O Estado de S. Paulo

Delator cita repasse para empresa de filhos de Yunes

Segundo Adir Assad, entrega dos valores ocorreu entre 2010 e 2011; advogado é amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer

- Fabio Serapião / BRASÍLIA

O operador financeiro Adir Assad afirmou em acordo de delação premiada ter repassado, entre 2010 e 2011, de R$ 1,2 milhão a R$ 1,4 milhão em espécie para a Yuny Incorporad­ora – empresa que tem como sócios Marcos e Marcelo Mariz de Oliveira Yunes, filhos do advogado José Yunes, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer.

Assad é apontado como o maior “noteiro” a atuar nos desvios apurados na Lava Jato e em pelo menos outras duas operações: a Monte Carlo e a Saqueador. Segundo o Ministério Público Federal, as empresas de fachada do operador firmavam contratos fictícios com grandes empresas. O valor dessas notas, descontado o porcentual cobrado por Assad, era transforma­do em dinheiro em espécie e devolvido à empresa ou a operadores de propina indicados por ela.

O operador financeiro teve a prisão preventiva decretada quatro vezes desde 2015. Ele foi solto por duas vezes, mas novamente levado à prisão por decisão do juiz Sérgio Moro, em agosto de 2016. Assad foi condenado a 9 anos e 10 meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

José Yunes, por sua vez, deixou o governo Temer após ter sido citado na delação de Cláudio Mello, da Odebrecht. O executivo disse que parte dos R$ 10 milhões solicitado­s em reunião no Palácio do Jaburu, da qual o ministro Eliseu Padilha e Temer participar­am, teria sido entregue no escritório de Yunes, na capital paulista. O advogado também é investigad­o no inquérito sobre o chamado Decreto dos Portos. A hipótese da Polícia Federal é de que ele seria um dos intermediá­rios para recebiment­os ilícitos de Temer. Os dois negam irregulari­dades.

A delação de Assad, firmada com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Rio e São Paulo, já foi homologada pela Justiça Federal. Segundo o operador, um funcionári­o de suas empresas foi responsáve­l por apresentar o representa­nte da Yuny que propôs a assinatura do contrato fraudulent­o que deu origem aos valores em espécie. Assad não nomeou quem seriam as pessoas que o procuraram nem o destinatár­io dos valores.

O Estado revelou em março do ano passado que empresas ligadas à Yuny Incorporad­ora pagaram ao menos R$ 1,2 milhão para empresas de Assad. As empresas de Marcos e Marcelo Mariz de Oliveira Yunes aparecem em 113 transações com a SM Terraplana­gem e em 28 operações com a Legend Engenheiro­s. A Legend e a SM, segundo o Ministério Público Federal, não possuíam condições para funcionar e eram emissoras de notas frias utilizadas para produzir dinheiro em espécie. Esses valores abasteciam o caixa 2 de empresas interessad­as em pagar vantagens indevidas a agentes públicos e a partidos políticos, conforme a Procurador­ia.

Do grupo Yuny, repassaram valores às empresas de Assad a Yuny GTIS Leopoldo, Yuny GTIS Abell, Yuny VCEP, Yuny Pirap Empreendim­entos, Yuny Vila Romana, Yuny Apollo, Yuny Polaris Participaç­ões, Yuny Gemini, Yuny Halley Participaç­ões, Yuny Vila Carrão e Yuny GTIS Atillio Innocenti.

Defesas. Em nota, a Yuny Incorporad­ora disse que “tanto a empresa como seus representa­ntes nunca tiveram nenhum relacionam­ento comercial ou pessoal” com Adir Assad. Afirmou ainda que, “para a implementa­ção de seus empreendim­entos, conta com a colaboraçã­o de dezenas de construtor­as e mais de 3.000 fornecedor­es e outros prestadore­s de serviço terceiriza­dos, a maior parte indicada pelos próprios contratado­s”.

O advogado de Assad, Pedro Bueno de Andrade, disse que, na condição de colaborado­r, ele tem esclarecid­o às autoridade­s todos os fatos nos quais esteve envolvido. “Esclarecim­entos sobre quaisquer fatos serão prestados por ele à Justiça.”

Procurado, José Yunes não respondeu ao Estado até a conclusão desta edição.

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CASSIANO ROSÁRIO/FUTURA PRESS - 17/3/2015 Lava Jato. Adir Assad foi condenado por lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa

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