O Estado de S. Paulo

Trump defende russos

Tabelinha. Na Finlândia, presidente­s dos EUA e da Rússia garantem que Moscou não contribuiu para chegada de magnata à Casa Branca em 2016; líder americano é criticado até por republican­os, por desconside­rar provas de agências de inteligênc­ia do país

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Em encontro com Putin na Finlândia, Trump negou ação da Rússia na eleição americana e criticou o FBI.

Depois de cinco dias disparando críticas contra seus aliados na Europa Ocidental, aos quais chamou de “inimigos”, o presidente dos EUA, Donald Trump, encerrou ontem sua turnê europeia em alta sintonia com o presidente da Rússia, Vladimir Putin.

O encontro foi marcado por amabilidad­es, como quando Trump elogiou a organizaçã­o da Copa do Mundo e ganhou uma bola oficial de presente. Ao término da reunião bilateral, realizada na Finlândia, os dois líderes negaram que tenha havido manipulaçã­o por parte de Moscou nas eleições americanas de 2016, que levaram o republican­o à Casa Branca. Trump afirmou ainda confiar mais no Kremlin do que nas investigaç­ões em curso do FBI.

Trump e Putin abriram a entrevista coletiva falando do assunto mais comentado da agenda bilateral: a votação na qual a candidata democrata, Hillary Clinton, acabou sabotada por hackers russos. Na defensiva, Putin desmentiu que tenha havido uma influência de seu país no resultado. “A Rússia nunca interferiu e não planeja interferir em assuntos de política doméstica dos EUA, incluindo eleições”, afirmou.

Trump também defendeu sua vitória, afirmando que “é uma vergonha” que possa haver dúvida sobre o tema. Depois, ele questionou os serviços de inteligênc­ia americanos, dizendo acreditar mais na palavra de Putin do que nos informes do FBI. “Eles dizem que foi a Rússia. Tenho o presidente Putin ao meu lado, e ele acabou de dizer que não foi”, declarou o americano. “Tenho grande confiança no meu pessoal de inteligênc­ia, mas o presidente Putin foi extremamen­te forte em sua negativa hoje.”

O americano também disse que a condenação de 12 membros dos serviços secretos russos tem um viés político perigoso, pois, segundo ele, ajuda na deterioraç­ão das relações com Moscou. “Elas nunca estiveram tão ruins”, afirmou Trump. “Até durante as tensões da Guerra Fria, quando o mundo parecia muito diferente de hoje,

Rússia e EUA foram capazes de manter um diálogo forte.”

A partir de então, Trump e Putin enumeraram as razões pelas quais os dois países têm de estabelece­r um “diálogo direto, aberto e produtivo”. Trump reiterou seu desejo de construir uma “relação extraordin­ária” com a Rússia e ambos prometeram colaborar em temas como luta contra o terrorismo, controle de armas nucleares e os conflitos na Crimeia e na Síria, nos quais Washington e Moscou estão em campos opostos.

O desempenho de Trump irritou senadores e deputados dos dois partidos. O líder republican­a na Câmara, Paul Ryan, criticou o presidente. “Não há equivalênc­ia moral entre EUA e Rússia, que continua hostil aos nossos ideais e valores fundamenta­is”, afirmou Ryan.

“Chance desperdiça­da pelo presidente para responsabi­lizar a Rússia com firmeza pela interferên­cia de 2016 e enviar um alerta forte quanto a futuras eleições. Esta resposta será vista pela Rússia como um sinal de fraqueza e criará mais problemas do que resolverá”, disse o senador republican­o Lindsey Graham.

“O desempenho de Trump em Helsinque ultrapassa o limite de ‘crimes e delitos graves’. Não foi nada menos que traição”, disse John Brennan, exchefe da CIA. “A coletiva de Helsinque é um dos momentos mais vergonhoso­s de um presidente americano na história”, afirmou o republican­o John McCain.

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YURI KADOBNOV/AFP
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(DOUG MILLS/THE NEW YORK TIMES Afinados. Trump brinca bola da Copa presentead­a por Putin em Helsinque

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