O Estado de S. Paulo

‘Sucesso, aqui vou eu’

- ROBERTA MARTINELLI E-MAIL: ROBERTA.MARTINELLI@ESTADAO.COM

Essa semana muita coisa aconteceu. Sempre acontece. Mas, a velocidade que estamos vivendo com redes sociais, internet, nossos carros e escolhas torna rapidament­e obsoletas várias das coisas que eu gostaria de escrever em uma coluna semanal. Essa percepção me deu uma certa agonia, mas que seja rápido, então. São inúmeros textos sobre esse assunto na internet, redes sociais, impressos. Mais democrátic­o. Prefiro. Nego do Borel, o mainstream, quanto vale um like? O que um artista faz por isso? Vale tudo nesse mundo? Vale tirar foto com candidato homofóbico e beijar um rapaz na boca? Ou o público não deixa mais passar? A coerência passa longe, mas acho que esses não passarão. Teve um tempo, lá no começo dos anos 2000, que as gravadoras deixaram de ser as únicas mandantes no mundo da música. Até então, ser independen­te era uma escolha muito ousada. Muito mesmo. Eram as grandes empresas que determinav­am o que tocava, o que não tocava, o que gravava, o que vendia... e no final do século 20 elas ficaram mais fracas. O mercado independen­te se fortaleceu e os artistas passaram a ser mais responsáve­is por suas carreiras, inventando modos de lançar, produzir, jogar na internet, disponibil­izar gratuitame­nte ou não. Muito se falou e muito foi feito nesse mundo. Mainstream e independen­te eram quase inimigos, jogavam em campos opostos.

O tempo passou. As gravadoras passaram a entender seus novos lugares e os independen­tes passaram a almejar um lugar com um pouco mais de público e estrutura, um tal midstream (que ainda está sendo criado e procurado). A troca começou a ser maior. Anitta, que, em outros tempos, poderia ser chamada de uma artista de mainstream que aos indies não tem nenhum valor, virou um exemplo de empresária e artista de sucesso, e ainda assim grava com Silva. Artistas independen­tes gostariam de estar no Faustão, ou quem sabe até no Só Toca Top (confesso que fazia tempo que não via um nome tão ruim para um programa – talvez ainda seja indie demais). Artistas do mainstream tocam em festivais mais do mundo indie como Pabllo Vittar no Bananada. Emicida apresenta programa no GNT, Luan Santana grava com Tiê, Tim Bernardes gostaria de cantar com Marília Medalha e por aí vai. A troca está mais estabeleci­da e a música só ganha com isso.

O clipe do Nego do Borel da música Me Solta é, então, lançado pelo KondZilla, o maior canal do Brasil no YouTube – a nova ordem do mainstream – que é um diretor e roteirista que começou de maneira independen­te no Guarujá. Eu escuto e não paro de cantar, gosto do som, uma música superpopul­ar. Aí no videoclipe tem a Nega da Borelli, o cantor de saia e salto alto, fazendo uma personagem caricatura para representa­r um homossexua­l. Como pano de fundo, ele tinha lá atrás tirado uma foto com um candidato fascista e homofóbico. Talvez para tentar ganhar um público perdido esse clipe? Apanha de todos os lados e os milhões de views não param de crescer. Sabe aonde você tá? Numa nova forma de sucesso.

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KONDZILLA Nego do Borel. Me Solta
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