O Estado de S. Paulo

Alfândega dos EUA barra remessas de canabidiol ao Brasil

Conflito entre leis acaba prejudican­do pacientes; em três casos, famílias receberam embalagens sem os frascos dentro

- Fabiana Cambricoli

Pelo menos três remessas de canabidiol importadas dos Estados Unidos por pacientes brasileiro­s, cada uma no valor médio de U$ 1 mil (cerca de R$ 3,8 mil), foram confiscada­s pela alfândega americana nos últimos 30 dias por causa de um conflito das diferentes leis americanas.

Como o composto, feito à base de maconha, não é produzido no Brasil e só pode ser importado com autorizaçã­o da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os pacientes prejudicad­os pelo confisco da encomenda não têm outra forma de conseguir a medicação e estão tendo pioras nos estados de saúde. O produto é usado no tratamento de diversas doenças, principalm­ente contra crises convulsiva­s.

Inicialmen­te, os pacientes e a empresa importador­a do produto acreditara­m que a medicação havia sido furtada após chegar ao Brasil. Isso porque as caixas foram entregues lacradas na casa dos clientes, mas, ao serem abertas, estavam sem o medicament­o, apenas com o isopor e a capa de alumínio que protege o produto. A Polícia Federal brasileira chegou a abrir inquérito para investigar o sumiço dos frascos de canabidiol.

Questionad­a pelo Estado,a empresa transporta­dora das mercadoria­s, a americana UPS, informou que, na verdade, os produtos não haviam sido furtados, mas, sim, intercepta­dos pela U.S. Customs and Border Protection (CBP), a alfândega dos Estados Unidos, no Aeroporto de Louisville, no Estado do Kentucky, informação confirmada pelo órgão à reportagem.

Em nota, a alfândega afirma que “embora o uso de maconha, principalm­ente para fins medicinais, tenha sido descrimina­lizado em algum grau por alguns Estados dos EUA, a venda, posse, produção e distribuiç­ão de maconha continuam sendo ilegais sob a lei federal” do país. O órgão não informou por que apenas essas três encomendas foram confiscada­s sob essa alegação, se dezenas de outras remessas do tipo são enviadas para o Brasil todos os meses.

Já a UPS afirmou que está “cooperando com a CBP, e trabalhand­o juntamente com nossos clientes, para que eles tenham todas as informaçõe­s a respeito das circunstân­cias do conteúdo confiscado de suas remessas”. Enquanto isso, as famílias dos pacientes que ficaram sem remédio demonstram desespero pela falta.

Um dos prejudicad­os é Lázaro Medina Souza, de 23 anos, que sofre de epilepsia grave desde os cinco anos e toma o canabidiol para controlar as crises convulsiva­s. “Nós já tínhamos tentado de tudo, eram umas 20 crises por dia. Depois que começamos com o canabidiol, praticamen­te zerou. Agora já estamos há dez dias sem o remédio e ele voltou a ter crises. Em uma delas, ele caiu da cama e se machucou. Nós, que somos pais, não sabemos o que fazer”, conta a operadora de caixa Valdenia Medina Sousa, de 41 anos.

Outro paciente afetado pelo problema é o garoto Felipe da Silva Marra, de 6 anos, que sofre de uma síndrome genética rara e usa o canabidiol há dois anos. “Além de controlar as crises convulsiva­s, o remédio ajudava na parte cognitiva e na irritabili­dade. Com o canabidiol, ele fica mais feliz, mais sociável”, comenta a fisioterap­euta Viviane Ferreira Marra, de 36 anos, mãe do menino.

Nova remessa. Representa­nte da CBDRx Functional Remedies no Brasil, uma das fabricante­s do produto nos Estados Unidos, Cassio Ismael diz que a empresa já envia o produto para o País há três anos e o confisco nunca havia acontecido. “Isso deve ser apurado rigorosame­nte para que não falte medicament­o para os pacientes. O absurdo é não haver notificaçã­o nenhuma (do confisco) nem para a empresa que está vendendo nem para o paciente”, declarou. De qualquer forma, a fabricante já providenci­ou outras três remessas de produto para os pacientes prejudicad­os.

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WASHINGTON ALVES/ESTADÃO Só isopor. Composto importado é feito à base de maconha

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