O tropeção, segundo o BC
IBC-Br mostra extensão do tombo provocado, principalmente, pela paralisação do transporte rodoviário.
Tombos na produção industrial, nas vendas do comércio e na prestação de serviços já haviam mostrado o péssimo desempenho, em maio, de vários setores, afetados principalmente pela paralisação do transporte rodoviário. Só agora, no entanto, saiu o primeiro balanço geral, resumido na queda, de abril para maio, de 3,34% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Conhecido no mercado como prévia do Produto Interno Bruto, esse indicador mostra mês a mês, com boa aproximação, a tendência dos negócios. Produção, consumo e investimento devem ter reagido a partir de junho, segundo avaliações correntes. Mas ninguém sabe a extensão dos danos diretos e indiretos causados pela crise do transporte, especialmente num ambiente de grande incerteza sobre a evolução da política no segundo semestre e de muita insegurança quanto à orientação do próximo governo.
Com a trava imposta à maior parte dos negócios, o índice de atividade, na série com desconto de efeitos sazonais, caiu ao mais baixo patamar desde dezembro de 2016, quando a economia mal começava a movimentar-se para fora da recessão. Na mesma série, a média do trimestre móvel encerrado em maio ficou 1,52% abaixo da média dos meses de dezembro a fevereiro – mais um claro sinal da perda de ritmo. A comparação entre maio deste ano e maio do ano passado, na série sem correção da sazonalidade, mostrou um recuo de 2,90%.
O confronto dos números deste ano com os de 2017 vinha mostrando, nos primeiros quatro meses, avanços continuados. Isso ocorreu mesmo no primeiro trimestre, quando o crescimento econômico perdeu vigor. Apesar dos tropeços nesse período, a produção industrial, as vendas do comércio varejista e os dados de investimento produtivo apontaram sempre resultados melhores que os do ano anterior.
Resumindo: mesmo com alguma oscilação, a retomada econômica prosseguia. Em abril todos os setores pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentaram maior dinamismo, como se a economia estivesse ganhando impulso depois do enfraquecimento registrado nos primeiros três meses de 2018. Nesse mês o IBC-Br subiu 0,50% em relação ao nível de março.
Apesar do tombo de maio, os números dos primeiros cinco meses ainda mostraram um avanço de 0,73% sobre os de igual período do ano anterior. De janeiro a abril, no entanto, o mesmo tipo de comparação ainda revelava um ganho de 1,65%. Bastou o desempenho muito ruim durante um mês, portanto, para o progresso no confronto interanual cair para menos da metade. Ainda sobrou, mesmo assim, um modesto crescimento de 1,3% acumulado em 12 meses.
Mesmo com a retomada de vitalidade em junho, é difícil dizer, neste momento, se o PIB acumulou no segundo trimestre algum crescimento em relação ao primeiro. Os números oficiais serão conhecidos no fim de agosto. Por enquanto, os especialistas do mercado estão divididos, alguns prevendo resultado negativo no segundo trimestre, outros apostando em algum crescimento, embora muito limitado, em relação ao período de janeiro a março.
As avaliações convergem, no entanto, quando se trata das projeções para todo o ano. As expectativas mais otimistas, de crescimento igual ou pouco superior a 3%, foram abandonadas há tempos. Primeiro, levou-se em conta o fraco desempenho da economia no primeiro trimestre, quando o PIB cresceu apenas 0,4% em relação aos três meses finais de 2017, acumulando expansão de apenas 1,3% em 12 meses. Depois, vieram as incertezas em relação à política e, especialmente, à eleição presidencial. Enfim, houve o desastre de maio, de consequências avaliadas ainda incompletamente.
Nas últimas quatro semanas, a mediana das projeções para 2018 caiu de 1,76% para 1,50%, segundo a pesquisa Focus, conduzida pelo BC. Para os próximos três anos as projeções estão estabilizadas em 2,50% como taxa anual. Mas até esse resultado pífio poderá ser comprometido por um governo irresponsável.