O Estado de S. Paulo

Política definirá o Mundial do Catar

Fifa ainda não sabe quantos estádios serão utilizados no primeiro Mundial disputado no Oriente Médio

- Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL / MOSCOU

A Fifa vai para sua primeira Copa do Mundo no Oriente Médio sem saber quantas seleções vão jogar, quantos estádios serão realizados, sem saber como será a eliminatór­ia e sem saber quem ainda será preso por conta das investigaç­ões de corrupção.

Em 2022, o Catar recebe o Mundial, prometendo um investimen­to inédito e uma receita sem precedente­s para a Fifa. Mas, se as obras estão garantidas, a incerteza é política. A entidade quer ampliar o evento de 32 seleções para 48, o que envolveria realizar partidas não apenas no Catar, mas também em países vizinhos.

Em uma guerra diplomátic­a e sofrendo embargo dos sauditas e da região, o Catar vem resistindo à proposta de ampliação, ciente de que realizar 80 jogos, e não 64, representa­ria abrir o Mundial para Bahrein, Omã e Emirados Árabes.

O Estado apurou que o presidente da Fifa, Gianni Infantino, tem justamente usado esse argumento político como forma de fazer avançar sua ideia de ampliar a Copa do Catar. Nos bastidores, ele tem explicado a dirigentes que o gesto poderia abrir canais diplomátic­os, dando à Fifa foram revelados, o menor país a jamais receber uma Copa superou gigantes como Austrália, Japão e EUA.

Corrupção. Investigaç­ões se proliferar­am na Fifa, na Justiça da Suíça, Espanha, França e EUA, com revelações de como cartolas como Ricardo Teixeira e Julio Gordona receberam supostamen­te recursos em troca de votos. Apurações também indicam que mesmo a seleção brasileira possa ter sido usada em amistosos, para justificar pagamentos ilegais aos dirigentes.

Ao Estado, o ex-presidente da Fifa, Joseph Blatter, deixa claro que todo o caos gerado com as prisões dos delegados da entidade apenas ocorreu por conta da escolha do Catar, em detrimento dos americanos.

“Isso ocorreu por conta da intervençã­o da política francesa, do presidente da França (Sarkozy), que se encontrou no Palácio do Eliseu com o príncipe herdeiro do Catar e que hoje é o emir”, contou. “Depois daquilo, Michel Platini veio até mim e me disse: “Desculpe-me Sepp, não posso garantir mais meus votos para os EUA”. Se isso tivesse ocorrido, não estaríamos nessa situação caótica como está ocorrendo nos EUA, com o julgamento”, apontou.

A escolha não gerou apenas um caos legal. A Fifa passou a ser acusada de ser conivente de um sistema trabalhist­a que viola direitos humanos e, diante do calor do verão no Golfo, a Copa teve de ser modificada para novembro, afetando todo o calendário internacio­nal.

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IBRAHEEM AL OMARI/REUTERS - 14/7/2018 Modernizaç­ão. Estádio Khalifa, em Doha, no Catar, passará por obras de adaptação para receber o Mundial de 2022

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