O Estado de S. Paulo

‘É uma tentativa de legitimar ações adotadas’

- /LUCIANA DYNIEWICZ

Apesar de a guerra comercial iniciada pelo governo de Donald Trump ter chegado ao “local adequado”, a Organizaçã­o Mundial do Comércio, não há sinais de que haverá uma redução dos danos causados por ela, segundo Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvi­mento. “É possível que essa guerra tenha custos altos para o mundo inteiro e não há indicações contrária a isso”, diz.

A guerra comercial se acirra com esse episódio ou enfraquece, já que a questão passa a ser debatida num órgão multilater­al? As questões estão sendo discutidas no local adequado. Mas é difícil negociar com os EUA, porque não se sabe o que eles querem. O Trump fez uma declaração, no início disso tudo, de que é fácil ganhar uma guerra comercial. Mas o que se está descobrind­o é que ninguém ganha nessa guerra. O governo adotou medidas que tiveram retaliaçõe­s maiores do que se esperava, que estão encarecend­o a produção nos EUA e fazendo as exportaçõe­s americanas perderem mercado. Os EUA se colocaram numa armadilha. É possível que essa guerra tenha custos muito altos para a economia do mundo inteiro e hoje não há indicações contrária a isso.

Trump travou a nomeação de dois juízes no órgão de apelação da OMC. A OMC está debilitada para debater as queixas?

As queixas vão antes para um painel de especialis­tas. Ali, pode levar dois anos para haver um posicionam­ento. Depois, é possível recorrer ao órgão de apelação. Mas hoje é claro que há uma sobrecarga no órgão pela não indicação dos juízes.

Como o sr. analisa essa nova estratégia do Trump? Não é um contrassen­so recorrer à OMC após debilitá-la?

Parece que sim, mas é um pouco uma tentativa de legitimar as ações que já adotou.

É possível prever a tendência de análise do painel?

Os EUA adotaram medidas contra importação de aço baseados na cláusula de defesa nacional da OMC. Os outros países já tinham reclamado na OMC e adotaram retaliaçõe­s. Agora, os EUA reclamam que esses países não poderiam retaliar. Esses casos serão discutidos conjuntame­nte. A questão é se a imposição da barreira pelos EUA tem fundamento legal. Se tiver, o que é difícil, os países não poderiam retaliar.

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