O Estado de S. Paulo

Estratégia de Trump é dizer e desmentir

- Philip Bump

Essa tentativa de Donald Trump de arrumar sua confusão insulta a inteligênc­ia dos EUA. Primeiro de tudo, o presidente recuou de sua declaração de que aceitava a conclusão do serviço de inteligênc­ia sobre a culpa da Rússia. De acordo com a comunidade de inteligênc­ia, não há indicação de que mais alguém, além da Rússia, esteve envolvido nos esforços de interferên­cia nas eleições presidenci­ais de 2016, que as agências americanas acreditam que tenham sido conduzidos pelo Kremlin.

Não há ninguém que tenha sido indiciado após a investigaç­ão conduzida pelo promotor especial Robert Mueller que não seja russo. Treze cidadãos da Rússia foram indiciados por seus esforços para influencia­r os eleitores por meio das mídias sociais. Outros 12 funcionári­os da inteligênc­ia russa foram indiciados na semana passada por hackear o Comitê Nacional Democrata e a campanha de Hillary Clinton.

Dizer que você aceita as conclusões da comunidade de inteligênc­ia, mas crê que “outras pessoas” podem estar envolvidas é como dizer que você aceita que a Terra é redonda, mas também tem medo de navegar até a borda. Trump já jogou este jogo antes. O presidente disse aceitar as conclusões de inteligênc­ia e logo mudou de opinião, colocan- do essas conclusões em dúvida. E ele fez isso com várias outras questões.

Esta é a estratégia. Não é complicada: ele fez isso inúmeras vezes antes, quando enfren- tou duras críticas de seus partidário­s. Ele criou confusão o suficiente para permitir que as pessoas lhe dessem o benefício da dúvida. Se você está inclinado a apoiar Trump, mas está aborrecido com seus comentário­s, é o alvo. O presidente Trump geralmente cita uma pequena coisa que Barack Obama ou Hillary Clinton fizeram para justi- ficar suas ações mais graves. Ele destaca um pequeno ponto de luz para dar a seus partidá- rios a possibilid­ade de ver algo mais que apenas nuvens.

vez O mais problema difícil para para Trump ele arrumar é que seus ficará comen- cada tários mais tarde. Se você acredita que ele não entendeu qual era a confusão até notar o “erro” na transcriçã­o da entrevista coletiva em Helsinque, você deve acreditar que ele não tem mais mudanças a fazer. Ao não escla- recer seus vários esforços para minar as conclusões da comunidade de inteligênc­ia dos

EUA, ele está dizendo que está bem com eles. E esses comentário­s tornam claro o que esta- va óbvio na segunda-feira. Trump rejeita as conclusões da comunidade de inteligênc­ia americana.

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