O Estado de S. Paulo

Quatro ativistas pegam 15 dias de prisão

No segundo tempo da final entre França e Croácia, grupo conseguiu driblar a segurança e entrar no campo

- /J.C.

Quatro ativistas que invadiram o campo da final da Copa do Mundo entre França e Croácia, domingo, em Moscou, foram condenadas a 15 dias de prisão: Veronika Nikoulchin­a, Olga Pakhtousso­va, Piotr Verzilov e Olga Kouratchev­a. Todos também foram proibidos de voltar a entrar em eventos esportivos.

O quarteto é ligado ao grupo Pussy Riot, que, mesmo com toda a segurança, conseguiu interrompe­r o jogo para pedir maior liberdade de expressão e política na Rússia, diante de Vladimir Putin. Olga Kurachyova, outra ativista que entrou em campo e foi condenada, indicou que a meta do grupo também era de atacar a Fifa, por seu apoio ao governo. “A Fifa está envolvida em jogos injustos”, disse. “A Fifa é amiga de líderes que promovem repressão e violam direitos humanos”, continuou. Elas teriam “violado os direitos dos espectador­es” e ainda são acusadas de usar de forma ilegal roupas de policiais. O restante do grupo será julgado nos próximos dias.

No segundo tempo da final entre França e Croácia, o grupo conseguiu driblar a segurança e invadir o campo para manifestar contra a repressão do Kremlin. Mbappe, estrela da Copa, chegou a fazer uma saudação com uma das integrante­s do grupo, antes que fossem arrastados para fora. As imagens das garotas vestidas com uniformes policiais foram cortadas pela transmissã­o oficial, enquanto o assunto desaparece­u das agências de notícia em Moscou.

Num vídeo divulgado nas redes sociais, elas explicaram a ação. “Tendo em vista que o estado de direito não existe na Rússia e que qualquer policial pode entrar em nossas vidas, a Copa do Mundo mostrou que os policiais sabem se comportar bem”, ironizaram as mulheres, em referência ao tratamento que as forças de segurança prestaram aos turistas. “Mas o que vai ocorrer quando a Copa acabar?”, questionar­am. “Só há uma solução: lutar contra a fabricação de falsas acusações e de prisões arbitrária­s.”

Um vídeo vazada de um princípio de um interrogat­ório das garotas, depois de detidas, também causou polêmica. Em cenas na delegacia que circularam pelas redes sociais, os policiais mantém o que aparenta ser os primeiros momentos de um interrogat­ório. “Você é uma canalha, qual seu nome?”, questiona um policial. “Por que decidiram fazer m... na Rússia?”, disse. “Não. Não estamos contra a Rússia”, respondeu uma das meninas detidas.

O policial voltou a cobrar uma explicação. “Saibam que, por esse motivo, a Rússia vai pagar multas contratuai­s à Fifa?”, disse. “Vocês fizeram mal à Rússia”, declarou o policial. O grupo, porém, deixou claro que não concordava com a avaliação das autoridade­s. “Não fizemos mal para a Rússia”, contraatac­aram. O interrogat­ório continuou: “Vocês são normais?”, perguntou um dos agentes. “Sim, somos”, respondera­m.

Os policiais, porém, lamentaram não estar mais em 1937, ano de uma importante repressão de Joseph Stalin, para poder punir o grupo. “Infelizmen­te, hoje em dia, não estamos em 1937, infelizmen­te”, insistiu.

 ?? ADRIAN DENNIS/AFP ?? Protesto. Ativista é retirada do gramado após invasão
ADRIAN DENNIS/AFP Protesto. Ativista é retirada do gramado após invasão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil