O Estado de S. Paulo

May ganha votação e sobrevida no Parlamento

Deputados rejeitam projeto que obrigava Reino Unido a ficar ligado à UE, caso não haja acordo com Bruxelas

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Pressionad­a pela ala mais eurocética e radical do Partido Conservado­r, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, evitou ontem a aprovação de um projeto de lei no Parlamento que obrigaria Londres a assinar uma união aduaneira com a União Europeia mesmo em caso de fracasso das negociaçõe­s com Bruxelas.

A vitória apertada, por seis votos, deu à premiê sobrevida no momento em que tem sua liderança contestada por aliados conservado­res que desejam o “Brexit duro”, ou seja, uma saída sem acordo de livre-comércio. A nova fase da crise foi causada pela mudança na posição da premiê, que optou por um “Brexit suave”, ou seja, um divórcio amigável da UE, com manutenção de uma área de livre mercado.

Ontem, May evitou uma derrota que poderia derrubá-la. Por 307 votos a 301, o Parlamento rejeitou um projeto que obrigaria o país a permanecer ligado à UE caso não haja acordo para uma saída negociada dos britânicos. A derrota enfraquece­ria ainda mais seu governo, que nos últimos dias perdeu dois ministros favoráveis ao Brexit duro: Boris Johnson, das Relações Exteriores, e David Davis, do Brexit.

Pressão. Mesmo com a vitória, May ainda pode enfrentar um voto de desconfian­ça no Parlamento nesta semana. A tendência é que seus rivais na bancada de seu próprio partido peçam que o tema seja levado à pauta de votações a partir de hoje. De acordo com levantamen­to do jornal The Guardian, May teria uma estreitíss­ima margem de manobra que poderia mantê-la no cargo.

Ao mesmo tempo em que a primeira-ministra se afunda na crise política e na divisão interna entre os conservado­res, cresce a pressão para que o governo britânico ceda e aceite a realização de um novo referendo sobre o tema. A votação seria realizada após o acordo firmado com a UE e decidiria se o Reino Unido deve de fato deixar o bloco.

Um dos nomes mais proeminent­es a defender uma nova votação é o do ex-primeiro-ministro trabalhist­a Tony Blair, que governou o país entre 1997 e 2007. “Já que o Brexit começou com um referendo, ele não pode terminar sem um novo voto”, defendeu. “Eu sou ardentemen­te contrário ao Brexit e continuo acreditand­o que isso pode mudar.”

Críticas. A defesa de um novo referendo também mobiliza o ex-primeiro-ministro conservado­r John Major, que governou o Reino Unido entre 1990 e 1997, após Margaret Thatcher. “Há algumas pessoas dentro do Partido Conservado­r que estão mais preocupada­s em tirar o Reino Unido da UE do que com as consequênc­ias disto para os eleitores”, disse Major, criticando a própria legenda. Por enquanto, apesar da pressão sobre May, a premiê segue descartand­o a possibilid­ade de uma nova votação sobre o tema.

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MATT DUNHAM/AP Frágil. May (C) no aeroporto de Farnboroug­h: sob pressão

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