaram o republicano à Casa Branca. Trump afirmou ainda confiar mais no Kremlin do que nas investigações em curso do FBI.
Trump e Putin abriram a entrevista coletiva falando do assunto mais comentado da agenda bilateral: a votação na qual a candidata democrata, Hillary Clinton, acabou sabotada por hackers russos. Na defensiva, Putin desmentiu que tenha havido uma influência de seu país no resultado. “A Rússia nunca interferiu e não planeja interferir em assuntos de política doméstica dos EUA, incluindo eleições”, afirmou.
Trump também defendeu sua vitória, afirmando que “é uma vergonha” que possa haver dúvida sobre o tema. Depois, ele questionou os serviços de inteligência americanos, dizendo acreditar mais na palavra de Putin do que nos informes do FBI. “Eles dizem que foi a Rússia. Tenho o presidente Putin ao meu lado, e ele acabou de dizer que não foi”, declarou o americano. “Tenho grande confiança no meu pessoal de inteligência, mas o presidente Putin foi extremamente forte em sua negativa hoje.”
O americano também disse que a condenação de 12 membros dos serviços secretos russos tem um viés político perigoso, pois, segundo ele, ajuda na deterioração das relações com Moscou. “Elas nunca estiveram tão ruins”, afirmou Trump. “Até durante as tensões da Guerra Fria, quando o mundo parecia muito diferente de hoje,
Rússia e EUA foram capazes de manter um diálogo forte.”
A partir de então, Trump e Putin enumeraram as razões pelas quais os dois países têm de estabelecer um “diálogo direto, aberto e produtivo”. Trump reiterou seu desejo de construir uma “relação extraordinária” com a Rússia e ambos prometeram colaborar em temas como luta contra o terrorismo, controle de armas nucleares e os conflitos na Crimeia e na Síria, nos quais Washington e Moscou estão em campos opostos.
O desempenho de Trump irritou senadores e deputados dos dois partidos. O líder republicana na Câmara, Paul Ryan, criticou o presidente. “Não há equivalência moral entre EUA e Rússia, que continua hostil aos nossos ideais e valores fundamentais”, afirmou Ryan.
“Chance desperdiçada pelo presidente para responsabilizar a Rússia com firmeza pela interferência de 2016 e enviar um alerta forte quanto a futuras eleições. Esta resposta será vista pela Rússia como um sinal de fraqueza e criará mais problemas do que resolverá”, disse o senador republicano Lindsey Graham.
“O desempenho de Trump em Helsinque ultrapassa o limite de ‘crimes e delitos graves’. Não foi nada menos que traição”, disse John Brennan, exchefe da CIA. “A coletiva de Helsinque é um dos momentos mais vergonhosos de um presidente americano na história”, afirmou o republicano John McCain.