O Estado de S. Paulo

‘O mundo precisa do Brasil de pé’, afirma cartola

Pedido foi feito por Lennart Johansson, sueco que modernizou futebol europeu à frente da Uefa

- Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL / MOSCOU

“O mundo do futebol precisa do Brasil de pé”. O apelo, repleta de ironia por conta de Neymar, é de Lennart Johansson, um dos cartolas que moldou o atual futebol europeu. Ex-presidente da Uefa entre 1990 e 2007, o sueco de 88 anos falou ao Estado sobre a situação do futebol europeu e da realidade brasileira.

Em uma cadeira de rodas e sempre auxiliado por uma acompanhan­te, o ex-dirigente insistiu que não é de interesse do futebol que a seleção brasileira continue fora das grandes decisões. “Em 1958, eu conheci Pelé na Suécia. Desde então, permanecem­os amigos. Vi o desenvolvi­mento do futebol brasileiro e como ele foi importante para moldar o futebol no mundo. É referência e não pode desaparece­r, para o bem do futebol”, disse.

Entre as sugestões que ele dá para os dirigentes brasileiro­s e sul-americanos, o ex-cartola destaca a necessidad­e de montar estruturas profission­ais na gestão do esporte. “Ao trabalho, ao trabalho”, convocou, admitindo que a disparidad­e entre Europa e o resto do mundo já é uma realidade.

Mas Johansson insiste que a América do Sul e o Brasil não podem se esquecer de que contam com os maiores talentos do esporte. “O Brasil precisa voltar às suas raízes, voltar a ver o que lhes tornou tão especiais no mundo. E isso foi a arte.”

Questionad­o sobre Neymar, ele apenas balançou a cabeça e disse. “Queremos o Brasil de pé. Em seus dois pés sobre o campo. O mundo do futebol precisa do Brasil de pé”, disse.

Johansson, porém, foi claro em apontar que foram decisões da Uefa sob sua gestão que deram início a uma transforma­ção do futebol da região. “Criamos a Liga dos Campeões, que se transformo­u no maior torneio de clubes do mundo. O resultado desse modelo foi a chegada de grandes astros de todo o mundo aos clubes europeus. Esses jogadores querem jogar na Liga dos Campeões, que virou uma vitrine para eles no mundo”, disse.

Categorias de base. Outra iniciativa do sueco foi criar um sistema de licenciame­nto de clubes, exigindo que todos os 700 clubes espalhados pela Europa tivessem não apenas um time profission­al, mas pelo menos três categorias de base em pleno funcioname­nto.

“O resultado é que conseguimo­s desenvolve­r o futebol europeu de uma forma ampla, e não apenas concentrad­os em alguns locais”, comemorou. Prova disso, segundo ele, é a diversidad­e de seleções europeias chegando às semifinais da Copa do Mundo. Na Rússia, avançaram Bélgica, França, Croácia e Inglaterra. Desde 2006, o campeão mundo vem da Europa: Itália, Espanha (2010), Alemanha (2014) e França (2018). No próximo Mundial, no Catar, o jejum de seleções da América do Sul será de duas décadas.

Tendo iniciado sua carreira como presidente do AIK Solna, pequeno clube da periferia de Estocolmo, Johansson chegou a ser vice-presidente da Fifa e foi candidato a sucessor do brasileiro João Havelange. Mas, em 1998, perdeu a eleição Joseph Blatter. Após deixar o comando da Uefa, em 2007, o seu sucessor foi Michel Platini.

Lennart Johansson

EX-PRESIDENTE DA UEFA O futebol brasileiro foi importante para moldar o futebol no mundo. É referência e não pode desaparece­r, para o bem do futebol

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EDUARDO NICOLAU / ESTADÃO - 6/7/2018 No chão. Neymar virou motivo de piada pelas quedas durante os jogos da Copa da Rússia

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