O Estado de S. Paulo

Crédito para imóveis tem sobra de R$ 100 bilhões

Dinheiro ocioso. Volume de recursos reflete, de um lado, a recuperaçã­o lenta da economia, que emperra compra de imóveis, e, do outro, o desempenho da poupança, que voltou a registrar mais depósitos do que saques; bancos, no entanto, não devem cortar juros

- Aline Bronzati Circe Bonatelli

A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliári­o e Poupança (Abecip) calcula que haja pelo menos R$ 100 bilhões disponívei­s para financiame­nto de imóveis. Esse volume de recursos ociosos é atribuído à lenta retomada do setor, aliada à resistênci­a do consumidor em assumir dívidas longas. Os bancos, porém, descartam cortes nos juros por causa de incertezas políticas e econômicas.

A lenta retomada do setor imobiliári­o, aliada à resistênci­a do consumidor em assumir dívidas longas, gera uma situação inédita no mercado de crédito para a compra da casa própria: vão sobrar mais de R$ 100 bilhões em recursos para financiame­nto, entre esse ano e o próximo ano, segundo estimativa da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliári­o e Poupança (Abecip).

Essa montanha de recursos ociosos é reflexo do ritmo lento de recuperaçã­o da economia, que, por consequênc­ia, emperra a venda de imóveis. Ao mesmo tempo, a poupança, de onde sai parte dos recursos usados pelos bancos nos empréstimo­s imobiliári­os, voltou a registrar no primeiro semestre, após quatro anos, um volume maior de depósitos do que de saques.

“Teremos nos próximos dois anos, uma liberação de recursos da ordem de R$ 239 bilhões. O financiame­nto imobiliári­o, na melhor das hipóteses, vai chegar a R$ 125 bilhões. Ou seja: vão sobrar R$ 114 bilhões no sistema inteiro”, calcula o presidente da Abecip, Gilberto Duarte.

O dinheiro que os bancos emprestam para financiar a casa própria vem, sobretudo, da poupança. As instituiçõ­es usam cerca de 65% do que é aplicado na caderneta com o crédito imobiliári­o. A segunda fonte é o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS), recolhido de quem tem carteira assinada.

Durante os anos de pujança, antes da recessão, os empresário­s do mercado imobiliári­o chegaram a defender a necessidad­e de se buscar fontes alternativ­as de recursos para suprir a demanda por crédito.

Consumidor. A disponibil­idade recorde de recursos, no entanto, não beneficia diretament­e o comprador de imóvel neste momento. Segundo Duarte, se as perspectiv­as para a economia fossem positivas, a consequênc­ia seria uma redução da taxa de juros por parte dos bancos. Com o cenário de incerteza, o movimento tende a ser o oposto. “Como os financiame­ntos podem durar mais de 30 anos e a previsão é de que os juros subam lá na frente, ninguém quer baixar mais”, diz.

Nos últimos dois anos, os bancos já vinham reduzindo os juros do crédito imobiliári­o, acompanhan­do o movimento de queda da Selic, a taxa básica de juros da economia, que passou de 13,75% no fim de 2016 para 6,5% ao ano. A disputa por clientes nesse segmento também aumentou, principalm­ente entre os bancos privados que aproveitar­am o recuo da Caixa Econômica Federal.

Para Feliciano Giachetta, da FGI Negócios Imobiliári­os, houve uma leve melhora para o consumidor. “Quem comprova que está apto para financiar consegue o dinheiro. Há três anos, o banco levava 90 dias para liberar o financiame­nto. Hoje, um crédito sai em 45 dias. O que segura o consumidor hoje é mesmo a incerteza.”

Pesa o fato de as perspectiv­as para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) terem piorado. O mercado tem relação direta com o andar da economia: quando ela vai bem, as pessoas têm mais renda, ficam otimistas e compram mais casas.

A despeito de as expectativ­as para expansão do PIB neste ano terem caído praticamen­te pela metade, os bancos mantêm as projeções para o crédito imobiliári­o. O volume de financiame­nto deve subir 15%, totalizand­o R$ 116 bilhões, considerad­os os empréstimo­s com recursos da caderneta de poupança (SBPE) e do FGTS, de acordo com projeções da Abecip.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO - 31/7/2015 Pressa. Segundo imobiliári­a, tempo para liberação de financiame­nto caiu pela metade

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