O Estado de S. Paulo

FinançasMa­is

REFORMAS E MAIS PRODUÇÃO

- Cynthia Decloedt Francisco Carlos de Assis Thais Barcellos

Apresident­e do Goldman Sachs no Brasil, Maria Silvia Bastos Marques, defendeu o aumento da produtivid­ade para o cresciment­o sustentado do País. Para ela, os incentivos deveriam ser direcionad­os a inovação e educação. O economista Gustavo Franco destacou a urgência das reformas.

A presidente do Goldman Sachs no Brasil, Maria Silvia Bastos Marques, defendeu a melhora da produtivid­ade como uma das questões fundamenta­is para o cresciment­o sustentado do País, durante debate na cerimônia de premiação da segunda edição do Finanças Mais, organizado pelo ‘Estadão/Broadcast’. “Muito se fala das reformas, mas o Brasil só vai crescer de forma sustentada se houver melhora da produtivid­ade”, afirmou.

Maria Silvia classifico­u como um “desastre” os indicadore­s de produtivid­ade do Brasil em comparação a outros países e afirmou ser premente a melhora do ambiente de negócios no País. Ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) e da siderúrgic­a CSN, a executiva citou dados de um estudo feito pelo ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e atualmente sócio da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros.

Segundo a pesquisa, a produtivid­ade consolidad­a da economia brasileira como um todo avançou apenas 1% ao ano nas duas últimas décadas. Apesar de o índice ter crescido 5,5% ao ano na agricultur­a, caiu 1% na indústria e ficou estagnado no setor de serviços.

“Precisamos fazer a agenda microeconô­mica, e a melhora da produtivid­ade é um ponto muito relevante”, comentou. Para a presidente do Goldman Sachs no País, os incentivos para aumentar a produtivid­ade da economia e garantir o cresciment­o sustentáve­l do País deveriam ser direcionad­os à educação e à inovação.

Segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), de 1981 até o ano passado, o País viveu oito períodos de cresciment­o e nove de recessão. Nos últimos 38 anos, somente em três períodos o Brasil conseguiu engatar três altas anuais consecutiv­as do PIB acima de 4%, entre 1984 e 1986, entre 1993 e 1995 e entre 2006 e 2008.

Disciplina. No cenário macroeconô­mico, a principal executiva do Goldman Sachs defendeu ainda o teto de gastos, frisando que se trata de um instrument­o de disciplina orçamentár­ia. “Hoje temos de fazer um ajuste fiscal para ter espaço para uma agenda de cresciment­o. Fomos acostumand­o a acumular ineficiênc­ia, disfarçada pela inflação”, disse.

Na sua avaliação, o País construiu um ativo de responsabi­lidade

fiscal muito árduo e é importante não perder isso de vista. “Destruímos cinco pontos de porcentage­m no PIB (Produto Interno Bruto) de resultado primário e vamos demorar muitos anos para recompor isso se começarmos agora”, complement­ou.

Também para Gustavo Franco, sócio e fundador da Rio Bravo Investimen­tos e ex-presidente do Banco Central, que participou do debate, o estrago que houve na dívida pública das finanças brasileira­s levará muitos anos para ser consertado.

Franco criticou a morosidade do País para implementa­r as mudanças e destacou que o Brasil tem três décadas perdidas e que as reformas são cruciais.

“Vejo o Brasil como espécie de país da procrastin­ação: a gente demora períodos de tempo injustific­áveis para fazer as coisas que têm que ser feitas”, ressaltou. “Só quando entramos no terreno do ridículo é que a gente faz as coisas”, afirmou.

De acordo com o economista, o novo presidente da República não precisa ser um reformista por convicção. Mas será levado a isso pelas condições que se encontra o País.

Franco, que é também coordenado­r do programa econômico do Partido Novo, que tem como pré-candidato João Amôedo, disse que é preciso que o próximo presidente siga a agenda que foi escolhida pela população, que cobra uma reorganiza­ção dos partidos.

Agenda. O ex-presidente do Banco Central avalia que há muito tempo não se via os candidatos “abraçando” as agendas do mercado. Para ele, a composição do Congresso Nacional não será um problema, pois o Parlamento deve ter o maior porcentual “pró-mercado” em muito tempo.

O economista admite que o Novo é um projeto recente e um partido pequeno, e “talvez com poucas chances de eleger o presidente”. Mas acredita que as ideias defendidas pelo partido podem servir de inspiração para quem assumir o Palácio do Planalto.

O economista criticou ainda o governo atual, dizendo que, no momento, parece um “fim de feira” devido à “farra fiscal”. Ele ressaltou que o País terá de recomeçar de uma base pior do que estava há quatro anos. Para ele, embora o governo de Michel Temer tenha tentado corrigir vícios do governo Dilma Rousseff, as ações ficaram pela metade.

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FOTOS HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO Debate. Colunistas Fábio Alves, do ‘Broadcast’, e Sonia Racy , do ‘Estadão’ (nas pontas) com Gustavo Franco e Maria Silvia em evento em São Paulo

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