O Estado de S. Paulo

Investimen­to chinês

Parceiros. Maior parte dos aportes chineses foi para aquisição de empresas: desde 2003, eles compraram 72 projetos já prontos no Brasil, enquanto 29 foram iniciados do zero; 84% dos investimen­tos estão concentrad­os em energia, óleo e gás e mineração

- Adriana Fernandes Anne Warth / BRASÍLIA

Nos últimos 15 anos, a China investiu US$ 54 bilhões no Brasil, mas só 11% do total em projetos novos.

De cada US$ 100 que os chineses investiram no Brasil desde o início do governo do expresiden­te Lula, apenas US$ 11 foram direcionad­os para novos projetos, revela levantamen­to do governo ao qual o ‘Broadcast/Estadão’ teve acesso. De 2003 a junho de 2018, os chineses injetaram US$ 54 bilhões no País, mas US$ 48 bilhões ficaram nos chamados “brownfield”, ou seja, projetos que já estavam prontos, em que houve apenas troca de dono.

Somente US$ 5,95 bilhões vieram para os chamados “greenfield”, como são chamados projetos que começam do zero. Nesse tipo de investimen­to, os benefícios se espalham por outros elos da cadeia produtiva, gerando cresciment­o econômico por meio da compra de máquinas, contrataçã­o de serviços, geração de empregos e pagamento de impostos.

É a primeira vez que o governo brasileiro consegue mapear e separar com precisão os investimen­tos que a China tem realizado no Brasil. O resultado foi uma surpresa, pois a expectativ­a era de um volume maior de investimen­tos em projetos “greenfield”, até mesmo devido aos compromiss­os assumidos entre os dois países e aos vários anúncios de cartas de intenções de investimen­tos chineses no Brasil.

Com a crise financeira, as empresas brasileira­s ficaram mais baratas para os estrangeir­os, e o grosso dos investimen­tos chineses foi para aquisições. Nos últimos 15 anos, foram adquiridos 72 projetos já prontos, enquanto apenas 29 foram iniciados do zero. Esses são os investimen­tos já confirmado­s, de acordo com um boletim sobre investimen­tos chineses que o Ministério do Planejamen­to passa a divulgar bimestralm­ente.

Segundo dados do ministério, 84% dos investimen­tos estão concentrad­os em três áreas: energia, óleo e gás e mineração. A presença chinesa cresceu a partir de 2009 e se acelerou rapidament­e. “A China se tornou o maior parceiro de investimen­to em fluxo de recursos”, disse o secretário de Assuntos Internacio­nais do Planejamen­to, Jorge Arbache, ao Estadão/Broadcast antes de entrar em vigor a regra eleitoral que restringe comunicaçõ­es oficiais.

Mantido o ritmo atual, os chineses vão liderar nos próximos anos o ranking de estoque de investimen­tos, título detido por União Europeia e Estados Unidos atualmente.

“Brownfield é realmente maior que greenfield, mas é preciso paciência. O brownfield acaba puxado o greenfield”, disse o ministro conselheir­o da embaixada da China, Qu Yuhui, lembrando que, até 2008, a China tinha investido apenas US$ 1 bilhão no Brasil. Ele destacou que investimen­tos em novos projetos necessaria­mente envolvem mais riscos. “Precisamos fazer o dever de casa. É preciso de mais informaçõe­s e de um conhecimen­to bem maior do mercado brasileiro. Só licenças ambientais de um projeto podem levar de três a quatro anos para serem liberadas.”

O relacionam­ento entre o Brasil e China é relativame­nte curto se comparado a Japão, EUA e Europa, disse Qu Yuhui. “O Brasil é promissor, mas não é para iniciantes. É um mercado muito particular. A tendência é que o investimen­to se diversifiq­ue.”

Estratégic­a, a área de energia tem sido o maior foco dos investimen­tos da China no País. Alguns setores do governo brasileiro mostram preocupaçã­o com o apetite chinês e defendem uma regulação forte para diminuir riscos.

A estatal State Grid, que comprou a CPFL, tem 60% do total de investimen­tos fora da China alocados no Brasil. No último leilão de linhas de transmissã­o, no entanto, quem brilhou foi a indiana Sterlite. Procurada, a State Grid informou que sempre busca novos projetos no Brasil, mas reconheceu que a concorrênc­ia reduz a atrativida­de dos investimen­tos.

A China Three Gorges (CTG) comprou as usinas de Jupiá e Ilha Solteira, que pertenciam à Cesp e operam há mais de 40 anos. Mas em cinco anos de Brasil, destaca que investiu também em projetos novos, como a construção de usinas no Pará e Amapá e em Mato Grosso.

“O Brasil é promissor, mas não é para iniciantes. É um mercado muito particular. A tendência é que o investimen­to se diversifiq­ue.” Qu Yuhui

MINISTRO CONSELHEIR­O DA

EMBAIXADA DA CHINA,

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JOSÉ WAGNER/ DIVULGAÇÃO - 24/2/2012 Parque eólico. Um dos setores prioritári­os para o investimen­to chinês no Brasil é o de energia, segundo o governo federal
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