O ‘CARA’ DO BOLÃO DA COPA
Aplicativo foi desenvolvido como brincadeira familiar, mas atraiu cerca de 100 mil downloads
Julio Cesar Vedana, de 37 anos, criou um aplicativo para apostas da família na Copa. De brincadeira, deixou na Apple Store e no Google Play. O aplicativo Bolão 2018 virou febre, com cerca de 100 mil downloads.
Na tarde da abertura da Copa do Mundo, a única – e triste – solução parecia ser acabar com algo que mal havia começado. Formado em educação física e filho de um ex-usineiro do Centro-Oeste, Julio Cesar Vedana, de 37 anos, tinha criado seu primeiro aplicativo de celular: um bolão que travou assim que o primeiro jogo começou na Rússia. A ideia inicial era bolar um jeito inovador de amigos e familiares fazerem as tradicionais apostas nos jogos. O resultado ficou tão bom que ele resolveu, meio de brincadeira, deixar disponível na Apple Store e na Google Play.
Essa foi a primeira Copa em que os bolões saíram do papel ou das planilhas de Excel. E a cada dia o número de pessoas que baixava o aplicativo dobrava, dos 20 primeiros, para 40, 80, 160. “Dois dias antes de a Copa começar, tínhamos 5 mil pessoas e pensamos que ninguém mais entraria porque precisaria de um tempo para os grupos se organizarem”, conta.
Mas foram mais 20 mil só no dia seguinte e um total de 50 mil usuários quando o Mundial começou. O Bolão 2018 se tornou o aplicativo do gênero mais baixado do mundo, com cerca de 100 mil downloads.
O problema foi que Vedana não tinha um bom servidor para aguentar tanta gente acessando o aplicativo ao mesmo tempo. Para tentar salvar o projeto, contratou um serviço melhor, de emergência, por US$ 200 por dia. Mas o app Bolão 2018 não era um investimento, oferecia downloads gratuitos e não tinha anúncios.
“Nossa ideia era proporcionar uma brincadeira legal para muita gente e só isso”, conta ele, que teve ajuda do amigo programador Juliano Rosseto, de 30 anos. Até o fim da Copa seriam US$ 6 mil só de gastos com o servidor melhor, calcularam. “Foi aí que pensamos que íamos ter que desligar o site.”
Vendo o desânimo dos dois, o irmão de Vedana sugeriu que eles simplificassem o programa, para deixá-lo mais leve. Quem sabe assim o servidor suportaria. Tiraram várias das funções inovadoras que tinham ajudado a atrair usuários – como simulação de resultados e atualização de ranking durante o jogo. “Era fim de tarde e precisávamos resolver até a manhã do dia seguinte porque às 9h tinha jogo. Se as pessoas não fizessem suas apostas antes da bola rolar, ia acabar tudo.”
O app foi voltando a funcionar, e Vedana chegou a mandar um e-mail bem humorado aos usuários avisando que tinham “começado com o pé esquerdo, caindo mais que o Neymar”, mas que agora tudo corria bem. Eles também abriram anúncios para ajudar as pagar as contas, o que lhes rendeu US$ 1.100.
Frequência. Até as quartas de final da Copa, 100% dos usuários entravam no aplicativo todos os dias. Para Vedana, o sucesso bolão foi o sistema de pontuação, diferente para cada jogo, o que equilibrou a competição. “O normal em bolão é alguns dispararem, mas quando há equilíbrio, mais gente fica interessada.”
Apesar de oferecer um aplicativo de apostas, o empreendedor não ganhou dinheiro. “Gastamos de R$ 12 mil a 15 mil, mas poderia ter sido muito mais. Recebemos muitas reclamações, principalmente de quem apostava dinheiro, mas valeu a pena. Agora, não param de chegar e-mails das pessoas contando como foi divertido.”
Vedana também tem recebido propostas de parcerias e de pessoas se oferecendo a trabalhar com ele. Com o fim do bolão e de férias no Caribe, ele diz ainda não saber o que vai fazer com tudo o que aprendeu nesse mês em que gerenciou seu primeiro app.
Desde adolescente, Vedana se interessa por tecnologia. Ele e o irmão faziam sucesso nos anos 1990 em Maracaju, no Mato Grosso do Sul, porque tinham o único computador da cidade. “Era tanto status que começamos a aprender a mexer nele.”
Em 2002, para ajudar o pai Univaldo Vedana, então dono de uma usina de biodiesel em Goiás, criou um site de informações sobre o combustível. Com o lançamento pelo governo, pouco tempo depois, do Programa Nacional de Biodiesel, passou a atrair outros clientes. Ele hoje mora em Curitiba, onde dirige o site, chamado Nova Cana. “Eu sempre fiz os bolões da família, esse foi o estado da arte.”
“A ideia era proporcionar uma brincadeira legal. ”
“Agora, não param de chegar e-mails das pessoas contando como foi divertido.”
Julio Cesar Vedana CRIADOR DO BOLÃO 2018