O Estado de S. Paulo

Com violência, oposição cresce e Ortega se isola

Mortes no fim de semana agravam situação na Nicarágua; comunidade internacio­nal condena repressão

- MANÁGUA

Milhares de nicaraguen­ses tomaram ontem as ruas de Manágua para exigir justiça para as vítimas de uma violenta repressão durante protestos contra o presidente Daniel Ortega no fim de semana. As manifestaç­ões, que deixaram 12 mortos, ocorreram quando forças do governo atacaram opositores em Monimbo e na cidade vizinha de Masaya.

A violência que tem assolado o país há três meses ganhou força nos últimos três dias quando grupos armados e policiais leais ao presidente também cercaram universida­des ocupadas por manifestan­tes que desafiam o governo.

Os ataques atraíram condenação internacio­nal, isolaram o governo nicaraguen­se e acentuaram a oposição local a Ortega, ex-líder de uma guerrilha marxista que enfrenta hoje seu maior teste desde que retornou ao poder, em 2007.

Quase 300 pessoas morreram desde o início dos protestos, em 18 de abril, quando Ortega tentou fazer uma reforma do sistema de aposentado­rias. O governo, mais tarde, desistiu do plano, mas sua resposta pesada às manifestaç­ões acabaram por transformá-las em um grande ato contra os 11 anos de seu governo.

Diálogo. Ortega diz estar aberto ao diálogo e convidou a Comissão Interameri­cana dos Direitos Humanos (CIDH) para visitar o país e verificar que seu governo não está cometendo abuso dos direitos humanos, como alegam algumas organizaçõ­es.

Além dos protestos convocados por estudantes ontem, parentes de vítimas da violência caminharam pelas ruas principais de Manágua carregando caixões e pedindo justiça.

“A população não desistiu porque ainda há uma demanda nas ruas por liberdade”, disse Carlos Tünnermann, membro do Aliança Cívica por Justiça e Democracia, um dos principais grupos opositores a Ortega. A oposição pede a renúncia do presidente e eleições antecipada­s para encerrar a turbulênci­a.

Ortega, de 72 anos, que está em seu terceiro mandato consecutiv­o, que se encerrará em 2021, vem aos poucos acirrando seu controle sobre as instituiçõ­es da Nicarágua. Ao seu lado, tem o apoio de sua mulher, Rosario Murillo, também sua vicepresid­ente.

A primeira-dama declarou ontem que o governo atua para “libertar o território” dos bloqueios de estradas e “restaurar a paz”. Ela afirmou que os protestos respondem a “um plano terrorista e golpista acompanhad­o por uma infame e falsa campanha midiática nacional e internacio­nal”, disse. “Esse golpe quis impor uma minoria cheia de ódio, uma minoria sinistra, maligna, mas que não conseguiu nem conseguirá.”

Repercussã­o. A crise da Nicarágua será discutida em fóruns internacio­nais, como a reunião de chancelere­s da União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), que teve início ontem em Bruxelas.

A França condenou os ataques executados nos últimos dias pelas forças da polícia e paramilita­res contra os manifestan­tes, que incluem religiosos, e pediu a retomada do diálogo com a oposição.

O embaixador americano na Organizaçã­o dos Estados Americanos (OEA), Carlos Trujillo, por sua vez, adiantou que a questão da Nicarágua voltaria esta semana à agenda do fórum continenta­l. “A violenta repressão do governo com o uso de turbas sandinista­s é inaceitáve­l. Os Estados Unidos ficarão responsáve­is pelos violadores de direitos humanos”, comentou Trujillo no Twitter

Heather Nauert, porta-voz do Departamen­to de Estado, exigiu ontem o fim da violência e eleições antecipada­s. “Eleições antecipada­s, livres e justas, são o melhor caminho para a democracia ed o respeito aos direitos humanos na Nicarágua.”

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MARVIN RECINOS/AFP-15/7/2018 Versão. Velório de estudante morto no fim de semana: governo de Ortega diz enfrentar ‘plano terrorista e golpista’

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